sexta-feira, 19 de abril de 2019
PAPA VISITA A PRISÃO PARA O LAVA-PÉS: "POR QUE ELES E NÃO EU?"
O vice-coordenador da Pastoral
Carcerária Nacional, Padre Gianfranco Graziola, missionário da Consolata,
comenta a decisão do Papa Francisco de mais uma vez realizar na prisão a missa
com o rito do Lava-pés. Sua reflexão é inspirada na frase que o Pontífice
repete com frequência: "Por que eles e não eu?".
Pe. Gianfranco
Graziola - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco volta
mais uma vez a celebrar a Ceia do Senhor com o rito do Lava-pés entre os muros
de um cárcere, escolhendo este ano Velletri, na Província de Roma. Todas as
vezes que Francisco encontra o mundo do cárcere costuma repetir uma frase que
virou um lema: “Por que eles e não eu?”
Estas palavras que
parecem ser tão simples, na realidade são um grande questionamento que
Francisco coloca a si próprio, mas também a cada um e cada uma de nós que acha
normal que uma pessoa pague, ou seja, castigada pelos seus atos e,
consequentemente, encarcerada.
Ouça
a reflexão do Padre Graziola
Mundanismo espiritual
Ajuda-nos a
compreender melhor esta provocação do Bispo de Roma o texto da comunidade de
João, que, ao invés de nos narrar as palavras da instituição da Eucaristia,
coloca no centro o Lava-pés, dizendo-nos que para seguir Jesus é preciso fazer
um dúplice movimento: deixar-nos lavar os pés e lavar os pés uns dos outros.
No diálogo entre Jesus
e Pedro, sobressai o que muitas vezes nós somos: arrogantes e
autorreferenciais, chegando a afirmar como ele: “Tu nunca me lavarás os pés!”.
Com o resultado que nossa vida cristã se reduz à superficialidade e ao
mundanismo espiritual.
Precisamos ouvir mais
uma vez como Pedro as palavra claras de Jesus: “Se não te lavar os pés não
terás parte comigo”. É preciso assumir a atitude de serviço, de humildade, de
entrega do mestre se quisermos entrar e tomar parte da vida e do projeto dele
que Francisco, sucessor de Pedro e Bispo de Roma, expressa não apenas em suas
palavras, mas concretamente em suas ações, como o partilhar a mesa com os
pobres, com nossos irmãos de rua, com os encarcerados e encarceradas ou
visitando nas sextas-feiras da misericórdia realidades e situações que
expressam concretamente o lavar e deixar-se lavar os pés – fato que acontece
todas as vezes que nos colocamos na escuta atenta e fraterna das dores e das
angústias de quem não tem vez e voz, de quem é invisível em nossa sociedade de
consumo e muitas vezes também em nossos templos.
Por isso, também um
dos últimos gestos de Papa Francisco de se abaixar e beijar os pés dos lideres
políticos do Sudão do Sul expressa uma inversão da lógica onde a verdadeira
força da transformação está no serviço, expressão da civilização do amor.
João Crisóstomo
afirmava:
“ Todas as vezes
que vedes um pobre (...), recordai-vos que tendes sob os vossos olhos um altar.
”
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O papa das referências humanas na humildade
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