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A verdade de tal candidato, não corresponde à verdade de Jesus,
pois está mais ligada a uma falsa verdade que produz morte. (iStock AFP)
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A VERDADEIRA VERDADE QUE LIBERTA
Guardar a
palavra de Jesus e se tornar discípulo traz uma questão fundamental: a prática
e a vivência do amor.
Jesus, na iminência de ser injustamente condenado à morte, foi interrogado por
Pilatos, que questionou: “O que é [a] verdade?” (Jo 18,38). O curioso na
narrativa é que Pilatos não espera pela resposta, pois imediatamente sai ao
encontro dos judeus que haviam entregado Jesus. A pergunta de Pilatos nasce de
uma anterior afirmação de Jesus, de que viera ao mundo para dar testemunho da
verdade e que os que são da verdade reconhecem a sua voz. Pilatos, bem como os
chefes dos judeus que haviam entregado Jesus, não reconhecem sua voz e, nesse
caso, desconhecem a verdade.
Enquanto Pilatos leva a
questão para o plano filosófico, Jesus fala de uma realidade existencial. A
verdade de sua vida está radicada na sua própria relação íntima com o Pai, o
qual é manifestado nas palavras e obras desse Jesus, o Filho de Deus feito
homem. Não é à-toa que Jesus, em seu interrogatório-julgamento, porta-se mais
como juiz que como réu, segundo a narrativa do evangelista João: se aqueles que
entregaram Jesus para ser condenado, bem como aqueles que injustamente o
condenam, não reconhecem sua voz, é porque não compreenderam a verdade que ele
traz. E, para o Evangelho de João, conhecer a Jesus implica crer nele, pois ele
vem de Deus.
Intimamente ligada a
essa questão do conhecimento da verdade e da fé em Jesus, está a fala deste a
respeito de que, conhecendo a verdade, experimenta-se a libertação (cf. Jo
8,32). Na atual disputa eleitoral, em plano nacional, uma das candidaturas
adotou tal fala de Jesus – “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” –
como lema de campanha. Trata-se, não nos furtamos em dizer, de um mal uso do
texto bíblico, que, além de descontextualizado, induz ao erro, dado que,
comprovadamente, o TSE retirou do ar várias páginas em redes sociais, que
espalham fakes news, ligadas a tal candidatura.
Se observarmos o
contexto da fala de Jesus, perceberemos, tão logo, que o conhecimento da
verdade, de modo libertador, corresponde ao guardar a palavra d’Ele e tornar
seu discípulo. Só assim o conhecimento da verdade se torna libertador. Guardar
a palavra de Jesus e se tornar discípulo traz uma questão fundamental: a
prática e a vivência do amor, como critério. Ora, há algum traço de amor no
discurso e nas propostas de tal candidato que desvirtua o texto bíblico? Muito
pelo contrário, o discurso é carregado de questões que contradizem em, tudo, o
Evangelho. Essa verdade de tal candidato, não corresponde à verdade de Jesus.
Ao contrário, está mais ligada a uma falsa verdade que produz morte, a mesma
morte à qual Jesus foi condenado injustamente.
Os três artigos de nossa
especial apontam para uma reflexão profunda e contextualizada do texto bíblico:
Tânia Mayer levanta a
questão: Conhecereis a verdade e a verdade dos libertará?, na qual propõe a tema da verdade, segundo a fala de Jesus, num
lugar de justa e legítima interpretação.
Daniel Couto aborda,
filosoficamente, a questão da verdade, rompendo com a ideia de uma
absolutização, no artigo A verdade vos libertará.
A mesma campanha
presidencial usa, no tema da coligação, uma ideia exclusivista, de que Deus
está acima de todos. Fabrício Veliq nos ajuda a refletir, no artigo Deus acima de todos?, o
tema da universalidade de Cristo, compreendido de modo inter-religioso e
demonstrando como a perspectiva da candidatura abarca uma compreensão teológica
falha.
Boa leitura!
* Felipe Magalhães
Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do
livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail:
felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
Fonte: domtotal.com
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