sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A NÃO-VIOLÊNCIA NA VIDA E NOS ENSINAMENTOS DE JESUS

o princípio da não-violência está intrínseco ao projeto de Reino
anunciado e testemunhado por Jesus. (Sunyu by Unsplash)

A não-violência ensinada e praticada por Jesus deve ser paradigma para todos os cristãos.
O ódio, a vingança, a violência contra o outro estão presentes na humanidade desde os tempos mais remotos. Basta ler os primeiros capítulos da Bíblia que narram o fratricídio de Caim contra Abel (cf. Gn 4, 1-10), isto é, um irmão que mata o próprio irmão por inveja. Porém, mesmo a história da humanidade sendo uma história manchada de sangue, há um grande desejo no coração humano de encontrar o caminho da paz. A própria Bíblia Sagrada ao narrar a violência de Caim contra seu irmão já mostra o caminho de superação da violência não aceitando que Caim seja punido de morte, ao contrário, “quem matar Caim pagará multiplicado por sete” (Gn 4, 15). E, para os cristãos, Jesus se apresenta como o Príncipe da paz, que em sua vida e em seus ensinamentos testemunhou a força da não-violência. “Sua missão não se realiza pela violência e pela opressão, mas pela mansidão de um pedagogo, que deixa penetrar, nos humildes, gota por gota, o espírito de amor e solidariedade, que faz crescer o verdadeiro Reino de Deus” (Johan Konings).
Leia também:
Questões para a fé cristã no pós-eleições
Há caminhos para a superação do discurso de ódio na política?
Conservadorismo e falsa esperança
Jesus de Nazaré tinha tudo para ser um homem ressentido e violento, pois sofreu desde cedo, a violência dos poderosos. Ainda criança, seus pais tiveram que fugir com o Menino para o Egito devido à perseguição de Herodes que, por medo de perder o poder, ordenou que matasse “todos os meninos menores de dois anos em Belém e arredores” (Mt 2, 16), tendo assim que viver a sua infância em terras estrangeiras. Quando adulto, Jesus experimentou novamente a dor dos refugiados ao passar pelas aldeias de samaritanos e não ser acolhido, porém, não aceitou a proposta de vingança de seus discípulos (cf. Lc 9, 51-55). Dor maior Ele sofreu ao ser rejeitado pelos seus conterrâneos que por preconceito e fechamento não o acolheram e ainda queriam eliminá-lo (cf. Lc 4, 14-30); e, mesmo depois de sofrer a dura violência de ser torturado, humilhado e condenado à morte por um tribunal injusto, “Ele não abriu a boca” (cf. Mc 14, 53-65). Na cruz, Ele olha no rosto de seus algozes, não com ressentimento, ódio ou desejo de vingança, mas com misericórdia. Por isso, no lugar das famosas invectivas proféticas, Jesus prefere derramar sobre eles o perfume do perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).   
A não-violência ensinada e praticada por Jesus deve ser paradigma para todos os cristãos. Não é possível ser fiel a Jesus de Nazaré defendendo ou praticando a violência. Seu projeto é de paz. Sua resistência segue a via da humilde mansidão. Sua arma é o amor. Seu maior legado é ter declarado felizes os pobres e não os ricos e poderosos; felizes os que reagem com humilde mansidão e não os violentos e sanguinários; felizes os que choram com os outros e não os que riem da desgraça alheia; felizes os que têm fome e sede de justiça e não que os usam do seu poder para cometer injustiças contra os mais fracos; felizes os misericordiosos e não os vingativos; felizes os que mantêm o coração limpo de tudo o que mancha o amor e não os que alimentam o ódio e o rancor; felizes os que promovem a paz e não os fazedores de guerra; felizes os que abraçam diariamente o caminho do Evangelho mesmo enfrentando perseguições e não que os usam da religião para seu próprio benefício (cf. Mt 5, 1-12).
Vivemos tempos de grande violência. Violência no trânsito, nas ruas e praças, nas cidades e no campo, nas famílias e nas igrejas, nas redes sociais, etc. Sem contar a violência silenciosa praticada contra os pobres por meio de uma economia de mercado que não tem a pessoa como foco e sim o lucro e o acúmulo de riquezas. Há também de considerar a violência do preconceito contra aqueles e aquelas que têm uma condição sexual diversa; bem como violência contra os negros e os índios, ou seja, as minorias são diariamente violentadas e desrespeitadas em seus direitos. O ressentimento e o ódio, porém, não nos liberta. Faz-se necessário aprendermos de Jesus a “pedagogia da mansidão” que nos ensinou a amar os nossos inimigos, a fazer o bem aos que nos odeiam, a bendizer os que nos amaldiçoam, a orar pelos que nos caluniam (cf. Lc 6, 27).
A nós cristãos cabe, portanto, deixar Jesus nascer em nós e no mundo, como dizia M. Gandhi:“A força de um homem e de um povo está na não-violência… A não-violência é o primeiro artigo da minha fé e o último… Conheci a Bíblia por volta dos 45 anos de idade… De tudo o que li, o que mais me impressionou foi o fato de Jesus ter vindo para estabelecer uma nova lei… Não mais olho por olho, nem dente por dente; devermos estar dispostos a receber duas bofetadas, se nos dão uma, e percorrer dois quilômetros, se nos pedem um… Dizia a mim próprio: isto não é seguramente o cristianismo. O Sermão da Montanha demonstrou-me como estava errado, à medida que tomava contato com os verdadeiros cristãos, quer dizer, com os que viviam para Deus. Vi que o Sermão da Montanha era todo o cristianismo… Enquanto não formos homens insatisfeitos e não tivermos arrancado a raiz da violência da nossa civilização, Cristo não terá nascido… O princípio da não-violência infringe-se com os maus pensamentos, com a pressa injustificada, com a mentira em todas as suas vertentes, o ódio, desejando mal ao próximo. Violamo-la ao reter para nós o de que necessitam os outros. A não-violência, na sua forma ativa, é boa vontade em tudo o que se vive. É amor perfeito”.
Nota-se que o princípio da não-violência está intrínseco ao projeto de Reino anunciado e testemunhado por Jesus. Ele fez da não-violência uma estratégia de resistência e profecia. Trata-se, portanto, de propor um caminho novo de amor, tolerância e respeito ao outro para obter a paz tão sonhada por todos nós. Do contrário, a humanidade estará se autodestruindo, uma vez que “a prática da violência, como toda a ação, muda o mundo, mas a mudança mais provável é para um mundo mais violento” (H. Arendt). Pois a violência gera sempre mais violência, o fruto dela jamais será a paz.
*Pe. Rodrigo Ferreira da Costa, SDN, Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, Licenciado em Filosofia (ISTA), bacharel em teologia (FAJE), com Especialização para Formadores em Seminários e Casas de Formação (Faculdade Dehoniana). Publicou pela Editora O Lutador (2015) o livro Equipes Missionárias: rosto de uma Igreja em missão. Trabalha atualmente na Paróquia Santa Cruz, Alta Floresta-MT.
Fonte:domtotal.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário