Sem uma verdadeira mudança de atitudes
viveremos iludidos
por expectativas que não podem ser alcançadas
sem a
nossa participação. (Brooke Cagle by Unsplash)
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Os dias de paz só podem acontecer quando nos decidimos a nos tornar pessoas melhores do que somos hoje.
Nenhuma mudança é
operada no mundo sem a própria metamorfose daqueles que fazem do cosmos sua
habitação. Por isso é que podemos dizer que as coisas só se modificam na medida
em que o ser humano muda seus hábitos, costumes e crenças. Não se trata de uma
mudança superficial, mas de uma profunda e muitas vezes imperceptível
transformação que ocorre em cada indivíduo e também nas coletividades que
entendemos como sociedades. Nesse sentido, podemos dizer que o mundo muda
quando as pessoas passam por mudanças individuais e/ou coletivas, estas que
podem demorar épocas para serem percebidas e compreendidas. As catástrofes e
transformações naturais são por si mesmas mais abruptas, embora possam ser
constatadas em curso através do tempo. Também elas são provocadas ou contam em
algum estágio com a intervenção humana, apesar de ocorrerem com certa
autonomia.
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A paz como revolução
O fechamento dos ciclos
anuais normalmente nos faz repensar a vida e estipular objetivos e metas a
serem alcançados ao longo do ano. Todos nós somos estimulados a criar uma
esperança por um futuro que seja melhor que o passado e o presente. E para
alcançar o futuro tão esperado, intensificamos os pedidos e as promessas para
que uma realidade melhor venha até nós operando verdadeira transformação.
Folhinha do calendário virada, vamos percorrendo a estradas dos dias esperando
pelo momento em que nossas expectativas serão consumadas e nossos desejos
satisfeitos. Esperamos que a paz aconteça entre os povos, que a justiça seja
limpa e julgue com imparcialidade; esperamos que os pobres tenham vez e voz e
que os enfermos recuperem a saúde; esperamos não sentir dor e viver com
alegria. No fundo, desejamos não sofrer e passar por este mundo sem muitas
pelejas. Nossas esperanças se resumem a não morrer e viver uma vida tranquila e
feliz.
A música Dias
Melhores, do compositor e cantor mineiro Rogério Flausino, expressa bem esse
sentimento de expectativa de um futuro com maior qualidade e a respeito do qual
estamos falando. Os versos da canção reverberam: “Vivemos esperando dias
melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás [...]”.
De fato, os versos podem ser lidos, ao menos, sob duas perspectivas: a primeira
consiste numa expectativa acomodada, segundo a qual estamos em estado de
inércia esperando que as coisas se transformem sem a nossa ação; a segunda é,
justamente, o contrário e se refere a uma espera operante, que compreende
nossos esforços para uma transformação real e profunda de todas as estruturas.
Obviamente, a segunda alternativa nos livra da irresponsabilidade diante dos
objetivos e metas que traçamos para nós e para nossas sociedades. Depende de
nós que os dias se tornem melhores e de paz, não a paz silenciosa que caminha
de mãos dadas com as injustiças praticadas pelos poderosos, mas aquela que é sinônima
de uma vida plena e digna para todas as pessoas e povos.
Nesse sentido, outros
versos também nos chamam a atenção: “Vivemos esperando o dia em que seremos
melhores, melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo [...]”. Os dias
de paz só podem acontecer quando nos decidimos a nos tornar pessoas melhores do
que somos hoje. A conversão interior, que é individual, é a chave para as
demais transformações que desejamos, inclusive as sociais. Sem uma verdadeira
mudança de atitudes viveremos iludidos por expectativas que não podem ser
alcançadas sem a nossa participação. Para isso, é importante destacar que nos
tornamos melhores quando somos capazes de enfrentar as dores do mundo com muito
amor. Só o amor exercido em direção ao outro é capaz de edificar sociedades e
povos na paz que almeja a mais vida do ser humano e do mundo. Por isso, “amar e
mudar as coisas” deveria consistir no interesse e no esforço de todos e todas.
Sejamos as melhores pessoas que pudermos ser, viveremos “dias melhores pra
sempre”.
*Tânia da Silva Mayer
é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
(FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail:
taniamayer.palavra@gmail.com.
Fonte:domtotal,com
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