Irmãs auditoras no Sínodo para os jovens que trabalham na Africa.
A
revolução cultural de 1968 deu um impulso decisivo às reivindicações do mundo
feminino que há tempos incubavam sob as cinzas. Cinquenta anos depois é útil
refletir sobre aquele período de luzes e sombras. Sobre a relação mulheres e
Igreja, o parecer da teóloga Marinella Perroni.
Cidade do Vaticano
Passaram 50 anos da revolução cultural de 1968 que, ao menos no
Ocidente, marcou um período histórico muito particular, de grande fermento em
todos os âmbitos da vida civil, política, social com profundos reflexos na vida
do dia a dia. Sonhava-se com uma mudança geral: os jovens clamavam pelo direito
ao estudo para todos, as mulheres para exigir a igualdade de direitos em
relação aos homens, a família era com frequência lugar de conflito entre as
gerações. As contestações abalaram também a Igreja Católica e as outras
Igrejas. Muitos sacerdotes em crise, diminuição das vocações religiosas e da
adesão à fé.
A Igreja e as mulheres de 1968
Hoje, depois de muitos anos é possível analisar com maior
objetividade aquele período e ver com maior clareza o que houve de positivo e
negativo, os prejuízos causados e as conquistas, junto com as contradições e os
condicionamentos ocorridos.
Mas, falando particularmente das reivindicações das mulheres e
do movimento feminista, como a Igreja Católica viveu aquele momento?
“Oficialmente a Igreja Católica, no sentido magisterial e
hierárquico – afirma a teóloga Marinella Perroni, professora de Novo Testamento
no Pontifício Ateneu Santo Anselmo – repeliu qualquer reivindicação ligada ao
adjetivo ‘feminista’. De fato, Paulo VI começa a ouvir vozes sobre o assunto…
recordo de um discurso seu que disse: ‘Ouve-se vozes longínquas às quais mais
cedo ou mais tarde teremos que dar atenção: são as vozes de mulheres’. Também,
não podemos nos esquecer que foi João XXIII em 1963 que recordou na sua
encíclica Pacem
in Terris, que o reconhecimento da dignidade, pretendido pelas mulheres,
era um sinal dos tempos com o qual os que crêem, e portanto a Igreja, devia
absolutamente dar atenção”.
A questão feminina depois de 1968
A discussão sobre os direitos das mulheres, do seu papel e da
contribuição dentro da sociedade e da Igreja ainda continua. Papa Francisco
volta à questão com frequência reconhecendo a necessidade de uma nova e
profunda reflexão sobre esta realidade. Na exortação apostólica Evangelium
gaudium escreve: “As reivindicações dos legítimos direitos das
mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma
dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem
iludir superficialmente”.
Analisando a história dos últimos 50 anos, a prof. Perroni
afirma: “A posição da Igreja com relação à questão feminina depois de 1968 foi
bem diferente. Exatamente por esta recusa de dar atenção a um movimento
certamente difícil, confuso, complexo e anárquico, como o das mulheres, a
tentação foi de propor uma visão toda católica da figura feminina e das
reivindicações das mulheres.
As consagradas e a Igreja
As que mais sentem necessidade de um espaço e um maior
reconhecimento dentro da Igreja Católica, são justamente as Religiosas. Alguns
dias atrás, dentro do Sínodo sobre os Jovens, o tema foi abordado e foi pedido
a igualdade de direitos entre as Superioras religiosas presentes nos trabalhos
e seus homólogos, não sacerdotes, com relação à possibilidade de votar
documentos sinodais que por enquanto não é reconhecido às Religiosas.
Muitas consagradas – diz Marinella Perroni – demonstram um certo
desencorajamento com relação ao que esperavam que acontecesse, ou seja, uma
mudança, que não aconteceu.
Muitas teólogas ensinam nas Universidades Católicas
No entanto alguma coisa mudou, isto é, a possibilidade que no
passado não existia de lecionar nos institutos acadêmicos de teologia também
para mulheres. Portanto… ensinar. “É verdade, a partir do Concílio – diz a
professora – houve a abertura das faculdades teológicas, e portanto a
possibilidade de dar aulas, obter títulos acadêmicos, mesmo as leigas. Por isso
hoje temos um grande número de teólogas nas cátedras universitárias. E isso tem
um peso, foi uma mudança significativa”.
No Sínodo aparece a necessidade de mudança
“Seríamos tolos se renunciássemos ao potencial das mulheres”,
que devem fazer parte “hoje, e não amanhã”, dos processos decisionais
referentes à Igreja”. São palavras do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de
Munique e Freiburg e presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, no briefing de
quarta-feira (24) sobre o Sínodo dos Bispos. O cardeal enfatizou que é
fundamental “entender a evolução dos tempos, como já fez João XXIII”.
Palavras, e não foram as únicas pronunciadas nestes dias por
outros expoentes da Igreja, que dão boas esperanças. “Acredito que devemos
aceitar as estratégias de longo prazo – diz Perroni. Certamente há
responsabilidade histórica da nossa parte em assumir e aceitar. Mas também há os
que sempre, homens e mulheres, quiseram viver sua fé e sua pertença eclesial
dentro da história e não com uma espiritualidade individual. Portanto eu
entendo que a nossa responsabilidade histórica como teólogas é esta: servir a
nossa Igreja na verdade e na liberdade”.
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