quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A NOSSA CASA É O MUNDO.

Afirmar que nossa casa é o mundo é saber que, habitando neste mundo,
 temos que reconhecer a sua diversidade, sua complexidade e suas possibi
lidades, bem como a nossa responsabilidade para com ele. (Ben White/ Unsp)


A máxima cristã de "estar no mundo sem pertencê-lo" nem sempre foi lida sob a ótica da bem-aventurança "felizes os mansos, porque herdarão a terra". Isso levou a crer que alienação do mundo era uma característica cristã que tinha sua esperança somente na vida pós-morte, o que não é verdade. Um exemplo de espiritualidade encarnada está na concepção jesuíta do mundo como lugar de missão.

Considerado um dos mais influentes jesuítas na Companhia de Jesus nascente, em pleno século XVI, o padre Jerônimo Nadal nasceu na Espanha mas era um homem de vocação universal. Tendo estudado em Paris, conheceu Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros, unindo-se a eles um tempo mais tarde. Dentre outras características, o padre Nadal teve a sua vida marcada pelas inúmeras viagens que realizou como porta voz e assistente confiável de Inácio no processo de promulgação das Constituições da Ordem Religiosa recém fundada.

“A nossa casa é o mundo”. Nesta famosa frase, Padre Nadal sintetizou o espírito missionário jesuítico. Longe de fugir do mundo, o jesuíta é aquele que aceita e acolhe viver como peregrino, tendo a mobilidade e a flexibilidade como requisitos necessários para realizar a missão que Cristo, através da Igreja lhe confia. Ou seja, as nossas casas e obras não podem ser as de paredes intransponíveis nem nossas igrejas cercadas por uma fortaleza onde todos pensam igual. Pelo contrário. Ao longo da História, os jesuítas fizeram, e continuam fazendo, do mundo a sua casa, pois compreendem que as exigências do Reino não conhecem fronteiras.

Afirmar que nossa casa é o mundo é saber que, habitando neste mundo, temos que reconhecer a sua diversidade, sua complexidade e suas possibilidades, bem como a nossa responsabilidade para com ele. Essa expressão é bastante sugestiva e atual em nossos dias. Ela já não é mais exclusivamente para os jesuítas. É para todos e todas. Assumir e atualizar esta frase do padre Nadal em nossa vida, hoje, é sentirmos habitantes de uma casa comum que clama por cuidados. É lutar para abrir as portas fechadas e, saindo de nossa rotina e de nossas incertezas, escutar o clamor do outro. Ou ainda, como disse o Papa Francisco em sua encíclica ‘Laudato Si’ (n.13), ‘o urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral(...) A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum.”

A nossa fé exige de nós uma abertura de coração para romper fronteiras físicas e existenciais, derrubar os muros, construir pontes, promover encontros e proclamar a Palavra que liberta. Assim, tendo o mundo como casa teremos o Reino de Deus também como nosso e como realidade presente.

*Carlos César é bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Estudou na Universidad de La República (UdelaR), em Montevideo. Atualmente estuda na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. (FAJE); é jesuíta. e-mail: carloscesarsj@outlook.com

Fonte: domtotal.com

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