sexta-feira, 10 de agosto de 2018
DOM DARCI NICIOLI: “QUEM MENTE PARA CONQUISTAR O VOTO NÃO MERECE UMA VITÓRIA ELEITORAL”
Dom
Darci José Nicioli, arcebispo de Diamantina (MG), presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para a Comunicação considera que “quem mente para conquistar o
voto não merece uma vitória eleitoral e pode levar a mentira para o que se
propõe a realizar como governante“.
Ele
concedeu entrevista exclusiva ao Portal da CNBB. Confira.
A campanha eleitoral já está em curso e a Igreja tem insistido na
importância desse tempo para que cada cidadão aprofunde o discernimento sobre o
voto. As chamadas “fake News” complicam essa tarefa?
As
notícias falsas confundem, espalham maus sentimentos e podem levar ao poder
pessoas que não merecem o nosso voto. Quando uma pessoa mente para alcançar um
objetivo, ela está completamente desqualificada para exercer uma função
pública. Em uma palavra: quem mente para conquistar o voto não merece uma
vitória eleitoral e pode levar a mentira para o que se propõe a realizar como
governante.
A
mentira é filha do Diabo. Não existe mentira leve, light, boa. Quando uma
pessoa acha que uma mentira não é prejudicial, na verdade, ela está dando um
nome errado para algo que não é mentira. Faltar com a verdade é sempre um problema
grave. E, num ambiente como este do período eleitoral, é preciso que todos nós
nos renovemos no combate a qualquer tipo de mentira.
A
trincheira que podemos ocupar para lutar contra a mentira se encontra no
coração de cada um de nós, no seio da nossa família, nos espaços da nossa
comunidade. Nesses lugares, cabe sempre algumas perguntas muito importantes:
isso é verdade? De onde saiu esse tipo de notícia? Quem apurou para saber se o
que está sendo dito realmente procede? Não se pode ir engolindo tudo.
Coincidentemente, Papa Francisco falou exatamente disso na
mensagem que dirigiu aos comunicadores do mundo inteiro este ano. O que o
senhor considera essencial no que ele afirmou naquele documento?
Antes
de falar do conteúdo, é importante falar do testemunho do Papa Francisco. Ele
tem sido um exemplo vivo de uma comunicação transparente, comprometida com a
verdade. Todos os dias, encontramos uma mensagem nova vinda da parte dele em
alguma de suas atividades. Uma homilia, um discurso, uma entrevista, uma mensagem.
Todas essas ocasiões tem se tornado uma oportunidade para que ele nos diga algo
positivo e que nos incentiva na busca de uma vida melhor para todos, nesse
mundo tão machucado dos nossos dias.
Na
mensagem deste ano, Papa Francisco nos convocou para uma cotidiana busca da
verdade. Notícia falsa só ganha espaço na vida de quem não se compromete nessa
luta. O Papa afirmou que no projeto de Deus, a comunicação humana é um
instrumento para a proclamação da verdade e para a vida em comunhão, mas, o
orgulho e o egoísmo podem levar as pessoas a distorcer esse dom de Deus e o
“sintoma típico de tal distorção é a alteração da verdade, tanto no plano
individual como no coletivo”.
Ao
mentir ou colaborarmos para a difusão da mentira, estamos, portanto, faltando com
a fidelidade a Deus e com seus propósitos maiores em relação à nossa vida. O
Papa diz que as mentiras falsas ou falsificadas que tanto ganham espaço hoje em
dia, especialmente nas redes digitais, são expressão dessa nossa infidelidade.
Para expulsar essa prática ele fala de uma comunicação de paz, da valorização
da missão dos jornalistas e, claro, de um olhar constante para Jesus, nosso
Senhor, o caminho, a verdade e a vida.
Os políticos que se apresentam como candidatos nesse período
costumam fazer um discurso muito parecido e dizem querer o melhor para o
Brasil. No que, então, o eleitor deve prestar atenção para não cair nas ciladas
da mentira?
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na última assembleia geral
que realizamos juntos, em Aparecida, nos deixou um documento precioso que o seu
conteúdo pode nos ajudar a responder a essa pergunta. Em primeiro lugar, os
bispos dão como título para o documento a expressão: Compromisso e esperança.
Isso já diz muito do que precisamos fazer. Não ficar apenas apontando o dedo
para os outros, mas promover o compromisso de todos nós com ideias,
testemunhos, projetos que possam trazer uma esperança, uma luz de mudança para
o País que considere a vida dos mais pobres.
Na
mensagem, os bispos apresentam um caminho a percorrer. É preciso resgatar a
ética na política. A vergonha na cara que deve ter todas as pessoas que lidam
com a gestão do patrimônio e do dinheiro públicos. Segundo: precisamos de
políticas públicas consistentes para enfrentar graves questões sociais, como o
aumento do desemprego e da violência que, no campo e na cidade que tornam
vítimas milhares de pessoas, sobretudo, mulheres, pobres, jovens, negros e
indígenas.
Além
de várias outras advertências que os bispos fazem, é preciso reforçar que esse
tempo de campanha eleitoral torna-se “oportunidade para os candidatos revelarem
seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir. Não merecem ser eleitos
ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima
de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem
reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade. São igualmente
reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras
vantagens”.
Reze
antes de votar! Exerçamos o dever e o direito do voto com responsabilidade
cidadã e compromisso cristão.
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