sexta-feira, 11 de janeiro de 2019
DOM MURILO: “PORTE DE ARMAS NÃO É O TEMA MAIS URGENTE QUE PRECISAMOS DEBATER NESTE MOMENTO”
Em seu artigo intitulado “Em busca do direito, da justiça e da paz”, dom Murilo
Krieger, arcebispo de Salvador e vice-presidente da CNBB diz que é preciso
reconhecer humilde e realisticamente que os problemas do Brasil são muitos e
graves, e em qualquer campo. “Mais do que nunca é necessário um grande mutirão,
envolvendo o maior número possível de pessoas para enfrentá-los. Mesmo que
consigamos a adesão de muitos – isto é, de pessoas capazes para atacar tais
problemas e imbuídas de boa vontade -, precisamos escolher prioridades”,
afirmou o bispo.
De acordo com ele são critérios para
essa escolha perguntas do tipo: ‘Quais são nossos problemas mais importantes?’
‘Quais os que provocam maiores consequências?’ Que iniciativas devem ser
tomadas para se atacar suas causas?’. Se não for feito isso, o bispo diz que se
corre o risco de se fazer muito e perder-se de foco. “O apóstolo Paulo
expressa melhor o que quero transmitir: “Por isso, eu corro, mas não sem meta.
Eu luto, não como quem golpeia o ar” (1Cor 9,26)”, aponta.
No artigo, o arcebispo afirma ainda
que de repente, um tema começou a ganhar grandes proporções nas redes sociais:
o do direito de todo cidadão brasileiro poder andar armado. De acordo com ele,
as motivações para isso são muitas e conhecidas: acabar com a escalada da
violência; dar resposta aos desafios que são enfrentados; rever o Estatuto do
Desarmamento, aprovado em 2018 etc.
Segundo dom Murilo, os que defendem
o Estatuto do Desarmamento lembram que ele tanto impõe restrições ao porte de
armas por civis como também especifica crimes de comércio ilegal e tráfico
internacional de armas de fogo, e amplia as penas para o porte de arma em
situação irregular. “Portanto, nossos problemas nesse campo não estariam tanto
na Lei em vigor, mas em sua não aplicação”, argumenta o bispo.
Para ele, a impunidade é um câncer
que causa imensos estragos. Dom Murilo diz ainda que para se ter uma ideia
concreta sobre o resultado do Estatuto do Desarmamento, é necessário comparar o
crescimento das taxas de homicídio antes e depois de sua entrada em vigor. Além
disso, o bispo salienta que os registros policiais comprovam que ao reagir a um
assalto com uma arma aumenta em 180 vezes as chances de morte da vítima. ”Também
aqui as estatísticas servem para comprovar a tese: nos Estados Unidos, onde é
fácil a aquisição e o porte de armas, temos repetidos massacres de civis e um
grande número de suicídios (600 mil desde 2000; entre eles, 20 mil menores de
idade; 50% foram cometidas com armas de fogo) etc., etc”, disse.
Dom Murilo salienta que a questão é
séria, precisa ser amplamente debatida e deve envolver toda a sociedade, sem
esquecer que, em discussões como essa, os argumentos emotivos e as estatísticas
usadas habilmente pesam muito. “Até frases do Evangelho (“Jesus, porém, disse:
“Guarda a espada! Todos os que usam da espada, pela espada perecerão” – Mt.
26,52) ou textos do Catecismo da Igreja Católica (na linha do direito à
legítima defesa) poderão ser usados (ou manipulados) por um ou outro lado”,
diz.
Mas, segundo ele, este não é
o tema mais urgente que é preciso debater neste momento. “A questão da
segurança pública, sim, é grave e é urgente. Mas, não nos esqueçamos: não se
resolve problemas complexos com respostas (ou propostas) simples”, reitera.
Ainda de acordo em ele, a Campanha
da Fraternidade deste ano de 2019, cujo tema é “Fraternidade e Políticas
Públicas” e lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” propõe um
objetivo que é “muito oportuno” neste momento da vida nacional: o de estimular
a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina
Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de
fraternidade. “Que o Espírito Santo ilumine a todos nós neste ano de 2019 –
nós, que desejamos um Brasil justo, fraterno e solidário!”, finaliza o artigo.
Confira o artigo do bispo na
íntegra. (Clique aqui!).
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