segunda-feira, 27 de agosto de 2018
PAPA AOS JORNALISTAS: A FÉ DOS IRLANDESES MAIS FORTE DO QUE A CHAGA DOS ABUSOS
Francisco encontra jornalistas no
voo papal de retorno a Roma: responde a sete perguntas
Cidade do
Vaticano
O espaço para dizer o
que neste momento carrega no coração - oferecer um pensamento sobre a viagem
que acaba de terminar - Francisco tira para si mesmo no final, depois de mais
de 40 minutos dedicados a temas ditados pela crônica do dia e pelo interesse de
seus interlocutores. A sua não é uma verdadeira resposta, porque tecnicamente
não havia dúvida, mas é todavia a convicção que o Papa traz consigo depois de
dois dias intensos. "Eu encontrei muita fé na Irlanda", disse aos
jornalistas no voo de Dublin a Roma. Os irlandeses sofreram muito por causa dos
escândalos, mas sabem distinguir, disse, "a verdade das
meias-verdades", como lhe disse algumas horas antes um bispo. E se no
"processo de cura em andamento" há coisas que parecem afastar da fé,
essa fé permanece sólida.
"Não direi uma
palavra"
As sete perguntas que
precedem a resposta não solicitada de Francisco são como planetas que giram em
torno do sol trágico dos abusos. O que chama a atenção dos ouvidos e faz
escrever mais freneticamente no teclado do computador é a resposta que o Papa
dá ao caso do dia. O segundo dia em Dublin começou com o documento do ex-núncio
apostólico nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Maria Viganò, que chama em
causa o Papa no episódio do Card. McCarrick, acusado de assédio sexual contra
jovens seminaristas. Francisco é breve e convida os jornalistas a tirarem suas
próprias conclusões. "Eu sinceramente digo isto: leiam com cuidado e façam
o seu próprio julgamento. Não vou dizer uma palavra sobre isso. Creio que o
documento fala por si ".
Um júri para cada caso
Em vez disso, fala e
explica outros aspectos delicados e complexos, como a modalidade de levar ao
tribunal um bispo acusado de abuso. Rejeita com delicadeza o desejo de Marie
Collins - ex-membro da Pontifícia Comissão instituída para combater o fenômeno
e vítima ela mesma de violências por um padre irlandês - de criar um tribunal
especial, conforme indicado no Motu proprio "Como uma mãe amorosa".
Na realidade, temos visto, disse Francisco, que mais do que um júri, é mais
eficaz a criação de um colégio “ad hoc” para cada caso. "Funciona melhor
assim", assegura o Papa, que recorda como o último a ser submetido ao
tribunal foi o arcebispo de Guam e que outro procedimento está em andamento.
Falar imediatamente,
nunca julgamentos sumários
Uma pergunta sobre o
que "o povo de Deus" pode e deve fazer diante de atos tão perversos
praticados pelos sacerdotes. Também aqui o Papa suprime a reticência e indica
nas famílias feridas o primeiro obstáculo, muitas vezes, à transparência. "Quando
se vê algo – afirma com força – é preciso falar imediatamente". Muitas
vezes são os pais a encobrirem o abuso de um padre porque não acreditam no
filho ou na filha". Por outro lado, no entanto, critica as ações dos meios
de comunicação que iniciam julgamentos de rua antes que uma responsabilidade
seja apurada. Francisco cita o caso do grupo de sacerdotes de Granada, cerca de
dez, acusado de pedofilia por um jovem empregado em um colégio, que escrevera
ao Papa que tinha sido vítima de violências. Bem, o cadafalso da humilhação
sofrido por alguns desses padres se revelou a injustiça mais cruel porque
depois a justiça comum os considerou inocentes. Assim, é o convite do Papa aos
jornalistas, "seu trabalho é delicado", vocês devem dizer as coisas "mas
sempre com a presunção de inocência e não com a presunção de culpa".
Quem ignora não é um
verdadeiro pai
Palavras de grande
estima Francisco reserva à ministra irlandesa que lhe falou sobre o dramático
caso do orfanato de religiosas irlandesas em Tuam. Objeto de uma investigação
pelas autoridades que configura o orfanato como local de abusos e horrores
repetidos nas décadas passadas, o Papa disse que aguarda o resultado final da
atividade de investigação também para verificar as responsabilidades da Igreja.
De qualquer forma, o apreço do Papa é todo pelo "equilíbrio" e pela
"dignidade" com que a representante do governo irlandês lhe informou
sobre o assunto. Ainda sobre o assunto da Irlanda, uma pergunta a Francisco
sobre o que ele diria a um pai cujos filhos se confessem ser homossexuais. “Eu
diria a ele: rezar, não condenar, dialogar, entender, abrir espaço ao filho à
filha", porque "ignorar é uma falta de" paternidade e
maternidade.
O caso do navio
"Diciotti"
Uma das primeiras
questões a serem abordadas na coletiva de imprensa foi a da imigração. A
pergunta teve início com a feliz conclusão do episódio do navio italiano "
Diciotti", que desembarcou em Messina mais de cem migrantes após
cerca de dez dias sem a possibilidade de atracar. "Há sua mão neste
caso?", pergunta ao Papa o jornalista, e Francisco responde que não, ele
diretamente não, mas é obra do "bom padre Aldo Buonaiuto, da Fundação João
XXIII, mas também da CEI, (Conferência Episcopal Italiana) com o cardeal
Bassetti. Recorda o critério de prudência que deve guiar um país no acolhimento
dos imigrantes, mas acima de tudo Francisco chama a atenção para o valor da
integração. Pode mudar uma vida, disse, como a da estudante que ele trouxe da
ilha de Lesbo e recentemente encontrada na Universidade. Isso para arrancar
dos traficantes o comércio de carne humana e dar dignidade àqueles que buscam
uma nova vida
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário