quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A valorização dos padres da Igreja em relação à Sagrada Escritura

Imagem da Internet 

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Alguns padres da Igreja viram a importância da Sagrada Escritura em suas vidas e em referência à realização das promessas divinas em Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado. Por isso tiveram uma palavra importante em suas igrejas, comunidades. Vejamos a seguir as opiniões que nos fazem ver como a Escritura coordenou a vida dos escritores antigos sendo sempre palavra de Deus atual que nos faz vivê-la na objetividade das coisas, passando da teoria à prática.
  1. É salutar ler as Sagradas Escrituras
São João Damasceno, presbítero do século VIII, falou no livro Exposição da fé ortodoxa, 4,17 que a leitura das Sagradas Escrituras é algo salutar. Para isso, seguiu a palavra da Carta aos Hebreus em que de muitos modos e de diversas maneiras Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Mas nestes últimos dias, falou a nós por meio do Filho (cfr. Hb 1,1-2). Ele também tinha presente à ação do Espírito Santo, pois, por meio dele, falou a lei, os profetas, os evangelistas, os apóstolos, os pastores e os mestres. Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil como nos lembra o apóstolo Paulo (cfr. 2 Tm 3,16). É bonito e salutar ler as escrituras divinas, pois, como vemos uma árvore plantada ao longo da trajetória das águas, assim também a alma irrigada das Escrituras divinas cresce e leva fruto no tempo exato (cfr. Sl 1,3), isto é as obras agradáveis a Deus, como a fé reta, o estimulo a toda virtude, sobretudo a caridade. Recorramos, pois a este magnífico jardim das Escrituras, que alegra os nossos ouvidos, como o cântico de passarinhos espirituais, cheios de Deus, que toca o nosso coração, consolando se é triste, dando a calma se é irritado, e enchendo-o de alegria. Se lermos a Palavra de Deus uma vez ou mais vezes e não compreendamos aquilo que lemos, não desanimamos, diz São João Damasceno, mas persistamos na leitura, porque foi dito: Interroga ao teu pai, e te ensinará, aos teus anciãos, e eles te dirão a verdade (Dt 32,7). Aproximemo-nos das águas puríssimas que são as sagradas escrituras que jorram para a vida eterna (Jo 4,4.).
  1. A alegria na palavra de Deus
São Jerônimo, padre da Igreja, do século V, falou da alegria pela palavra de Deus que fornece ao ser humano pela sua leitura. Não parece de habitar aqui, sobre a terra, diz São Jerônimo, mas no reino dos céus, quando se vive entre os textos sagrados, quando são meditados, quando não se conhece ou se busca conhecer nenhuma outra coisa. Ele recomenda sempre de colher o sentido da frase da Escritura Sagrada uma vez lida, mesmo que seja de compreensão difícil, porque tudo tem um sentido para o ser humano e a sua vida, das coisas lidas. Ele mesmo reconhece que ao fazer a tradução dos textos para o latim, não conheceu tudo, mas manifestou o desejo de ter sempre maior conhecimento dos textos sagrados para a vida. Ele tinha presentes às palavras do Senhor para quem pede, dar-se-á, a quem bate, se abrirá, e quem busca, encontrará (cfr. Mt 7,7). Por isso São Jerônimo afirmava que é para nós buscarmos sempre aqui na terra aquelas verdades cujo conhecimento terá a sua plenitude nos céus.
  1. A importância de leitura da Sagrada Escritura
Gregório Magno, Papa no século V e VI afirmava a importância da Sagrada Escritura. Recebemos da Santíssima Trindade o dom da misericórdia, do amor. No entanto, as vezes nos detemos mais nos afazeres mundanos, nos quais nos inserimos em uma atividade sem algum fim, e não valorizemos a leitura diária das palavras do nosso Redentor. Mas que coisa é a Sagrada Escritura senão uma carta do Deus Onipotente à sua criatura?! Ficaríamos felizes se recebêssemos uma carta de uma autoridade, e, logo gostaríamos ler o seu conteúdo. Quanto mais o Senhor dos homens e dos anjos, mandou a nós, pela nossa salvação, uma carta que sempre deveríamos considerá-la com atenção e amor. É preciso tomar cada dia o fervor pelas palavras de Deus, desejá-las mais o ardor aquilo que é eterno, para assim inflamar a nossa alma de um grande desejo à alegria dos céus. Maior é a inquietude na qual o nosso coração ama o Criador, maior será um dia, o nosso eterno descanso. Para este fim, Deus Onipotente faça descer sobre nós o Espírito Consolador.
  1. A leitura doméstica das sagradas escrituras
São João Crisóstomo, Bispo dos séculos IV e V recomendava a leitura das Sagradas Escrituras, seja na Igreja, seja em casa, apanhando-a entre as mãos de modo que fosse um hábito doméstico a leitura da palavra de Deus, tirando dali, tudo o que for útil para a vida. Um ganho grande tira-se disso: a leitura melhora a nossa língua, mas além disso, a alma se eleva no tempo da divisão dos pensamentos maus, gozando paz, tranqüilidade e amor. Aquilo que faz o alimento corpóreo para a conservação das nossas forças, faze-o pela leitura sagrada à alma. Esta leitura nos liga à vida divina, nos céus. São João ressaltava a leitura em casa, com atenção às divinas Escrituras.
  1. A atitude de humildade diante da palavra de Deus
Santo Agostinho, Bispo de Hipona, século IV e V falou da humildade que se deve ter quando façamos a leitura da Sagrada Escritura. Porque se trata da palavra de Deus, ainda que seja escrita por pessoas humanas, mas foi inspirada por Deus, pelo Espírito Santo. Não se deve ter espírito de orgulho, de vaidade, ao ler a palavra de Deus. Aprendemos das Sagradas Escrituras que nós somos templos de Deus (cfr. 1 Cor 6,19) e que o Senhor nos fala pelo seu Evangelho.
Concluindo, possamos afirmar que a Sagrada Escritura visa à conversão de cada um de nós em relação a Deus e à nossa salvação. Ela tem presente o mandamento do amor que o Senhor nos deixou de amarmo-nos uns aos outros assim como Ele nos amou (cfr. Jo 13,34). É por isso que Ela sempre tem a sua validade, no ontem da história, no hoje de nossas vidas e no futuro, porque a nossa vida aponta para o alto, a vida eterna. A Sagrada Escritura coloca-nos na objetividade das coisas deste mundo, e ao mesmo tempo nos convida olhar para o Deus Uno e Trino que nos espera um dia para sempre conviver com Ele.

Fonte: CNBB

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