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Dom Reginaldo Andrietta, Bispo de Jales
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“A vida é tão curta”. Isso é senso
comum. Jamais se ouve o contrário. No Brasil, ela tem se tornado especialmente
curta para nascituros, impedidos de nascer; para crianças, por desnutrição e
diarreias; para adolescentes desencantados; para jovens, especialmente “afros”,
assassinados até mesmo por Forças de Segurança; para trabalhadores acidentados;
para vítimas do álcool no trânsito; e para idosos desprotegidos. São vidas
“ceifadas antes do tempo”.
O que significa festejar a “Páscoa”
neste país com potencial para qualidade de vida e longevidade, preso, no
entanto, nas “malhas da morte”? Seus problemas são sistêmicos. Não lhe bastam
reformas, sobretudo as que pioram a situação econômica, social e educacional,
como vem ocorrendo nos últimos anos, com promessas enganadoras. Sem
transformações sensatas continuaremos comprando passagens para o “vale da
morte”, pagando caro.
Neste mundo, somos, sim,
passageiros, mas com destino à vida plena. Cristo, o Filho de Deus que adquiriu
condição humana, assim concebeu sua missão: “Eu vim para que todos tenham vida,
e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ele se fez luz para os humanos que, por
fim, amaram mais as trevas (cf. Jo 3,19), rejeitando-o e matando-o. “Aquele que
conduz à vida, vós os matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disto nós
somos testemunhas” (At 3,15).
A vitória de Cristo sobre o sistema
que o aniquilou e sobre a própria morte, anunciada assim pelo apóstolo Pedro, é
o testemunho que nós, cristãos, damos hoje, festejando a Páscoa em seu
verdadeiro sentido. Na Páscoa de Cristo celebramos nossa própria páscoa, pois,
nele nos tornamos novas criaturas. Somos vocacionados à revelação plena dos
filhos e filhas de Deus (cf. Rm 8,19). Por isso, cremos que “os sofrimentos do
tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós”
(Rm 8,18).
Vivemos, ainda, em condições
desumanas. Estamos nos destruindo, aniquilando a vida do planeta, nossa “Casa
Comum”. A mortalidade infantil volta a crescer. Portas para o trabalho digno se
fecham. Serviços públicos são sucateados. Indígenas, afrodescendentes e outros
são discriminados. A violência dissemina-se, também em instituições do Estado.
Clamores de oprimidos são reprimidos.
Qual canto nos inspira neste tempo
de desencantos, senão o de esperança em Cristo, vencedor do pecado e da morte?
Quem nele crê, ainda que tenha morrido, viverá (cf. Jo 11,25). Confiemos,
portanto, em Cristo Ressuscitado! Ele nos encoraja: “No mundo, tereis
tribulações, mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33); “Como o Pai me
enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21).
Vocacionados à revelação plena de
nossa filiação divina, devemos, pois, ser luzes para os destinos do mundo,
especialmente de nossa nação, por meio de nossa participação ativa na
elaboração e implementação de políticas públicas, conforme nos propõe a
Campanha da Fraternidade deste ano, sob o lema: “Serás libertado pelo direito e
pela justiça” (Is 1,27).
Alertando-nos que os filhos deste
mundo são mais espertos que os filhos da luz (cf. Lc 16,8), Cristo exorta-nos a
sermos lúcidos e autênticos em nossa fé, assumindo com coragem a missão
libertadora e humanizadora que ele nos confia! Que a luz de Cristo brilhe,
então, em nossos corações e nossas ações! Feliz Páscoa, em Cristo Ressuscitado!
Aleluia!
Fonte:cnbb.net.br
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