domingo, 20 de outubro de 2019
PADRES SINODAIS FIRMAM PACTO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE
Ato em Roma reuniu 200 religiosos,
indígenas e agentes de pastorais com missa conduzida pelo cardeal brasileiro
dom Claudio Hummes
Cidade do Vaticano – Com o título “Pacto das catacumbas pela casa
comum: por uma Igreja com rosto amazônico, pobre, servidora e samaritana”, 200
pessoas, entre padres sinodais, membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam),
lideranças indígenas e outros agentes de pastoral se comprometeram, neste
domingo (20), com os ideais propostos pelo Sínodo Pan-Amazônico, que se realiza
em Roma até o dia 27.
“Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e
exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender os territórios e, com
nossas atitudes, a floresta amazônica em pé”, diz o primeiro artigo do
documento.
Foi celebrada uma missa nas catacumbas de Santa Domitila, em Roma,
presidida pelo cardeal dom Claudio Hummes, relator da assembleia de bispos em curso.
"Deus escuta nossas orações. Será que Deus fará os povos indígenas
esperarem? Deus não os fará esperar. Deus faz justiça bem depressa. Deus lhes
fará justiça bem depressa”, disse o cardeal durante o sermão.
Confira o álbum de fotos!
Tudo sobre o Sínodo da Amazônia
O ato deste domingo foi celebrado no mesmo local que testemunhou o
evento que marcou a história da Igreja latino-americana na década de 60. Após a
celebração, os participantes assinaram o documento em memória ao documento de
1965, quando 42 bispos renunciaram, em ato público, aos bens materiais,
privilégios de poder e assumiram uma opção preferencial pelos pobres. O texto
de 1965, elaborado durante o Concílio Vaticano II, teve como um dos principais
redatores o brasileiro dom Helder Câmara e contou, nas semanas seguintes, com a
assinatura de cerca de 500 prelados.
“Evocamos, com gratidão, aqueles bispos que, nas catacumbas de
Santa Domitila, ao término do Concilio Vaticano II, firmaram um pacto por uma
Igreja servidora e pobre”, diz a introdução texto.
O texto atual é composto por 15 partes, entre as quais foram
relembrados alguns pontos do antigo ato, como “renovar em nossas igrejas a
opção preferencial pelos pobres”. Desta vez, se faz uma menção especial “aos
povos originários” que vivem no território amazônico. “Denunciar todas as
formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à
sua identidade, aos seus territórios e à sua forma de vida”, diz um dos
trechos.
O documento também recorda todos aqueles que morreram “na promoção
de uma ecologia integral”, termo que ganhou relevância na encíclica Laudato
si, do papa Francisco. O Dom Total já havia divulgado, com
exclusividade, o pedido formal de reconhecer os mártires da Amazônia
apresentado ao papa.
“Recordamos com veneração todos os mártires membros das
Comunidades Eclesiais de Base, de pastorais e movimentos populares, lideranças
indígenas, missionários e missionárias, leigas e leigos, padres e bispos, que
derramaram seu sangue, por causa dessa opção preferencial pelos pobres, por
defender a vida e lutar pela salvaguarda da casa comum”.
No item 9, os bispos se comprometem a criar “uma Igreja de rosto
amazônico” que tenha bastante representatividade. Esse é um dos temas mais
debatidos pelo sínodo, o qual, aos poucos, tem ganhado força na assembleia.
“Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde
representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e
leigas, em razão do seu batismo, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas”,
ressalta.
No novo Pacto das Catacumbas, os religiosos também condenam o
colonialismo, defendem a concessão de um ministério especial às mulheres que
atuam na realidade amazônica e se comprometem a acolher imigrantes e
refugiados.
Leia a íntegra do documento:
Pacto das Catacumbas pela Casa Comum
Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e
samaritana
Nós, participantes do Sínodo Pan-Amazônico, partilhamos a alegria
de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos,
migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do
Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos
pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida
mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus
clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco:
“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e
aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da
Igreja.
Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa
Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma
Igreja servidora e pobre. Recordamos com veneração todos os mártires
membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares;
lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e
bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por
defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum. À gratidão por
seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem.
É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o
território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico
predatório e consumista.
Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das
Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na
África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos
apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e
em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro,
invocamos o Espírito Santo, e nos comprometemos pessoal e
comunitariamente com o que se segue:
Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da
exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios
e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas
para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do
carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica
socio diversidade para a humanidade e a Terra inteira.
Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e
filhas, formados do pó da terra (Gn 2, 7-8), hóspedes
e peregrinos (1 Pd 1, 17b e 1 Pd 2, 11), chamados a ser
seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1, 26). Para tanto,
comprometemo-nos com uma ecologia integral, na qual tudo está interligado, o
gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e
filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1,
2).
Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado:
“De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa
descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais
domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco
saíram da arca (Gn 9, 9-10 e Gn 9, 12-17).
Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em
especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem
protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras,
culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na
consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e,
consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam
acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e
culturas.
Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e
grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e
valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso
com todas as tradições espirituais.
Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e
direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às
suas formas de vida.
Anunciar a novidade libertadora do evangelho de Jesus Cristo, na
acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de
Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com
um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve
dizer que algum homem é profano ou impuro” (At 10, 28).
Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio
inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de
boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e
pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum
Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida
sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e
missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus
pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais
e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades.
Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais
já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas
indígenas, ministras e ministros e da Palavra, valorizando em especial seu
cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos.
Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma
pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa
da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades.
Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de
mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com
um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.
Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos,
com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos
migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores,
pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação.
Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida
alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a
produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização
de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público.
Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço
de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos
pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades
verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos,
exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento
e renovam a esperança.
Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez
diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que
sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto
no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna.
Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Hummes para nos
deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às
nossas igrejas:
“Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da
Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a
misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração,
meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e
espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus
pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa”.
Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor
cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma
igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar
do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O
mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão
Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias,
para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também
fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e
leva-nos a ser guardiões da criação inteira”.
Catacumbas de Santa Domitila
*Mirticeli
Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de
comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às
sextas-feiras.
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Só vi o Bispo de brejo do Maranhão. Cadê os outros bispos do Maranhão? Não participaram do pacto das catacumbas.
ResponderExcluirParabéns ao bispo de brejo do Maranhão pela sua participação neste evento.
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