A civilização está dominada por extremismos de todo tipo, que se manifestam
em contextos diversos – do universo religioso ao mundo da política, da cultura
às pessoas. Os extremismos revelam que a sociedade sofre com sério
desequilíbrio. Isso exige todo o empenho analítico de especialistas para que
sejam alcançadas indispensáveis práticas educativas, capazes de qualificar as
relações sociais e humanitárias. Afinal, não se pode justificar o
radicalismo com o argumento de fidelidade a algo ou alguém, perdendo, assim, a
competência de enxergar para além do “próprio quadrado”.
Causas nobres, enraizadas em princípios com profunda significação, têm se
transformado em dinâmicas perigosas, radicais, que comprometem a paz e a
solidariedade fraterna. Quando se radicaliza as posturas, o outro que não
partilha as mesmas convicções, vira adversário, verdadeiro inimigo a ser
combatido. Uma situação que faz surgir o terrorismo, a violência de todo tipo,
a indiferença, a busca por ideologias políticas que já perderam o sentido e as
disputas mesquinhas. Em segundo plano fica a solidariedade, particularmente
para com os pobres – ganhando força uma dinâmica que retarda avanços
humanitários, mesmo com tantos recursos tecnológicos disponíveis.
Os extremismos, portanto, precisam ser cada vez mais compreendidos e
tratados a partir de estudos filosóficos, sociais e antropológicos, com a
colaboração de outros campos do saber. Todos devem “abrir os olhos” e
reconhecer a gravidade desse fenômeno, urgentemente, pois os radicalismos,
quando ignorados, tornam-se mais difíceis de serem combatidos. Por isso mesmo,
são necessários investimentos, não somente em estudos e pesquisas, mas
especialmente na partilha do conhecimento, para ajudar a tecer nova consciência
social.
Os radicalismos agravam os problemas de segurança pública, acentuam o
desrespeito à integridade de cada pessoa na sua dignidade, contribuem para a
expansão da miséria e da exclusão, que geram, entre outras consequências, as
migrações de povos. Os extremismos são um fenômeno de alcance global, mas que
deve ser compreendido também a partir de suas manifestações nas situações
cotidianas, na conduta de indivíduos. Assim é possível tecer novas dinâmicas
capazes de transformar as atitudes do dia a dia que, atualmente, inviabilizam
uma sociedade justa e solidária. Dos amplos e profundos estudos às
transformações na postura de cidadãos, eis o desafiador caminho para vencer os
extremismos. Isso porque a velocidade na disseminação das informações, com a
profusão de conteúdos diversos, a partir das redes digitais e meios de
comunicação, contribui para que a humanidade desaprenda a enxergar sentido nas
coisas.
A sociedade contemporânea produz gente “antenada”, em busca das
informações, com facilidade para lidar com tecnologias e, no entanto, ao mesmo
tempo, indivíduos pouco habilidosos quando avaliados a partir das perspectivas
humana e espiritual. E os que não dominam essas habilidades, correm sempre o
risco de considerarem muito importante fazer de tudo para proteger o que é
pouco significativo.
Além de tornar-se normal sacrificar o mais importante para preservar o que
é secundário, há uma incapacidade na compreensão do outro. Percebe-se um
enrijecimento que atrapalha a consideração de diferentes perspectivas, o
entendimento mais amplo da história. Ao mesmo tempo, tudo é submetido a
julgamentos a partir de critérios subjetivos altamente prejudiciais. Sem
conseguir ir além das próprias convicções e vontades, indivíduos se fecham para
situações que poderiam ajudá-lo a evoluir, inclusive contribuir para a sua
abertura ao exercício da generosidade e da gratidão. Também por isso, a
sociedade, saturada de extremismos, não consegue estabelecer dinâmicas de
reconciliação.
Urge a reconquista de equilíbrios, o que inclui a recuperação do autêntico
sentido das diferentes causas e das práticas religiosas. A vitória sobre os
fanatismos envolve superar a convicção de que o próprio ponto de vista é a
bandeira única da humanidade. Eis um passo fundamental para superar os
extremismos e garantir mais fraternidade às relações sociais.
Fonte: CNBB
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