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Alcindo Gonçalves: País precisa progredir economicamente e se
desenvolver
'em um ambiente de democracia, pluralidade e liberdade individual'
(Foto: Beatriz Araujo)
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Pesquisadores
alertam que descrédito na classe política afeta o processo democrático.
Por Beatriz Araujo*
A democracia corre o risco de se
enfraquecer em meio à crise econômica, aos escândalos políticos e ao sentimento
de desconfiança popular vividos no Brasil, cenário que resulta em polarização
ideológica e radicalismo. "Falam da ditadura como se fosse algo mais do
que normal, falam como se fosse algo desejável", afirma o cientista
político Alcindo Gonçalves.
Para ele, as eleições de 2018 são
afetadas pelo descrédito da classe política e pela consequente falta de
interesse da população quanto aos rumos do país. A corrupção, diz Gonçalves,
gerou o raciocínio simplista de que todos são ladrões na democracia. "Esse
pensamento é perigoso. Não se trata mais de criticar o partido ou o político, e
sim de criticar a democracia enquanto fórmula de governo", alerta.
O Brasil é considerado um país com
uma democracia fraca ('flawed democracy', no original), segundo o Índice de
Democracia da Economist Intelligence Unit de 2017, publicado pela revista The
Economist. Os indicadores dizem respeito ao processo eleitoral e ao pluralismo,
às liberdades civis, ao funcionamento do governo, à participação e à cultura
política. Segundo o levantamento, no ano passado, o país atingiu sua pontuação
mais baixa com relação aos anos anteriores.
Diante desse contexto de descrédito e
desilusão que atinge o processo democrático, há mais pessoas dispostas a
defender soluções autoritárias e repressivas, afirma Alcindo Gonçalves. Ele
argumenta que a descrença faz as pessoas enxergarem a salvação no diferente, no
extremo contrário – pensamento este otimizado pela polarização política nas
redes sociais, "um ambiente de céu e inferno".
Apesar disso, "a desilusão
contínua faz parte da mudança", diz o cientista político. "São
transformações. Talvez estejamos vivendo, na política, um desses períodos históricos
de transição, de mudança de parâmetros e paradigmas. É um período difícil para
o país, porque 'o velho ainda não morreu, e o novo não nasceu'".
Alcindo continua apostando na
democracia como a melhor forma de governo. Ele acredita que o país precisa progredir
do ponto de vista econômico e de desenvolvimento, mas "em um ambiente de
democracia, pluralidade e liberdade individual, não em um regime de
exceção". "Os regimes totalitários, além de violentos, desrespeitam
os direitos individuais. Eles nunca levaram país nenhum a uma situação melhor.
É uma ilusão terrível", conclui.
O
ringue das redes sociais
O clima de competição que ganha
espaço nas redes sociais faz com que os eleitores se envolvam de um modo
questionável com o processo político, afirma o publicitário Wanderley Camargo,
que atua na área de marketing político há quase 20 anos. "O brasileiro não
gosta de política, ele gosta de politicagem, desse clima de competição da
campanha, como se o candidato fosse um time de futebol".
O consultor de marketing político Ari
Brito concorda que "não é bom" quando existem dois lados extremos.
"No geral, acaba não tendo um denominador comum. No extremo, o país fica
dividido". E, em meio à crise política e econômica, passa a existir a
percepção de que a democracia está sob ameaça.
É nesse contexto que as redes sociais
se transformaram no novo palanque eleitoral. "A rede social virou a
televisão de antigamente. Está todo mundo se comunicando lá", diz Brito.
Essa concentração, segundo ele, faz com que o engajamento dos políticos nas
redes sociais seja tão importante quanto a propaganda nos veículos
tradicionais.
Para o consultor, como os políticos
não conseguem falar com todos ao mesmo tempo nas redes sociais, a exemplo do
que ocorre na televisão e no rádio, é preciso que as campanhas eleitorais
comecem em nichos, para depois "explodirem" a todo mundo. O problema,
segundo ele, é que um discurso muito segmentado cria o risco de o candidato não
conseguir ampliar seu nicho, abrangendo mais eleitores.
Wanderley Camargo ressalta que há um
"lado negro" na força desses novos meios. "Muita gente entende o
Facebook como veículo de comunicação, e ele não é. É um aplicativo de rede
social, de mensagem entre pessoas. Esse é o perigo". Ele diz que há muita
informação disponível, mas considera necessário o eleitor filtrar essas
informações, para não ser enganado.
Camargo destaca o risco das chamadas
'fake news', informações falsas disseminadas propositalmente para confundir as
pessoas. "Quando você posta alguma coisa falsa em rede social, alguém nos
comentários vai acabar revelando isso. Mas quem lê posts e todos os comentários
que surgem? Ninguém. Tem post que vira um chat. Então, isso é extremamente
perigoso".
Fonte: g1.com.br
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