domingo, 12 de agosto de 2018
ESTUDO ESCANCARA RETROCESSO SOCIAL COM A EMENDA DO TETO DE GASTOS
Lançado
em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos no Senado, o trabalho
reúne dados dos efeitos dos cortes de gastos em várias áreas.
Lançado nesse dia 7 de agosto em
audiência pública no Senado, na Comissão de Direitos Humanos, o documento
“Austeridade e Retrocesso – Impactos da política fiscal no Brasil”, escrito em
linguagem acessível e didática, é resultado de um esforço coletivo que envolveu
diversos pesquisadores e instituições[1] e a criação de um fórum permanente de
discussão: o “Observatório da Austeridade Econômica no Brasil”. Uma boa parte
de seu conteúdo faz uso direto do livro “ECONOMIA PARA POUCOS: Impactos sociais
da Austeridade e Alternativas para o Brasil”, publicado pela editora Autonomia
Literária, que traz um maior detalhamento das ideias apresentadas no documento.
O estudo traz um diagnóstico dos
impactos das políticas de cortes em diversas áreas, demonstrando os efeitos
extremamente negativos das políticas de austeridade praticadas no Brasil.
Analisam-se os impactos dos cortes que já ocorreram e os possíveis efeitos do
teto de gastos (Emenda Constitucional 95) em áreas como seguridade social,
saúde, educação básica, educação superior, meio ambiente, cultura,
segurança, moradia, agricultura familiar, reforma agrária e direitos humanos,
destacando os seus efeitos perversos que mantêm as fontes de desigualdade em
termos de gênero e raça.
Uma das contribuições do documento é
mostrar a relação intrínseca entre o orçamento público e a garantias dos
direitos sociais, assim como o impacto distributivo da política fiscal no
Brasil.
Em cada área, apresentamos as
consequências que já podem ser percebidas e as previsões para os próximos anos
de vigência do teto declinante de gastos, que irá impor uma série de novos
cortes em áreas prioritárias e essenciais para garantir um desenvolvimento
inclusivo e mais justo.
Parte dos impactos que estão
descritos no documento já aparecem nas notícias de jornais que corroboram esse
quadro. Talvez um dos resultados mais tristes seja o aumento da mortalidade
infantil, após 26 anos[2] de queda consecutiva. Um estudo da Fiocruzaponta que
o teto declinante de gastos que afeta programas como o Bolsa Família e
Estratégia de Saúde da Família pode ter impacto direto ainda maior na
mortalidade de milhares de menores de até 5 anos até 2030[3].
O aumento da mortalidade infantil
está diretamente relacionado a outros dados extremamente alarmantes, como o
aumento da extrema pobreza[4], a escassez de investimentos em saneamento básico
e a piora no atendimento à saúde da populaçãodiante dos cortes de gastos[5]. Os
cortes afetaram a oferta e a cobertura de vacinas[6], afetaram a qualidade do
atendimento dos hospitais[7] e interromperam o programa de atenção básica, o
Mais Médicos[8].
Além disso, os cortes afetaram
diretamente a educação pública, tanto básica[9] quanto superior[10]. O atraso
no repasse a creches[11] ameaça crianças menores de 4 anos. A área de pesquisa
das universidades foi diretamente afetada[12]. A notícia mais recente, de corte
de bolsas para 2019[13], caso os limites orçamentário forem mantidos, já foi
discutido no documento que mostra uma queda na concessão de bolsas nos últimos
anos.
Para as famílias brasileiras, um dos
maiores problemas é o forte aumento do desemprego[14], em boa parte decorrente
do efeito recessivo das políticas de austeridade econômica. Sendo assim, cada
vez mais famílias dependem das transferências do governo[15] como sendo a
principal fonte de renda, tanto as previdenciárias quanto as assistências, que
também são ameaçadas pelas políticas de corte permanente de gastos.
A queda de renda tem afetado
diretamente o padrão de consumo das famílias, reduzindo o consumo de comida,
remédio[16], fraldas[17], gás[18], aluguel[19], entre outros. Quem não consegue
comprar botijão tem improvisado com uso de álcool e fogão a lenha. Esses
efeitos são ainda mais fortes nas mulheres[20].
A consequência imediata foi o
aumento da população de rua[21] e a sensação de insegurança[22] nas grandes
capitais brasileiras em meio a essa grande crise social.
O futuro não deveria e não deve ser
assim. A austeridade fiscal, longe de uma necessidade técnica, é uma opção
política-ideológica apoiada em discursos falaciosos sem sustentação empírica. É
preciso rediscutir, repensar e reverter essas políticas que deterioram o
bem-estar da população brasileira assim como o seu acesso a direitos sociais.
Esse documento busca contribuir para essa tarefa. E, ao fazer isso, mostra que
a solução não pode ser parcial: é preciso repensar um novo modelo de
desenvolvimento que tenha como base a redução das desigualdades.
Para ler o documento na
íntegra, clique aqui.
Notas
[1] São 18 instituições que apoiam o
documento: FES, BRASIL DEBATE, CAMPANHA DIREITOS VALEM MAIS, GT DE MACRO DA
SEP, GT ECONOMIA – PROJETO BRASIL POPULAR, Plataforma DHESCA, ABRES, CEBES,
PLATAFORMA POLÍTICA SOCIAL, POEMA, IJF, INESC, CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À
EDUCAÇÃO, INSTITUTO CULTURA E DEMOCRACIA, INSTITUTO TRICONTINENTAL, ANFIP,
EDITORA AUTONOMIA LITERÁRIA e PEABIRU.
[2] Com zika e crise no país,
mortalidade infantil sobe pela 1ª vez em 26 anos
[3] Mortalidade infantil impõe queda de
braço com ajuste fiscal de Temer
[4] “A extrema pobreza voltou aos níveis
de 12 anos atrás”, diz pesquisador da ActionAid e Ibase
[5] ‘Saúde é um valor social, não uma mercadoria’,
diz professor em debate sobre crise do SUS
[6] Queda na cobertura vacinal acende
alerta para volta de ‘doenças do passado’
[7] Falta de pagamento das OS faz o
atendimento de hospitais piorar
[8] Alexandre Padilha: Cinco anos do
Mais Médicos, uma revolução interrompida
[9] SBPC exige revogação da Lei do Teto
em prol da Educação Básica
[10] 90% das universidades federais
tiveram perda real no orçamento em cinco anos; verba nacional encolheu 28%
[11] Creches: atraso em repasses ameaça
mais de 16 mil crianças menores de 4 anos
[12] Pioneiro, laboratório de fabricação
digital da USP enfrenta crise
[13] Quase 200 mil bolsistas da Capes
podem ficar sem bolsa se orçamento de 2019 sofrer corte, diz conselho
[14] http://www.ihu.unisinos.br/578534-cai-o-numero-de-pessoas-ocupadas-e-com-carteira-assinada-no-brasil-em-2018
[15] Número de lares que dependem da
renda de aposentados cresce 12% em um ano
[16] Brasileiros se perdem nos gastos e
adiam pagamento de comida e remédio
[17] Na crise, famílias tiraram até
fralda da cesta de compras
[18] Alta do gás eleva uso de soluções
caseiras para cozinhar e acidentes disparam no Recife
[19] Na crise, todo mundo se aperta:
lares reúnem mais moradores
[20] The impacts of IMF-backed austerity
on women’s rights in Brazil
[21] ‘Cidade paralela’ cresce 40% em
meio à crise da economia
[22] Cresce o número de homicídios no
Brasil em meio à crise social
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