quarta-feira, 29 de novembro de 2023

NA CIDADE ONDE JESUS NASCEU, O NATAL FOI CANCELADO

 

Não festejar o Natal precisamente na cidade onde – segundo a tradição cristã – nasceu Jesus? O paradoxo é enorme, mas não tão grande como a tristeza e a dor que pairam nas ruas de Belém, na Cisjordânia, e que se revelam nos semblantes dos poucos que as percorrem. “Belém, como qualquer outra cidade palestiniana, está de luto e triste… Não podemos comemorar enquanto estivermos nesta situação”, afirma Hanna Hanania, presidente da câmara cessante. O município decidiu, assim, cancelar os eventos de Natal e retirar todas as decorações da cidade. Unindo-se ao apelo dos Patriarcas e Líderes das Igrejas em Jerusalém, Hanania pede a todos que se concentrem na oração: “Rezaremos a Deus para que haja paz na terra da paz”.
Assim, a Praça da Manjedoura não terá a habitual árvore de Natal gigante, que no início do Advento atraía milhares de pessoas para assistir à sua iluminação, e as decorações que já se encontravam montadas no centro da cidade estão agora a ser retiradas, como dá conta a jornalista Marinella Bandini, numa reportagem publicada este domingo, 26, pela Catholic News Agency (CNA).
A poucos passos da Basílica da Natividade, as persianas de quase todo o comércio local estão corridas. São, na sua maioria, lojas de souvenirs e artesanato local, que sem peregrinos não têm clientes. Desde o início da guerra, os principais pontos de entrada na cidade foram fechados e a deslocação entre diferentes cidades palestinianas é muito difícil devido aos postos de controlo e às estradas bloqueadas. A produção também parou: não é prudente assumir custos sabendo que a época do Natal – normalmente a mais movimentada na cidade – está perdida. 
Num ano em que se esperava “um pico” de visitantes, particularmente vindos dos Estados Unidos da América, a guerra mudou tudo. Das 15 mil pessoas que trabalhavam no setor do turismo, 12 mil estarão agora desempregadas. “Posso estimar que 90% delas são cristãs”, adianta Majed Ishaq, diretor-geral do departamento de marketing do Ministério do Turismo e Antiguidades da Palestina, à CNA.
Lina Canavati é cristã, mas não trabalha na área do turismo: é assistente social num hospital pediátrico da cidade, e explica que os poucos que chegam ao hospital “não têm dinheiro para pagar”, embora se trate de uma instituição caritativa e as taxas sejam simbólicas. Além disso, acrescenta, “há famílias que vêm pedir apoio financeiro”.
O Natal aproxima-se, assim, “com tristeza, dor e sofrimento”, lamenta Lina. E até mesmo nas famílias que não estão a atravessar dificuldades financeiras, “os pais têm vergonha de comprar presentes para os filhos, quando muitas famílias não conseguem suprir as necessidades básicas deles”.
Contrastando com as ruas quase desertas, a igreja latina de Santa Catarina, ao lado da Basílica da Natividade, tem estado cheia, em sinal de que os apelos dos Patriarcas e Líderes das igrejas em Jerusalém e da presidente da câmara foram ouvidos.


Missa pela paz na Terra Santa, na paróquia latina de Santa Catarina, em Belém, no passado dia 22 de outubro. Foto © Paróquia de Santa Catarina.
 
“Estamos a aproximar-nos do tempo do Advento”, disse à CNA o pároco de Belém, padre Rami Asakrieh. Decidimos concentrar-nos mais no significado do Natal do que em mostrá-lo, pelas roupas ou pelas festas e mercados. Todas essas coisas são lindas, mas não são o verdadeiro significado do Natal”.
Lina acrescenta que, aconteça o que acontecer, os cristãos que vivem na Terra Santa não desistirão de celebrar o nascimento de Jesus Cristo “porque é isso que traz esperança” às suas vidas. “Acredito que o maior presente que Deus nos deu é o dom da esperança e com o Natal alimentamos esta esperança nos nossos corações”. Mesmo no meio de uma guerra que, apesar do cessar fogo vivido por estes dias, não tem fim à vista.

 

 Fonte:setemargens


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IGREJA NO BRASIL SE PREPARA PARA CELEBRAR O JUBILEU DA ESPERANÇA, EM 2025

A Igreja celebrará em 2025 mais um Jubileu ordinário. O Papa Francisco escolheu o tema “Peregrinos da Esperança” e indicou que a preparação para esse momento levasse em conta a oração e o estudo dos documentos do Concílio Vaticano II. Aqui no Brasil, uma equipe de animação foi montada para articular as ações nacionais em relação ao Jubileu 2025.

O arcebispo de Goiânia e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom João Justino de Medeiros Silva, coordena a equipe de animação do Jubileu no país. Para ele, a escolha do tema pelo Papa Francisco representa “uma percepção do quanto a esperança é importante no tempo da história que estamos vivendo”. Ele considera que o estabelecimento desse grupo de animação nacional seja um sinal da acolhida da Igreja do Brasil ao apelo do Papa.

Preparando o Jubileu

“Em razão dessa preparação, haverá o encontro em Brasília com o sub-prefeito do Dicastério para a Nova Evangelização, dom Rino Fisichella. Ele vem de Roma para animar na compreensão do que é o Jubileu 2025 e também trazer sugestões e dialogar conosco a partir das nossas experiências eclesiais”, conta dom João Justino.

 


Para este encontro, que será realizado nos dias 29 e 30 de janeiro de 2024, cada diocese é convocada a enviar no mínimo um representante para momentos de aprofundamento e para que, segundo dom João Justino, “possamos assim, juntos, nessa bela diversidade que compõe tudo que é nacional, pela extensão do Brasil, compormos um projeto, uma programação que valorize todos os setores da vida da Igreja”.

Entre os temas previstos para a reflexão durante o encontro, estão os “Desafios para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”; “O Jubileu na Bíblia” e “Perspectivas para o Jubileu no Brasil”. Já dom Rino Fisichella vai conduzir as reflexões sobre os anseios do Papa Francisco com o Jubileu, “O que vai acontecer no Jubileu” e “Como operacionalizar o Jubileu da Esperança”.

Articulações

Na útlima semana, três encontros foram oportunidades para alavancar as articulações para o Jubileu. Uma reunião virtual que colocou à mesa a Assessoria de Comunicação da CNBB, a Pastoral da Comunicação nacional (Pascom Brasil) e a associação católica de comunicação Signis Brasil foi ocasião para pensar iniciativas de divulgação do Jubileu.

Durante a reunião do Conselho Permanente, os bispos deram sugestões de iniciativas que podem ser promovidas em âmbito nacional de modo a favorecer a participação de todos os fiéis, especialmente nas iniciativas de oração e peregrinações. Também a reunião do Grupo de Assessores foi momento de recolher indicações para a equipe de trabalho.

2024: Ano de Oração​

– As dioceses são convidadas a promover a centralidade da oração individual e comunitária, propondo peregrinações e percursos ou escolas de oração que envolvam todo o povo de Deus. ​

Propostas da Equipe Nacional​

– Videoaulas sobre os Cadernos do Concílio em parceria com o Regional Sul 2; ​
– Elaboração de uma cartilha para compreender o Jubileu 2025; ​
– Lives de divulgação dos Cadernos do Concílio; ​
– Envolver as TVs de inspiração católica nas iniciativas sobre a oração; ​
– Recuperar as iniciativas de oração já motivadas pelas dioceses e regionais; ​
– Símbolo concreto para algum tipo de peregrinação.

Fonte:cnbb.org.br 


 

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sábado, 18 de novembro de 2023

TOLENTINO MENDONÇA: A COZINHA É MAIS ESPIRITUAL DO QUE SE PENSA

Sentados à mesa de Deus. Assim se reúnem os fiéis para celebrar a fé e a religião. Com base nessa premissa, Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti escreveu A Mesa de Deus. Os Alimentos da Bíblia, que pretende registar todas as referências sobre os alimentos, a cozinha, a refeição, o prazer e a dádiva da comida que aparecem no Antigo e no Novo Testamento. O livro foi apresentado pelo jornalista Francisco José Viegas na última  quinta-feira, 9 de novembro, as 18h30, no Grémio Literário, em Lisboa.
O livro pretende ainda estudar os hábitos alimentares nos tempos bíblicos: o que se comia, como se comia, como se preparavam os alimentos e que regras e interditos foram sendo formulados e aceites ao longo do tempo.
Pão, vinho, vinagre, azeite, mel, sal, leite e derivados, água, assim como ervas e especiarias, cereais, leguminosas, arbustos e árvores são ingredientes desta obra, nascida de uma conversa da autora, jornalista e crítica gastronómica, com o então padre, hoje cardeal José Tolentino Mendonça, que assina o prefácio, cujo texto o 7MARGENS reproduz a seguir.
Entrar na Bíblia pela porta da cozinha
Texto de José Tolentino Mendonça
 Caravaggio, A Ceia em Emaús (1601): “Num primeiro relance, poderá parecer estranho um livro que se ocupa dos alimentos e da cozinha da Bíblia: não é essa a entrada de acesso principal, diríamos todos..” National Gallery Londres
Na arquitetura de muitas casas há duas portas: aquela principal, a mais utilizada, por onde circulam os hóspedes com quem fazemos cerimónia; e a porta de serviço que, normalmente, dá acesso direto à cozinha, por onde passam apenas aquelas pessoas que têm grande familiaridade com a casa. Num primeiro relance, poderá parecer estranho um livro que se ocupa dos alimentos e da cozinha da Bíblia: não é essa a entrada de acesso principal, diríamos todos. A verdade é que sendo, incontestavelmente, o livro mais conhecido e frequentado do mundo, uma parte significativa dos seus leitores ainda faz muita cerimónia. Isto é, ainda não se aventurou numa imersão total na Escritura como, aliás, a própria Bíblia reclama que façamos. O ingresso da cozinha está reservado para quem adquiriu uma familiaridade completa com a casa, e o mesmo exemplo podemos aplicar ao Livro dos Livros. Não é, por acaso, que para construir este fascinante volume, Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti precisou de mais de uma década. É que a cozinha requer um pacto estreito de relação que não se improvisa, que não se concretiza de imediato, mas reclama lentidão, frequência, disponibilidade, acompanhamento minucioso, escuta em profundidade, quotidiano partilhado. A leitura tem de se tornar recorrente, detalhada e íntima para que se confunda com a existência doméstica, para que respire dentro dela. O doméstico não é menos: é mais! É preciso colar-se à letra do livro, pele com pele, valorizá-lo com aquela atenção intransigente, humilde e interminável que nos dá o amor, fazer-se invisível, olhar para o livro em horas diferentes e de angulações diversas, quedar-se a olhar para ele no escuro, contemplá-lo de forma gratuita, silenciosa, enamorada, sem porquê. A cozinha não tem a pretensão de representar o mais importante e, ainda menos, a totalidade. A cozinha é um aspecto da casa. A sua grandeza vem de se colocar ao serviço, está na arte de secundar. Inesquecível e elegante arte, devemos dizer. Este livro não compete com os dicionários, as concordâncias, os comentários que fazem habitualmente a riqueza da biblioteca que suporta a hermenêutica bíblica. Junta-se a eles como mais um instrumento, como assessoria necessária, como mapa para o prazer de ler. A interpretação deve tornar-se sempre mais polifónica ou poliédrica para respeitar, para aceder à natureza polissêmica da vida espelhada no texto sacro. Este livro participa desse esforço coral de pesquisa.
Pensar uma casa a partir da cozinha em nada atenta contra a sua natureza sagrada. Pelo contrário: há uma compreensão que se abre para aquilo que uma casa significa, como se assim tocássemos o seu segredo. Declarar, por exemplo, que uma cozinha garante a vida material, expressa pouco sobre a função real da cozinha, pois refere simplesmente (ou preguiçosamente) o óbvio. A cozinha é, numa casa, um motor da vida espiritual. Quem não descobriu isso, não descobriu o significado antropológico da comida e o instrumento de humanização que a mesa representa. Sim, uma mesa não é só uma mesa. Também por isso, para os leitores da Bíblia, o livro de Maria Lecticia oferecerá estratos complementares de conhecimento: constitui uma espécie de micro-história da Bíblia; representa um útil mapeamento cultural dos mundos e dos atores bíblicos; permite-nos uma viagem pelas formas objetivas de vida e suas tradições; dá-nos uma ideia dos produtos acessíveis, do impacto do clima, do tipo de economia; enumera para nós os saberes que transparecem na fabricação; abre-nos a janela para a sociologia das suas gentes; faz-nos participantes dos rituais religiosos, do conteúdo do espaço familiar, da hierarquia e da versatilidade das relações. Mas, ao mesmo tempo, é um livro de espiritualidade bíblica, um compêndio de exegese, uma refeição da Palavra. Não é apenas um ensaio exaustivo sobre a mesa bíblica: é um convite a entrar, um abrir da mesa, uma coreografia de odores, uma prática do saborear.

Pieter Aertsen, Cristo com Maria e Marta: “A cozinha é uma máquina de suscitar desejo. Não nos devemos admirar que uma das últimas palavras de Jesus tenha sido: «Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco», associando sabiamente a refeição ao desejo.” 
Lembro-me do conselho que repetia o teólogo e pedagogo Rubem Alves: que antes de iniciarem o itinerário de aprendizagem, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Nesse lugar compreendemos que os banquetes não têm início com a comida que se serve. Eles começam, sim, com a fome. O verdadeiro cozinheiro deve dominar, antes de tudo, a arte de produzir fome… Isso que o verso de Adélia Prado testemunha como um mantra exato: «Não quero faca nem queijo; quero é fome». Que é como quem diz: quero a tarefa primeira que é acender o desejo. A cozinha é uma máquina de suscitar desejo. Não nos devemos admirar que uma das últimas palavras de Jesus tenha sido: «Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco» (Lc 22,15), associando sabiamente a refeição ao desejo. Se cada um de nós pensar na sua autobiografia alimentar é precisamente isso que constata. E tal pode ser estendido ao desenvolvimento da espécie humana: a cozinha tornou-nos desiderantes, sonhadores, criativos. Segundo Richard Wrangham, primatologista da Universidade de Harvard, foi o aparecimento da cozinha a permitir aos nossos antepassados triplicar as dimensões do cérebro. Ele não hesita em dizer que, «abrindo estrada à expansão do cérebro humano, a cozinha tornou possíveis resultados cerebrais como a pintura nas cavernas, a composição das grandes sinfonias ou a invenção da Internet». A cozinha e a mesa não reduzem o mundo: ampliam-no surpreendentemente.
Na emblemática obra intitulada O cru e o cozido, o antropólogo Claude Lévi-Strauss debruça-se sobre alguns mitos amazónicos que descrevem a origem da cozinha, e aí fica claro como esta é um motivo humano fundamental. O cru representa o estado natural, quando o homem recolector se alimentava apenas daquilo que encontrava acessível em torno a si. O cozido é um salto civilizacional extraordinário, representa uma das transições antropológicas vertiginosas, nada menos do que a passagem da natureza para a cultura. De facto, não se trata apenas de um passo grandioso na história da autonomização da nossa espécie. A mesa documenta, para lá da maturação do dado biológico, a emergência do simbólico. Há um conhecimento tipicamente humano que passa pela cozinha e só através dela se decifra.
Para quem quiser ver, a alimentação é um tema particularmente denso, onde avultam e se colhem alguns dos códigos mais intrínsecos das culturas. A mesa é um poderoso sistema simbólico, um observatório de práticas essenciais de sentido. Os antropólogos insistem que se entendermos como se desenvolve uma refeição, ficamos na posse da estrutura interna, dos valores e hierarquias do grupos humano nela envolvido. Quando se chega a perceber o conteúdo e a lógica da alimentação, a ordem que regula a cozinha e a mesa (o que se come, como se come, com quem se come, o significado dos diversos lugares e funções à mesa…), alcança-se um saber antropológico determinante, dos outros e de nós próprios. Maria Lecticia escreveu este livro também para que nos pudéssemos ler.
Por outro lado, se atendermos à massa impressionante de prescrições culinárias presentes na Bíblia, não nos parecerá despropositado e excêntrico que se fale de uma autêntica teologia alimentar ou se identifique no texto sagrado judaico e cristão um esplêndido catálogo de receitas. De fato, a revelação bíblica também se apreende comendo. E a sua leitura constitui também uma maravilhosa iniciação aos sabores. As escolhas alimentares fundamentaram a sua identidade cultural e religiosa. Como hoje sedimentam a nossa.
De certeza que a escrita deste livro alterou a percepção que a sua autora tinha da Bíblia, e poderá alterar a dos leitores. Mas no melhor dos sentidos. Tornando de casa o leitor, ajudando-o a perceber a articulação entre saber e sabor, convocando-o para uma familiaridade com este texto inesgotável, desconstruindo o automatismo das leituras abstratas e gnósticas que olham para a Bíblia como um livro de verdades, onde a letra é relativizada e desconhecida. Tudo conta, afinal, no processo de revelação. Mesmo aquilo que parece circunstancial ou que considerámos de forma apressada um décor narrativo. Ainda bem que a narratologia contemporânea recorda que o relato tem uma economia coerente que se pode resumir assim: todos os elementos que surgem na narrativa são significativos para a construção do seu sentido. A torrente de passagens bíblicas referentes a alimentos e à mesa que Maria Lecticia Cavalcanti, com mão informada, com mão pacientíssima e brilhante, aqui revisita não são, portanto, uma marginalia destinada a ser etiquetada sob a categoria de «curiosidades ociosas». Entrar na Bíblia pela porta da cozinha é um argumento mais sério do que se possa supor. E também mais espiritual. O título escolhido para esta obra está certo. E o livro dá a provar o que promete. Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti oferece-nos aqui uma daquelas experiências que não vamos querer esquecer.
Fonte: setemargens

 


 

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DOM ZANONI: AS ESPERANÇAS DO POVO NEGRO

Povo Negro

Dom Zanoni explica que o Dia Nacional da Consciência Negra é um momento forte de reflexão, que ajuda a sociedade a compreender que a maioria do povo brasileiro é afro descendente.
Rosa Martins – Vatican News
“A Igreja não poder ficar alheia às dores e esperanças do povo negro”: a expressão é do bispo referencial da Pastoral Afro-brasileira e arcebispo de Feira de Santana, na Bahia, dom Zanoni Demettino Castro, durante entrevista concedida à Rádio Vaticano - Vatican News, por ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra que se comemora nesta segunda-feira, 20 de novembro.
A data é para a comunidade negra, uma ocasião para fazer memória do ícone da luta contra a escravidão da população negra, Zumbi dos Palmares. “A escravidão é um crime que lesa a humanidade, que precisa ser urgentemente reparado. O Dia da Consciência Negra é um momento de celebração, uma oportunidade de reflexão, um tempo de graça, um grande Kairós de Deus”, enfatiza o bispo.
Dom Zanoni com mulheres negras.
Dom Zanoni explica que o Dia Nacional da Consciência Negra é um momento forte de reflexão, que ajuda a sociedade a compreender que a maioria do povo brasileiro é afrodescendente. Uma ocasião para fortalecer a valorização das culturas dos povos africanos, conhecer a riqueza da sua origem, da sua tradição, a beleza dos seus valores. “Um momento de busca, de procura, de termos presente quem somos, qual é, de fato, a nossa identidade”.
A Igreja não pode ficar indiferente às dores e às esperanças deste povo”
Chamada a evangelizar, a Igreja assume a missão de Jesus de ser uma boa notícia aos pobres, anunciar a libertação dos cativos, o ano da graça do Senhor. Por isso, a Igreja se pergunta como ser fiel ao mandato evangelizador do Mestre Jesus, ‘Ide pelo mundo, anunciai o Evangelho a todas as criaturas’, tendo presente que a maioria absoluta do nosso povo é afrodescendente, como evangelizar. O caminho evangelizador tem que ter presente a raiz, a cultura, a história, as alegrias, as dores, os sofrimentos. Conhecer as riquezas, os valores da tradição africana presente no nosso povo, na nossa gente. “Isto quer dizer, anunciar os valores do Evangelho, compreendendo que o grande protagonista, os negros, nessa missão evangelizadora não podem ser apenas destinatários, mas devem ser sujeitos da construção de um mundo de paz, na comunidade daqueles que acreditam em Jesus”, enfatiza o prelado.
Bispos negros.
A Pastoral Afro-brasileira, neste contexto exerce uma missão mais ampliada, de caráter transversal, para além de um grupo, um movimento. É uma ação evangelizadora que age em toda a Igreja. “Somos chamados a iniciar os nossos líderes e agentes de pastoral num processo de evangelização, onde a causa, a vida e a realidade do negro não fiquem à margem".
Consciência Negra
Sobre a comemoração da data da, “Consciência Negra”, o arcebispo trouxe à tona as razões da importância deste dia: os afrodescendentes têm sua história atravessada por exclusões, o que também foi ratificado no Documento de Aparecida. "O racismo estrutural atinge pesadamente o povo negro, o qual precisa ser resgatado, libertado, dignificado. Este povo deve ser o protagonista desta realidade nova e esse é o desafio que deve ser enfrentado. As consequências dos 300 anos de escravidão devem ser reparadas e esse é o nosso empenho.
Padres negros.
Consciência Negra quer dizer que devemos ter consciência da nossa cultura, da nossa origem, da nossa realidade, mas também, ter presente o nosso propósito, a nossa luta, a nossa resistência”, afirma dom Zanoni.
A Consciência negra é um processo
O dia 20 de novembro é uma data em que o povo negro faz memória da luta de Zumbi dos Palmares, ícone da luta, do empenho, da libertação, mas também, recorda tantos homens e mulheres que se empenharam, se dedicaram, e foram martirizados por esta causa. Movimentos, ações, iniciativas, ações afirmativas, lei de quotas, compromissos, empenhos de tantos homens e mulheres vão gestando uma nova sociedade. “A consciência negra não é uma realidade pronta, mas um processo de construção, de fortalecimento que vai se realizando, sendo plasmado em nossas comunidades, grupos, movimentos, mas sobretudo em cada pessoa humana, cada homem e cada mulher”.
Uma realidade atravessada pela exclusão social e econômica”
A desigualdade no Brasil pesa, sobretudo, sobre o povo negro, com consequências drásticas como a exterminação da juventude, segundo o arcebispo, um verdadeiro holocausto, provocado pela guerra do tráfico que tem exterminado, matado a nossa juventude da periferia, sobretudo a juventude negra. “Se vamos às prisões, são os negros que são a maioria dos encarcerados: a situação de pobreza, de miséria, de dificuldade que vive o povo brasileiro, atinge, sobremaneira o povo negro. Por isso, essa realidade precisa ser mudada, transformada. O povo negro precisa ser resgatado na sua dignidade”, conclui.

 Fonte: Vatican News


 

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5º CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL APONTA PISTAS PARA AMPLIAR AÇÃO MISSIONÁRIA DA IGREJA NO BRASIL

O 5º Congresso Missionário Nacional foi concluído nesta quarta-feira, 15 de novembro. O evento, realizado em Manaus (AM), desde o dia 10, reuniu cerca de 800 participantes, com representações de todas as regiões do Brasil. Inspirados pelo tema “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” e pelo lema bíblico partilhado com o 3º Ano Vocacional, “Corações ardentes, pés a caminho”, os missionários divulgaram ao final do evento uma carta compromisso. No texto, apontam pistas para ampliar e dinamizar as prioridades do Programa Missionário Nacional.
“Queremos, como os discípulos de Emaús, continuar tecendo caminhos de busca, de escuta e de transformação para que o Ressuscitado abra os nossos olhos, converta os nossos corações e nos impulsione para a missão permanente. Somos inspirados a reconhecê-Lo no cotidiano dos povos, em suas sabedorias, suas culturas, seus ritos, seus territórios e suas histórias”, escreveram.
Também na carta, os participantes refletiram sobre a identidade missionária da Igreja, que é nutrida e sustentada pela missão. “Uma missão fundamentada no diálogo recíproco, que possibilita incluir o estranho, as periferias, entrar na casa dos pobres, escutar seus clamores, sem preconceito, crítica, arrogância ou rejeição, desde a lógica diferente de Deus. Uma missão que inclui a todos, e que gera espaços de escuta e comunhão”.
Programa Missionário Nacional
O Congresso foi oportunidade para refletir e aprofundar o conteúdo do Programa Missionário Nacional (PMN). Na carta, os participantes reafirmam a relevância e a atualidade do documento cujo processo de construção iniciou no 4º Congresso Missionário Nacional, em Recife, no ano de 2017.
O PMN definiu quatro prioridades para a ação missionária da Igreja no Brasil: formação missionária, animação missionária, missão Ad Gentes e compromisso profético-social. Para cada uma dessas prioridades, foram indicadas na carta pistas para ampliação e dinamização.
Leia a carta compromisso na íntegra. 
Frutos
É na perspectiva das prioridades do PMN que devem surgir os frutos deste 5º Congresso Missionário Nacional. A diretora das Pontifícias Obras Missionárias, irmã Regina da Costa Pedro, quer que o Congresso “contribua na revitalização do Programa Missionário Nacional, ajudando a gerar diretrizes missionárias para a Igreja no Brasil. Que ele ofereça pistas para que as POM possam realizar seu serviço de ajudar cada Igreja local a ser missão a partir do seu território e até os confins da terra”.
Em sua conferência, a religiosa confiou estes sonhos “à ação criadora e recriadora do Espírito e à intercessão de Maria, Mãe Missionária, para que se tornem realidade na caminhada de conversão missionária da Igreja peregrina em terras brasileiras”.


Congresso
Participaram do Congresso 800 pessoas, das quais: 40 bispos, 150 consagrados e consagradas, 110 presbíteros, 10 diáconos, 30 seminaristas, 300 leigos e leigas, representantes de povos originários e 200 voluntários e voluntárias das equipes de Manaus.
A cada dia, foi foram desenvolvidas conferências e painéis temáticos. Também foram realizadas oficinas e promovidos momentos de reflexão e debates em grupos. Os participantes ainda vivenciaram a realidade local, com recepções e atividades nas comunidades paroquiais da arquidiocese de Manaus. No último domingo, a Romaria dos Mártires foi momento marcante na programação do congresso.



Foto: Victória Holzbach/CNBB Sul 3
Com informações e fotos das Pontifícias Obras Missionárias

 


 

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QUAIS SÃO AS TUAS DORES?

Sabes o que te faz sofrer? Sabes por que razão isso te magoa? Sabes que é possível dar sentido a uma dor?
Há quem tenha muitas dores e não as saiba identificar, talvez porque isso implicaria olhá-las nos olhos ou talvez porque às vezes as dores juntam-se e formam novas formas de dor às quais é difícil reconhecer ou dar nome.
Uma dor que se esconde de nós ou da qual nós nos tentamos esconder acaba por doer ainda mais. A solidão é um fermento potente de dores. Pode engrandecê-las até a um ponto próximo do insuportável.
Seria bom que vivêssemos num mundo onde todos nós tivéssemos com quem falar sobre aquilo que nos faz sofrer, sendo também, cada um de nós, capaz de escutar, e assim aliviar, as dores do próximo.
Mas hoje reina a lógica de uma estranha verdade: como só é considerado bom partilhar as partes boas da existência, as redes sociais enchem-se de realidades que, não sendo falsas, são apenas metade da verdade, fazendo com que quem sofre julgue que as suas dores são as únicas que conhece… e, portanto, que se deve isolar ainda mais, a fim de não estragar a felicidade dos outros.
Todos sofremos, mais ainda porque o escondemos até de nós mesmos, e como ninguém pode mudar o que não aceita, fica na mesma ou piora.
Se as dores morrem ou apenas adormecem, para algum dia acordarem de novo, é um mistério.
Amar implica sofrer. As maiores dores têm, quase sempre, uma estreita relação com o que cada um de nós tem de mais nobre no seu coração. Se alguém não quiser sofrer, então não pode amar. Haverá algo de bom que não tenha sido criado sem dor?
Quem és tu? Quais são as tuas dores? Só te conheces depois de teres passado pelos vales do sofrimento.
As dores são lições sem palavras, para quem as quer aprender. Mestres que escavam em nós, tornando-nos cada vez mais profundos. E a morada das nossas grandes dores é sempre no mais fundo de nós, sendo que aquilo que nos pode curar e salvar habita por baixo desse chão.
José Luis Nunes Martins
  Fonte:  imissio.net 


 

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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

ORDENAÇÃO PRESBITERAL NA DIOCESE DE VIANA NO MARANHÃO

A Diocese de Viana. MA tem a honra de convidar você e sua família para participarem desse momento especial que será realizado no próximo sábado, às 18h30, na Igreja Matriz Santo Antônio em Santa Inês.MA. Na ocasião os diáconos Aldeanes de Souza Gomes, Danrlley Ferreira Araújo e Werbeson Costa serão ordenados presbíteros para o serviço da Igreja.
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