sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

PESSOAS MELHORES, DIAS MELHORES DE PAZ!

Sem uma verdadeira mudança de atitudes viveremos iludidos

por expectativas que não podem ser alcançadas sem a

nossa participação. (Brooke Cagle by Unsplash)


Os dias de paz só podem acontecer quando nos decidimos a nos tornar pessoas melhores do que somos hoje.

Nenhuma mudança é operada no mundo sem a própria metamorfose daqueles que fazem do cosmos sua habitação. Por isso é que podemos dizer que as coisas só se modificam na medida em que o ser humano muda seus hábitos, costumes e crenças. Não se trata de uma mudança superficial, mas de uma profunda e muitas vezes imperceptível transformação que ocorre em cada indivíduo e também nas coletividades que entendemos como sociedades. Nesse sentido, podemos dizer que o mundo muda quando as pessoas passam por mudanças individuais e/ou coletivas, estas que podem demorar épocas para serem percebidas e compreendidas. As catástrofes e transformações naturais são por si mesmas mais abruptas, embora possam ser constatadas em curso através do tempo. Também elas são provocadas ou contam em algum estágio com a intervenção humana, apesar de ocorrerem com certa autonomia.

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A paz como revolução

O fechamento dos ciclos anuais normalmente nos faz repensar a vida e estipular objetivos e metas a serem alcançados ao longo do ano. Todos nós somos estimulados a criar uma esperança por um futuro que seja melhor que o passado e o presente. E para alcançar o futuro tão esperado, intensificamos os pedidos e as promessas para que uma realidade melhor venha até nós operando verdadeira transformação. Folhinha do calendário virada, vamos percorrendo a estradas dos dias esperando pelo momento em que nossas expectativas serão consumadas e nossos desejos satisfeitos. Esperamos que a paz aconteça entre os povos, que a justiça seja limpa e julgue com imparcialidade; esperamos que os pobres tenham vez e voz e que os enfermos recuperem a saúde; esperamos não sentir dor e viver com alegria. No fundo, desejamos não sofrer e passar por este mundo sem muitas pelejas. Nossas esperanças se resumem a não morrer e viver uma vida tranquila e feliz.

A música Dias Melhores, do compositor e cantor mineiro Rogério Flausino, expressa bem esse sentimento de expectativa de um futuro com maior qualidade e a respeito do qual estamos falando. Os versos da canção reverberam: “Vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás [...]”. De fato, os versos podem ser lidos, ao menos, sob duas perspectivas: a primeira consiste numa expectativa acomodada, segundo a qual estamos em estado de inércia esperando que as coisas se transformem sem a nossa ação; a segunda é, justamente, o contrário e se refere a uma espera operante, que compreende nossos esforços para uma transformação real e profunda de todas as estruturas. Obviamente, a segunda alternativa nos livra da irresponsabilidade diante dos objetivos e metas que traçamos para nós e para nossas sociedades. Depende de nós que os dias se tornem melhores e de paz, não a paz silenciosa que caminha de mãos dadas com as injustiças praticadas pelos poderosos, mas aquela que é sinônima de uma vida plena e digna para todas as pessoas e povos.

Nesse sentido, outros versos também nos chamam a atenção: “Vivemos esperando o dia em que seremos melhores, melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo [...]”. Os dias de paz só podem acontecer quando nos decidimos a nos tornar pessoas melhores do que somos hoje. A conversão interior, que é individual, é a chave para as demais transformações que desejamos, inclusive as sociais. Sem uma verdadeira mudança de atitudes viveremos iludidos por expectativas que não podem ser alcançadas sem a nossa participação. Para isso, é importante destacar que nos tornamos melhores quando somos capazes de enfrentar as dores do mundo com muito amor. Só o amor exercido em direção ao outro é capaz de edificar sociedades e povos na paz que almeja a mais vida do ser humano e do mundo. Por isso, “amar e mudar as coisas” deveria consistir no interesse e no esforço de todos e todas. Sejamos as melhores pessoas que pudermos ser, viveremos “dias melhores pra sempre”.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com.

Fonte:domtotal,com

 


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