segunda-feira, 28 de maio de 2018
TEM GENTE BRINCANDO COM FOGO AO PEDIR INTERVENÇÃO MILITAR
Os pedidos de intervenção militar
que se multiplicaram pelo Brasil desde o início da greve dos caminhoneiros
revelam o outro lado de um movimento que começou como protesto contra o aumento
do preço do diesel. Trata-se de uma mistura de indignação “com tudo que está
aí”, como em 2013, com a fantasia de que todos os problemas do país seriam
resolvidos se os militares retornassem ao poder. Esquecem os pregadores do
golpe que no regime vigente de 1964 a 1985 esse tipo de protesto não era
permitido. Se alguém tentasse, seria contido pela força dos tanques.
Os civis que se plantam às portas
dos quartéis pedindo intervenção ignoram que boa parte dos problemas do Brasil,
inclusive a dependência absoluta do transporte rodoviário, começou com
Juscelino Kubitschek e se consolidou com os governos militares. Esquecem, ou
nunca se interessaram em saber, quantos bilhões foram gastos na Transamazônica,
para deleite dessas mesmas empreiteiras cujos métodos corruptos se tornaram
conhecidos na Lava-Jato.
Nos protestos de 2013, que
começaram com o aumento da passagem de ônibus, os alvos eram múltiplos. Não era
pelos 20 centavos. Os brasileiros foram para a rua protestar contra tudo e
todos – os políticos em primeiro lugar. O esvaziamento começou quando os
blackblocs assumiram o protagonismo e passaram a promover atos de violência,
com depredação de prédios públicos e privados.
As manifestações voltaram em 2015
com um foco definido: a queda da presidente Dilma Rousseff, reeleita em votação
apertada no final de outubro de 2014. Dilma caiu em maio de 2016, mas o governo
que a sucedeu não fez nada do que prometera. Vieram a público os esquemas de
corrupção envolvendo Temer e seus ministros, fazendo crescer a ira da
população. Hoje, a impopularidade do presidente supera a de Dilma às vésperas
do impeachment.
Encastelados nos palácios de
Brasília (Planalto, Jaburu e Alvorada), com um serviço de inteligência que não
merece esse nome, os homens do presidente não perceberam o nascimento da greve
que parou o país e provocou a pane seca. A falta de combustíveis, somada com a
greve dos caminhoneiros autônomos e o locaute das empresas – agora mais claro
do que nunca – afeta praticamente todos os setores, com risco de agravamento
nos próximos dias e prejuízos bilionários que podem resultar na volta da
inflação alta e no agravamento do desemprego.
Tem gente brincando com fogo sem
perceber o risco de incendiar o país. Com o fracasso da nova negociação do
governo com os caminhoneiros, a greve continua. Para manter os serviços
essenciais, as polícias estaduais começaram a escoltar caminhões de combustível
no fim de semana. O problema é que faltam motoristas e o transporte de
combustível exige profissionais especializados na operação de descarga.
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