HOJE, ASSIM COMO 2000 ANOS ATRÁS, O “ESCÂNDALO” DE ABRAÇAR OS PECADORES
Papa em visita ao centro de reabilitação para menores (Vatican Media)
A evangelização se baseia na
centralidade da compaixão. Uma mensagem que coloca em discussão inclusive
algumas atitudes da mídia católica, que diariamente se dedica à condenação.
Andrea Tornielli
- Panamá
Na festa do padroeiro dos jornalistas (24/01), São Francisco de Sales, falando
aos bispos centro-americanos o Papa alertou algumas mídias católicas. Antes de
tudo, disse que o resultado da evangelização não se baseia na riqueza de meios
ou na quantidade de eventos que organizamos, mas «na centralidade da compaixão».
«Preocupa-me ver como
a compaixão perdeu a sua centralidade na Igreja, acrescentou Francisco. Até
mesmo os grupos católicos a perderam – ou estão a perdê-la, para não sermos
pessimistas. Mesmo nos meios de comunicação social católicos, a compaixão não
existe. Há a estigmatização, a condenação, a maldade, a obstinação, a
supervalorização de si mesmo, a denúncia de heresia…». É a “fotografia” de uma
realidade infelizmente sob os olhos de todos: o difundir-se até mesmo entre a
mídia que se proclama católica, o hábito de querer julgar tudo e todos,
colocando-se num pedestal e criticando especialmente os irmãos na fé que têm
opiniões diferentes. E não se deve acreditar que esta atitude tão profundamente
anticristã (mesmo se veiculada por canais “católicos”) seja um fenômeno
transitório, ligado somente à crítica cotidiana do atual pontificado. Na origem
desta atitude, de fato, está algo mais profundo e menos contingente: o
acreditar que, para existir e afirmar-se, a minha identidade necessite diariamente
identificar um inimigo contra o qual combater. Alguém para atacar, alguém para
condenar, alguém para julgar herético.
Também a respeito, o testemunho de Jesus se apresenta como uma transformação
total, que desenraiza tradições adquiridas e comportamentos solidificados,
desafiando os “intelectuais” de todas as épocas e lugares. Vimos isso mais uma
vez no encontro que no dia 25 de janeiro Francisco teve no “Centro de
Cumplimento de Menores Las Garzas di Pacora”, com a JMJ panamenha que, por
algumas horas, entrou na prisão, aproximando-se daqueles jovens
impossibilitados de participar dos eventos. Um comovente testemunho de
compaixão e misericórdia que não nasce de um manual, mas porque aquela
compaixão e misericórdia foram vividas em primeira pessoa para poder dirigir o
olhar ao outro, ao pecador, a quem errou.
Francisco explicou aos hóspedes do centro de reabilitação que Jesus não teve
medo de se aproximar de quem, por vários motivos, carregava o peso do ódio
social. Comia na casa de publicanos e pecadores, escandalizando a todos. Porque
«Jesus se aproxima, se compromete, coloca em jogo a sua reputação e convida
sempre a olhar um horizonte capaz de renovar a vida e a história». Mas muitos
não suportam esta escolha do Filho de Deus, preferem congelar e estigmatizar os
comportamentos de quem errou, rotulando não somente o passado, mas também o
presente. E fazendo assim, explicou Francisco, só produz divisão, separando os
bons e os maus, os justos e os pecadores. Elevam-se muros invisíveis
acreditando que, marginalizando e isolando, se resolve o problema. Ao invés,
quase cada página do Evangelho nos mostra uma atitude diferente, uma revolução
copernicana, que passa através dos olhos de Jesus, capazes de olhar as pessoas
não pelos erros, pelos pecados e pelos crimes que cometeram, mas por aquilo que
sua vida pode se tornar se tocada pela misericórdia, pela compaixão, pelo amor
infinito de um Deus que abraça antes de julgar.
Esse olhar, disse o Papa, nasce do coração de Deus. «Comendo com publicanos e
pecadores – acrescentou Francisco falando aos menores encarcerados –, Jesus
quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e
maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou
sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos;
apostando e fazendo festa em cada passo possível». Porque o olhar do Senhor,
que podemos experimentar no sacramento da penitência, «não vê rótulos nem
condenação. Mas vê filhos
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