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"É bonita a vida de quem ajuda os outros a viver de novo"(Dom Luciano) (Noah Buscher by Unsplash) |
Os profetas defendem o humano, seus direitos, sua dignidade
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Em tempos de Francisco é bom
relembrar outros três pastores-profetas que muito se assemelham a ele em gestos
e palavras. Em 27 de agosto celebramos a Páscoa de dom Helder Câmara (1999),
Dom Luciano Mendes de Almeida (2006) e Dom José Maria Pires (2017). A caridade
quanto mais personificada, mais é perseguida e rejeitada. Chamados de rebeldes
e bispos de esquerda, são homens que escolheram o mesmo que Jesus: acolher os
pobres e marginalizados. Puro Evangelho!
Logo depois de ser eleito, ainda
cardeal Bergoglio, Francisco ouviu baixinho as palavras do amigo Cláudio
Hummes: “Não se esqueça dos pobres!” Não foram diferentes as palavras de Dom
Luciano antes de morrer: “Cuide dos pobres, não esqueça dos pobres!” ditas ao
irmão Luiz. O Bispo de Roma, como Luciano, escolheu a simplicidade e a
misericórdia como estilo de viver. O “bispo do Brasil” foi amoroso e humilde.
“Em que posso ajudar?”, era sempre sua pergunta. Tudo “em nome de Jesus” foi
seu lema. Movido pela misericórdia, disse uma vez que se deveriam “abrir as
portas das casas e Igrejas para abrigar à noite os pobres”.
Um dos responsáveis pela criação da
Pastoral do Menor, Luciano foi nomeado bispo auxiliar de São Paulo, arcebispo
de Mariana, foi Secretário Geral (1979-1988) e Presidente (1987-1995) da CNBB.
“Os Santos são o evangelho vivo”. Os que o conheceram o dizem santo. Em breve
será canonizado.
Os profetas defendem o humano, seus
direitos, sua dignidade. Foi assim a vida de Dom Helder Câmara, conhecido como
"irmão dos pobres", mas também como “Bispo Vermelho”. Apelido que
ganhou dos militares em tempos da ditadura. “Sempre que procura defender os
sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de fazer política”, disse. Mas, antes de
ser identificado assim, cometeu “um erro de juventude” como costumava
justificar os tempos em que apoiou a direita integralista. Mas o contato
permanente com os mais pobres mudou sua vida. "Se dou comida aos pobres,
eles chamam-me santo. Se pergunto por que razão os pobres não têm comida, eles
chamam-me comunista".
Dom Helder, como Francisco,
incomodou a muitos, principalmente ao denunciar fora do Brasil a violação dos
direitos humanos e as atrocidades cometidas pelo regime militar. Acolheu em sua
casa muitos perseguidos políticos. Foi o exemplo vivo da Igreja em saída que
tanto defende Papa Francisco. Presente nas periferias e denunciando as
injustiças. O bispo dos pobres foi articulador da fundação da CNBB, das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), teve papel decisivo na criação do
Movimento dos sem Terra (MST) e de diversos sindicatos rurais. Foi chamado de
"homem simples, pobre e desprendido", "exemplo de uma Igreja que
tem muita coisa a mudar em si".
Grande amigo de Dom José Maria
Pires, juntos estiveram no Concílio Vaticano II. Estavam entre os 40 bispos que
assinaram o Pacto das Catacumbas da Igreja Serva e Pobre.
Comprometeram-se a viver como o povo, sem títulos e roupas luxuosas, assim como
do uso de ouro e prata, sem propriedade pessoal, estabelecer relações
horizontais de diálogo em suas dioceses. Essa é a Igreja que Francisco almeja,
distante dos “centros” e que se aproxime das “margens” do mundo. Era um homem
sem meias palavras: “Dom José Maria vai às causas, vai às raízes... fala claro,
sem perder a serenidade, chamando as coisas pelos nomes”, dizia dom Helder
sobre o amigo. Depois de ser bispo de Araçuaí, assumiu a arquidiocese de João
Pessoa por 30 anos. Tornou-se bispo emérito peregrino sempre animando as
comunidades. Sua causa era a dos empobrecidos e sua luta a justiça social.
Assumiu sua etnia e se entregou a defesa dos negros, carinhosamente chamado de
Dom Zumbi. Incentivou a criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do
Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Trabalhou no processo de enculturação
da liturgia e diálogo inter-religioso. Grande incentivador da Missa dos
Quilombos e da Missa da Terra sem Males, junto com
Dom Pedro Casaldáliga.
Denunciou a ganância dos fazendeiros
e coronéis do Nordeste. Como Francisco, criticou o capitalismo: “Dar esmolas,
todos acham que é razoável. Mas aceitar que é um roubo guardar o supérfluo
quando a outros falta o necessário, isto lhes cheira a marxismo. Realmente,
dentro da mentalidade dominante, não é fácil aceitar a receita da Populorum Progressio que é
a mesma do Evangelho”. Ir para a margem da sociedade, da Igreja, do mundo foi
seu maior gesto.
“Insignis charitatis erga pusillos
et pauperes” – de extraordinária caridade para com os pequenos e pobres – esse
foi o traço mais marcante na vida destes pastores. Seus preferidos eram os
mesmos de Jesus. Na Igreja desses bispos não há espaço para acomodados,
acovardados e indiferentes. Inquiete-se: qual é a sua causa, quem é o seu
próximo? “É bonita a vida de quem ajuda os outros a viver de novo” (Dom
Luciano). Quer ser santo? Ame. “Quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei” (Rm
13,10).
Fonte:domtotal.com.br
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