Fácil
é julgar quando, na verdade busca se defender,
encobrir
as próprias fragilidades, atribuindo ao outro
os próprios defeitos. (Adi Goldstein/Unsplash)
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É perigoso e irracional a
conduta de indivíduos que se colocam na condição de juízes dos outros, em
relações interpessoais, sociais e políticas
Há
evidente falta de competência para medir-se e avaliar-se. Fácil é julgar o
outro e emitir juízos com requintes de crueldade, quando, na verdade, aquele
que julga, busca se defender, encobrir as próprias fragilidades, atribuindo ao
outro os próprios defeitos.
Daí
nasce um grau considerável de perversidade que alimenta sentimentos, posturas e
escolhas, com sérios comprometimentos, e não se consegue fazer valer a verdade,
a justiça e a liberdade. Instala-se, assim, verdadeiro caos: mentiras tomam o
lugar da verdade, liberdades são comprometidas e faltam as condições
necessárias para o exercício da justiça.
A
admirável maestria de Jesus indica aos discípulos uma qualificação que há de
sustentar seus posicionamentos e escolhas – a indispensável autocrítica, tão
pouco usada, em razão das conveniências e dos vícios que adoecem sentimentos e
comprometem as escolhas. Sem essa autoavaliação, as portas se escancaram para
juízos temerários, estabelecendo o princípio de um jogo sórdido que visa
exclusivamente vencer desonestamente as disputas.
Por
tudo isso, Jesus condena o juízo temerário, com a indicação da autocrítica do
remédio eficaz, indispensável para corrigir opiniões infundadas e caluniosas a
respeito das outras pessoas. Do contrário, a insistência no uso desse recurso
perverso, que tem se tornado sempre mais frequente, continuará distanciando a
cidadania de um princípio inegociável: o bem, que só se constrói sobre os
alicerces da verdade, e a justiça só pode ser alcançada quando se coloca no
horizonte a meta do amor.
É
fundamental reconhecer a necessidade de se recuperar a seriedade e o
discernimento a respeito da gravidade que representa avaliar a moral do outro,
para que não se lese dignidades. Jesus, neste ensinamento, “com a medida com
que medirdes sereis medidos”, alerta para que a armadilha destinada aos outros
não seja caminho do próprio fracasso e também do fracasso nas relações humanas,
políticas e sociais. Quem julga severa e injustamente o outro escancara
as portas para ser assim tratado pela justiça, particularmente pela justiça
divina.
O
juízo de condenação do outro não é exclusivamente conduta abusiva, mas
extremamente perigosa. Por isso mesmo, a sabedoria do uso adequado da medida se
desdobra em um princípio desafiador: não fazer aos outros aquilo que não
gostaria que lhe fizessem.
À
luz desse ensinamento, no horizonte quaresmal que convida ao inadiável diálogo,
a contemporaneidade exige nova aprendizagem e práticas, quando se trata do ato
de julgar.
Lamentavelmente,
juízos se fundam mais nos interesses e nas conveniências, em vista de metas a
serem alcançadas a todo custo, comprometendo gravemente a essencialidade das
relações sociais. Faltando lucidez nas escolhas, os atores sociais se tornam
medíocres, construindo, à sua imagem, os parâmetros do conjunto sociopolítico e
cultural. Exemplar é a indicação de querer tirar o cisco do olho alheio quando
ainda não se dá conta de tirar a trave do próprio olho. Sem esse processo
corretivo, e da sensibilidade recuperada por meio das dinâmicas de conversão,
serão perpetuadas as perversidades, facilitadas pela rapidez e amplitude das
redes sociais. O resultado nefasto será sempre o comprometimento da verdade, da
justiça e das liberdades.
Em
tempos de gravíssimo déficit de espiritualidade se torna ainda mais forte o
convite à conversão, especialmente nessa Quaresma, a partir do desafio contido
nas palavras do Mestre -“sereis medidos com a medida com que medirdes”
D; Valmor Oliveira de Azevedo
Fonte: domtotal.com
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