sexta-feira, 9 de agosto de 2019
9 DE AGOSTO: DIA MUNDIAL DOS POVOS INDÍGENAS COMEMORADO PELAS NAÇÕES UNIDAS
O
Brasil comemora o Dia do Índio em 19 de abril, e o mundo faz a sua homenagem
aos Povos Indígenas neste 9 de agosto – em data instituída pelas Nações Unidas.
Neste ano, além de contribuir para a preservação do patrimônio histórico
cultural, a Unesco motiva para a proteção das línguas diante do perigo de
extinção iminente de idiomas nativos.
“Eu nasci e fui criada aqui na Aldeia Murutinga. Meu pai se
chama Arivaldo Ruso Braga e, minha mãe, Raimunda Cabral de Amorim – que faleceu
ano passado, em 14 de maio. Há muitos anos que eu vivo aqui nesta aldeia e,
desde criança, eu venho vendo as diferenças a cada ano que passa. Antes, quando
eu me criei aqui, era muito farto. O nosso cacique aqui da aldeia e as regras
eram muito muito diferentes de hoje. Meu avó foi cacique durante 42 anos aqui
nesta aldeia. Todo o povo obedecia ele. Ele era um sábio aqui dentro e, na hora
que ele chamava, todo mundo vinha. E todo mundo aqui trabalha no coletiva. Nós
temos as nossas danças indígenas – a nossa dança é dança da cotia que é feita
há muito anos –; a tradição da nossa festa aqui, de Santo Antônio, também já
acontece há mais de 300 anos. Antigamente, os festejos do Santo Antônio aqui
tinha de comida o tambaqui, o pirarucu, veado, porco do mato, era tudo dado,
nada era vendido. A iluminação era feita de banha de pirarucu, de banha de
tambaqui, – a minha vó falava: ‘banha de peixe-boi’.”
O
testemunho é de Amelia Braga Cabral, professora na Escola Indígena Manuel
Miranda, da aldeia de Murutinga que fica na cidade de Autazes, centro urbano de
Manaus, no Amazonas. A paixão pelo ensino foi passada para a maioria dos seus 9
filhos, que também se tornaram professores.
A
família pertence à comunidade indígena Mura, que ocupa vastas áreas no complexo
hídrico e por isso é conhecido como um povo navegante e de ampla mobilidade
territorial. O grupo se esforça em preservar a língua nativa, através da
valorização de expressões e resgate linguístico para enfrentar a triste
realidade vivida no mundo: a cada 14 dias morre um idioma no mundo, segundo a
Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Mas o risco é que o número seja ainda maior, já que algumas línguas nunca foram
estudadas em comunidades isoladas.
E
os nativos que as sustentam na América Latina são os que mais sofrem com essa
extinção. Não é considerada a região com maior número de línguas, nem de
falantes de idiomas nativos, mas a América Latina apresenta a maior diversidade
delas. Os dados são do Atlas Sociolinguístico de Povos Indígenas, de 2009, mas
que ainda hoje é um dos trabalhos mais completos para desvendar essa realidade.
Ano Internacional das Línguas Indígenas
Devido
ao patrimônio cultural e ao perigo de extinção iminente de idiomas nativos, a
Unesco declarou 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas e, neste
dia 9 de agosto, o mundo comemora o Dia Internacional dos Povos Indígenas com o
tema direcionado à proteção cultural idiomática dos índios. Para a instituição,
o direito de uma pessoa utilizar a língua que prefere para se comunicar é “um
pré-requisito para a liberdade de pensamento, opinião e expressão”.
Povo Mura começa a reviver
Edna
Margarida Pitarelli, que trabalha há 20 anos no Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), atua diretamente com os direitos do povo Mura, do Rio Madeirinha.
Segundo ela, eles estão unindo forças em nome da comunidade, num movimento que
ajuda a proteger tanto a cultura local, como os direitos do povo em relação à
atividade mineradora na região.
Questionada
sobre a esperança de que, em 10 anos, os indígenas da comunidade possam viver
como eles realmente desejam, ela foi otimista:
“Eu creio que sim, porque eles estão descobrindo que, sem a
terra, sem a língua e sem a cultura, eles podem se acabar enquanto povo. E, no
momento em que eles tomaram essa consciência, ficaram mais fortalecidos para
lutar e tentar defender a questão do território. Então, agora, por exemplo, já
pediram pra gente uma oficina que os ajude a mapear um território único, não
mais individual de cada aldeia. Por isso, eu creio que eles começam a reviver
novamente enquanto povo. Um exemplo disso é que este ano eles já realizaram o
III Encontro do Povo Mura. Eles começaram a se unir enquanto povo.”
Fonte: VaticanNews
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