Serão pouco mais de 2.906
quilômetros do sertão de Pernambuco até a capital paranaense em trajeto
iniciado dia 27 de julho que se estende até 05 de agosto. A ideia de
cruzar o país para denunciar a iminente volta do Brasil ao Mapa da Fome da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) se dá
devido ao desmonte de políticas públicas sociais que afetam a segurança
alimentar dos povos do Semiárido.
Para dom Enemésio Ângelo Lazzaris, bispo de Balsas (MA), a
ameaça de o Brasil voltar ao mapa da fome da FAO se situa dentro de um contexto
geral do desmonte dos direitos sociais e humanos no Brasil. “Estamos numa
escalada muito forte contra os direitos adquiridos desde o processo da
Constituinte de 1988”, afirmou.
Direitos adquiridos nos últimos governos federais, como moradia
e acesso à alimentação, estão sendo retirados pelo atual governo federal,
avalia o religioso. “No nosso sistema, os direitos dos pequenos estão sendo
tolhidos e as poucas conquistas estão sendo retiradas”, disse. Em função disto,
o bispo avalia que um número grande pessoas que haviam superado a pobreza
infelizmente está sendo ameaçada novamente pela carestia.
Cerca de 90 pessoas sairão no dia 27 de julho de Caetés (PE) e
seguirão em dois ônibus para Curitiba (PR). A Caravana terá paradas
estratégicas em Feira de Santana (BA), Montes Claros (MG) e Guararema (SP), até
a chegada ao Paraná no dia 02 de agosto. No percurso de volta, o grupo tem uma
parada em Brasília, no dia 05, com o objetivo de pautar o tema no Supremo Tribunal
Federal (STF).
A redução de pessoas subalimentadas no país é uma conquista
recente. Isso porque as ações que contribuíram com a saída do Brasil do Mapa da
Fome, no ano de 2014, foram iniciadas com a criação do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em 2003, aliado à garantia de
crédito, acesso à água potável – por meio da implantação de tecnologias como as
cisternas de placas – e renda, a exemplo do Bolsa-Família.
Entretanto, menos de 4 anos depois do Brasil celebrar a saída do
Mapa da Fome, esse fantasma volta a rondar as populações carentes do campo e da
cidade em todo o país, e no Semiárido, região marcada historicamente pela
miséria e ausência de políticas públicas, a situação se acentua por conta da
redução de investimentos nas políticas sociais e de convivência com a região.
“A Caravana dos povos do Semiárido contra a fome tem como
objetivo chamar atenção da sociedade brasileira sobre os riscos da volta da
fome para a população mais pobre do Brasil. Considerando que o Semiárido e o
Nordeste sempre tiveram os maiores índices de fome da história do Brasil – por
ser a maior área rural do país e uma ausência da ação do Estado por muitos
anos. Queremos chamar atenção da sociedade sobre esse período que vivemos na
história, os avanços e conquistas que tivemos com políticas sociais que
priorizaram recursos de atendimento da população mais pobre, especialmente a
população rural”, explica o coordenador executivo da Articulação Semiárido
Brasileiro (ASA), Alexandre Pires.
A iniciativa dos movimentos, redes e organizações do campo
Popular e democrático do Semiárido, contará com momentos de debate em
universidades, atos públicos e ações de agitação e propaganda. “Na medida em
que as organizações da ASA se propõem a realizar uma caravana como esta, ela
sai com três grandes objetivos: o primeiro debater a situação política do
Brasil; o segundo fazer uma denúncia muito clara sobre o tema da fome, e, por
fim, a defesa da democracia. Vai ser um momento muito rico e acredito que à
medida que ela [a caravana] for passando e debatendo com a militância ela vai
ganhar nome, e vai obrigar os candidatos a falar sobre o assunto”, salienta o
membro da coordenação nacional do MST, João Paulo Rodrigues.
Dados – Com a
política de cortes do Governo Federal, chegamos à expressiva e preocupante
exclusão de 1,1 milhão de famílias do Programa Bolsa Família, cerca de 4,3
milhões de pessoas, em sua maioria crianças. Além disso, houve cortes nos
investimentos para ações que garantem a segurança alimentar e nutricional das
populações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA). Para completar, o número de desempregados vem
aumentando exponencialmente.
Em março deste ano, especialistas e pesquisadoras que
participaram da aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
Arouca (ENSP/Fiocruz) avaliaram que de 2014 a 2016 o número de pessoas em
extrema pobreza no Brasil saltou de pouco mais de 5.162 milhões para quase 10
milhões, o que ratifica o risco de o país retroceder na missão de erradicar a
pobreza. Os números só não foram piores porque as regiões Norte e Nordeste, que
historicamente abrigavam as populações mais carentes, conseguiram manter um
equilíbrio, graças aos investimentos recebidos por meio de ações como o
Programa de Cisternas, Bolsa-Família, Seguro-Safra e aposentadoria rural.
Pensando nisso, o percurso da Caravana do Semiárido contra a
Fome contará com paradas estratégicas em municípios da Bahia, Minas Gerais, Rio
de Janeiro e São Paulo a fim de sensibilizar as populações para o problema da
má-nutrição e a redução das políticas públicas sociais. “Com a mudança das
prioridades do Governo atual, de aplicação dos recursos, vemos voltar uma
situação de fome e miséria. Então, as paradas que devem ocorrer têm como
objetivo chamar a população para refletir e mobilizar a sociedade para estar
atenta a essa situação que se agrava. Esse é o sentido de mobilizar estudantes,
movimentos sociais e urbanos, juventudes”, explica Pires.
Fonte:
CNBB
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