domingo, 19 de agosto de 2018
NOTA PÚBLICA - LIDERANÇA DE OCUPAÇÃO RURAL É ASSASSINADA NO PARÁ
CPT
Pará divulga Nota denunciando o assassinato de um trabalhador rural, liderança
no sul do Pará, e cobra atuação mais contundente dos órgãos responsáveis por
acompanhar e investigar crimes em conflitos no campo. Confira o documento na
íntegra:
O
trabalhador rural JUVENIL MARTINS RODRIGUES, conhecido como Foguinho, tinha 59
anos de idade e era uma das lideranças da ocupação da Fazenda Pontal,
localizada no Município de Santa Maria das Barreiras, extremo Sul do Pará. Ele
foi assassinado a tiros, no dia 01 de agosto, por dois homens que pilotavam uma
motocicleta e o abordaram na Vila Espírito Santo, antiga Cachamorra, localizada
às margens da Rodovia 28, no Município de Redenção. O homicídio teve pouca
repercussão e ao noticiarem o ocorrido, os canais de comunicação locais não
fizeram nenhuma ligação entre o homicídio de Foguinho e o conflito fundiário em
questão.
Localizada
às margens do Rio Araguaia, a Fazenda Pontal é totalmente constituída de terra
pública, segundo informações dos órgãos fundiários, e está ocupada desde 2014
por 70 famílias de trabalhadores/as rurais sem terra, organizados em torno da
“Associação Lagoa Azul”. Ao ocuparem a área, as famílias dividiram-na em lotes
de 10 alqueires, onde tentavam com muitas dificuldades constituir suas
benfeitorias.
De
outro lado, a área também é reivindicada por latifundiários. Dois deles,
“Cidim” e José Carlos, surgiram repentinamente em 2016, alegando serem
proprietários de uma parcela de 500 alqueires da Fazenda Pontal. Desde então,
utilizam diversas práticas violentas, como expulsão com queima das benfeitorias
das famílias e ameaças de morte, além de um desenfreado processo de extração
ilegal de madeira.
Acerca
das ameaças e demais crimes praticados por “Cidim” e José Carlos, os
trabalhadores/as rurais da ocupação procuraram os órgãos competentes,
responsáveis pela questão agrária na região de Redenção. No entanto, na
Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA) não conseguiram registrar
as ocorrências dos fatos. No Ministério Público (MP) Agrário, foram orientados
a procurar o MP Criminal, pois, segundo o promotor, aquela não seria matéria de
sua atribuição, negando-lhes atendimento.
Finalmente,
em julho de 2017, os trabalhadores/as rurais foram recebidos no MP de Conceição
do Araguaia, onde Juvenil relatou as ameaças sofridas. De acordo com seu termo
de declarações, haviam seis pistoleiros atuando na área a mando de José Carlos,
dentre eles, o Sargento Freitas, Bigode e Gaúcho. Juvenil informou ainda que os
companheiros José do Milton e João do Novo Acordo também estavam sendo
ameaçados pelo latifundiário, o qual ofereceu o valor de 30 mil reais para o
pistoleiro que os executasse.
Por
sua vez, Adão Umpierre e Greicielly Wessheimer alegam ser proprietários de
outra parcela da Fazenda Pontal, com medida de 400 alqueires. Eles ingressaram
com ação possessória junto à Vara Agrária de Redenção, no entanto, não
conseguiram apresentar provas do suposto direito de “posse” que alegam exercer
sobre a área. Também em nome de Adão e Greicielly consta um processo
administrativo com pedido de regularização fundiária junto ao Programa Terra Legal
em Marabá, onde requerem a titulação dessa mesma área. A partir desse
procedimento é possível confirmar que a Fazenda Pontal é totalmente constituída
de terras públicas e, ainda, que incide sobre a área interesse da Fundação
Nacional do Índio (FUNAI).
A
disputa por essa área rural revela nuances recorrentes nos conflitos fundiários
do sul paraense, onde a grilagem e a violência são práticas contumazes dos
latifundiários, utilizadas com objetivo de apropriarem-se de terras públicas e
desmobilizar legítima reivindicação pelo direito à terra de dezenas de famílias
de trabalhadores/as rurais. Atuam com a certeza da impunidade! Dessa forma, a
inação do Estado, através dos órgãos competentes para intervirem no conflito,
são fatores determinantes, na vida, ou na morte das lideranças ameaçadas.
Diante
do triste e preocupante cenário relatado acima, exigimos da DECA e da
Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará, a devida investigação do
assassinato de JUVENIL, dada sua visível vinculação à questão agrária.
Aos
órgãos fundiários e ao Poder Judiciário caberá a resolução URGENTE do conflito que se arrasta há quatro anos, com respostas
efetivas e capazes de propiciar a mediação entre as partes e o encerramento da
violência naquela localidade, visando, inclusive, a proteção da vida dos demais
trabalhadores/as rurais ameaçados.
Belém
- Pará, 16 de agosto de 2018.
Comissão
Pastoral da Terra Regional Pará
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