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Dom Sergio Eduardo Castriani: Arcebispo de Manaus - AM |
Fiquei
surpreso ao saber que a Igreja Católica em Manaus está sob suspeita de estar
preparando uma ofensiva contra o governo no Sínodo que vai acontecer em
outubro. Ao que tudo indica, as reuniões preparatórias que aconteceram na nossa
cidade foram monitoradas pelos órgãos de informação. A minha primeira reação
foi de estranheza pois nada fizemos de secreto. Centenas de textos de trabalho
foram distribuídas. O que levou a esta suspeita? Tudo indica que é o medo de
críticas e de oposição. Além disto, atribuir a preparação do Sínodo a uma
orientação política da Igreja Católica mostra que a Igreja é pouco
compreendida. Faço parte da Comissão da Amazônia da CNBB que foi constituída
para fazer com que a Igreja no Brasil se solidarizasse com a Igreja na Amazônia,
ao mesmo tempo, sendo desta região no conjunto da Igreja. Sei quanto este
Sínodo está sendo um sinal de esperança para o nosso povo, sobretudo aqueles
que nunca são ouvidos. Vi e testemunhei o encontro de bispos com ribeirinhos e
comunidades indígenas. Assisti a reuniões de jovens que puderam se expressar
livremente sobre temas antes vistos como tabus em rodas de conversa e escutas
que se multiplicaram por todo o território panamazônico.
A
preocupação de todos é a evangelização e a maior demanda é que se pensa na
Eucaristia que não pode ser celebrada por falta de ministros. São preocupações
que vem de longe. A estas se juntam à preocupação com a Casa Comum, numa
Ecologia Integral. E neste aspecto os povos originários tem muito a nos
ensinar. Também os ribeirinhos adquiriram a arte de viver e conviver na
floresta. Os melhores projetos de desenvolvimento sustentável são os que aliam
conhecimento científico e sabedoria popular. O Sínodo da Amazônia já é um
evento bem-sucedido porque já provocou um grande mutirão de participação nas
reflexões nunca visto em Sínodos anteriores. É o Povo de Deus que caminha na
história e que quer ser ouvido em questões que são vitais para a humanidade.
Questiona-se
a competência da Igreja para tratar destes assuntos. Ela está presente na
Amazônia desde o início da sua ocupação pelos europeus. Tem um conhecimento da
realidade que vem da convivência dos seus ministros com o povo. Os bispos que
participarão da Sínodo são pastores atentos à vida do rebanho e agem sem
segundas intenções quando defendem seus direitos e denunciam a violação dos
mesmos. Os missionários estiveram entre os primeiros a descrever a região e
seus habitantes. A Igreja encara com seriedade a sua missão e sempre procurou o
melhor para os seus fiéis. Não jogamos para a plateia e nem visamos o dinheiro
fácil e abundante que sempre atraíram os olhares cobiçosos para esta região,
fonte inesgotável de riquezas.
Nos meus
quarenta anos de convivência com os povos da floresta, aprendi mais que
ensinei. Aprendi a respeitar a natureza. Não se brinca com ela. As
consequências da destruição do meio ambiente são trágicas. Não é só a religião
que afirma isto, mas também a ciência. Falar disto não é um atentado contra a
soberania nacional, mas é colocar nossa pátria na vanguarda da defesa da vida
no planeta.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL EM
TEMPO
17.2.2019
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