Dra. Ally
Kateusz examina artefatos do quinto século que parecem representar mulheres em
funções litúrgicas.
Mosaico oculto de Maria com o pálio episcopal com
uma cruz vermelha, Capela de São Venâncio, Batistério de Latrão. (Giovanni
Battista de Rossi, mosaicos cristãos e ensaios sobre o chão das igrejas de Roma
antes do século XV)
O debate sobre a ordenação feminina na Igreja Católica depende do papel
das mulheres no cristianismo primitivo.
Quando abordou a questão das mulheres diaconisas, o papa disse que a
comissão por ele montada para examinar as origens históricas das diaconisas não
chegou a um consenso nem conclusão de elas, de fato, terem recebido a ordenação
sacramental ou não.
Ele disse a um grupo de irmãs superioras de congregações religiosas no
mês passado: "Eu não posso fazer um decreto sacramental sem um fundamento
histórico teológico".
Quanta ênfase pode ser dada à arte ou aos artefatos da Igreja primitiva?
Dra. Ally Kateusz, pesquisadora associada do Instituto Wijngaards e
historiadora, acredita que há muitas evidências mostrando que as mulheres
estavam presentes nos altares.
Ela esteve em Roma esta semana para apresentar sua teoria na Pontifícia
Universidade Gregoriana em uma palestra e discutir as descobertas que estão em
seu livro Maria e as mulheres cristãs primitivas: liderança oculta,
publicado este ano por Palgrave Macmillan.
Nesse livro, dra. Kateusz examina artefatos do quinto século da Antiga
Basílica de São Pedro, em Roma, e da Hagia Sophia, em Constantinopla, que
parecem representar mulheres em funções litúrgicas.
"Esses artefatos antigos mostram a liturgia cristã primitiva como
foi realizada naquela época", disse a pesquisadora enquanto estava em
Roma. “Uma liturgia de gênero pareado – homens e mulheres no altar”.
O argumento de dra. Kateusz é que os primeiros cristãos foram
influenciados por seitas judaicas como os Therapeutae, um grupo que
existia fora de Alexandria, e que dava papéis na liturgia a homens e mulheres
na ministração dos cultos.
Terceiro artefato
mais antigo para retratar pessoas no altar de uma igreja real; A-C Anastasis,
Jerusalém
“Uma teologia abrangente para a liturgia poderia considerar a partir da
passagem paulina que ‘não há nem judeu nem grego, porque ambos, judeus e
gregos, eram líderes na ecclesia; não há nem escravo nem livre,
porque ambos eram líderes na ecclesia; e não há nem homem nem
mulher, porque ambos eram líderes na ecclesia”, disse Kateusz.
A acadêmica é historiadora da antiguidade tardia e tem lecionado na
Webster University, no Missouri, e na University of Missouri-Kansas City. Seus
interesses, conforme diz, são principalmente culturais e históricos, e não
teológicos.
Um dos dois
artefatos mais antigos para retratar pessoas no altar de uma igreja real;
Segunda Hagia Sophia, Constantinopla, Frente de sarcófago de pedra, ca. 430
Em seu livro, Kateusz também aponta para uma capela com um mosaico de
San Venantius no Batistério Laterano, em Roma, que mostra Maria usando o que
parece ser um pálio, um símbolo da autoridade episcopal dada aos novos
arcebispos. Ela cita um historiador de arte russo, Alexei Lidov, que descreve o
mosaico do século VII como um símbolo do sacerdócio de Maria. Em 1916, no
entanto, o Vaticano proibiu imagens de Maria vestidas com essas roupas e a
figura foi posteriormente obscurecida.
Dra. Kateusz não é a única pessoa que tem examinado o papel das mulheres
na Igreja através da arte e dos artefatos antigos. Em seu livro de 2017 Crispina
e suas irmãs: as mulheres e a autoridade no início do cristianismo,
(Fortress Press), a irmã Christine Schenk diz que a arte sobre os sarcófagos
dos séculos 3 e 5 mostra mulheres ensinando e pregando.
A freira da congregação das Irmãs de São José, com sede nos EUA, foi
inspirada a escrever o livro depois de uma visita ao museu de antiguidade
cristã Pio Cristiano, nos Museus Vaticanos, doze anos atrás, onde notou uma
mulher em destaque central, segurando um livro num modo de pregação, cercada
por figuras masculinas de discípulos.
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