sábado, 12 de outubro de 2019
SÍNODO: O SONHO DE "SEMINÁRIOS AMAZÔNICOS" E O DIACONATO FEMININO
No sexto encontro com os jornalistas
na Sala de Imprensa do Vaticano sobre o Sínodo para a Amazônia, a participação
dos bispos Adriano Ciocca Vasino, de São Félix (Brasil), Rafael Cob García,
Vigário de Puyo (Equador), do diácono brasileiro Francisco Andrade de Lima e da
Irmã Zully Rosa Rojas Quispe, missionária dominicana do Santo Rosário,
comprometida na pastoral indígena em Puerto Maldonado (Peru).
Alessandro Di
Bussolo, Silvonei José – Cidade do Vaticano
Um bispo equatoriano
com o sonho de "criar seminários amazônicos" e um bispo brasileiro
que espera poder ordenar mulheres diáconos em breve, se o Papa, no documento
pós-sinodal, autorizar o diacontato feminino, estiveram entre os protagonistas
do sexto encontro com os jornalistas realizado na Sala de Imprensa do Vaticano
sobre o Sínodo para a Amazônia, neste sábado. Ao lado um diácono permanente
indígena, casado e com duas filhas, que não vê problemas com a possibilidade
das mulheres exercerem "meu mesmo ministério" e uma religiosa peruana
que pediu que os seminaristas também estudem "a sabedoria ancestral dos
povos da Amazônia e suas muitas línguas".
Formação: a
palavra-chave é inculturação
Depois de dois dias de
Círculos Menores, a Comissão de Informação do Sínodo decidiu dedicar o encontro
com os jornalistas a temas relacionados com a formação, "dos servidores do
Povo", acrescenta dom Rafael Cob Garcia, que no Equador é Vigário
Apostólico de Puyo. Para ele, a palavra-chave para a formação dos futuros
sacerdotes e agentes pastorais na Amazônia "é a inculturação: levar o
Evangelho às culturas que devemos evangelizar". É difícil, e para isso
precisamos de sacerdotes e diáconos indígenas. Infelizmente, admite dom Cob
Garcia, há poucos seminaristas indígenas que chegam ao sacerdócio", porque
os professores dos seminários da cidade têm uma base cultural diferente,
"e muitos jovens indígenas desanimam e abandonam". E também os jovens
seminaristas indígenas e os anciãos de suas comunidades não entendem "a
norma canônica do celibato sacerdotal".
Cob Garcia: formadores
que conhecem a cultura indígena
O problema, explica o
vigário de Pujo, é que faltam professores preparados "para uma formação
inculturada e não é bom transferir os seminaristas para outras cidades".
Por isso, o sonho "é criar seminários amazônicos, com uma formação
diferente do ponto de vista acadêmico e prático" e ter formadores que já
vivam no lugar e conheçam a realidade amazônica. "Eles devem conhecer a
língua das comunidades indígenas, compartilhar sua vida cotidiana, contemplar e
deixar-se interpelar por aquilo que vivem. Para compreender como celebrar, para
uma liturgia inculturada, é preciso conhecer símbolos e sinais das culturas
indígenas”.
Dom Ciocca Vasino
(Brasil): escolas para animadores comunitários
"Para formar
sacerdotes missionários, o seminário já não é o lugar certo", disse dom
Adriano Ciocca Vasino, bispo prelado de São Félix, Brasil. "Por isso
começamos uma experiência alternativa para formar sacerdotes com uma teologia
que saiba mostrar Deus ao povo, um Deus presente em suas vidas”. Há sete anos
nesta diocese do Sul da Amazônia, nascida da experiência das comunidades de
base, onde os campos e as fazendas estão gradualmente tirando terras da
floresta, dom Ciocca Vasino, de origem italiana (piemontesa), destaca que ele
retomou "a formação dos animadores comunitários, animadores missionários e
até mesmo uma escola de teologia". Nesta última, explica o bispo
ítalo-brasileiro, que dura quatro anos, a teologia clássica foi ancorada na
realidade: "pergunta-se como Deus se faz presente na realidade em que
vivo, se vê como os teólogos e os pais da Igreja falam dela e depois se volta à
realidade". Os candidatos ao diaconato "devem trabalhar para se
manterem, serem inseridos numa comunidade como membros, não como meio
sacerdotes, com uma casa para viver. A comunidade, depois de 4 anos, diz-nos se
é adequado ou não e eu posso ordenar. Tenho também mulheres que estão fazendo o
caminho, algumas já são teólogas: sabem que se com o Sínodo e o documento do
Papa se abre ao diáconato feminino, eu as ordenarei diáconos, se a comunidade
em que prestaram serviço for favorável".
"Tenho 16 jovens
indígenas que querem ser padres e diáconos"
A realidade da
formação para os indígenas é diferente, porque estas escolas são frequentadas
principalmente por brancos, "que são a grande maioria dos fiéis da minha
diocese", explica dom Ciocca Vasino. "Há dois anos, se apresentaram
dezesseis jovens Xavantes, a comunidade indígena católica da minha diocese, que
querem ser diáconos e sacerdotes missionários em sua própria terra, - diz ele
-, por enquanto estão estudando na escola de animadores missionários".
"Mas francamente - admite - eu não sei como fazer para formá-los
adequadamente, estou procurando novos caminhos, também com os líderes das
comunidades”.
Um Sínodo sobre o papel
das Mulheres e os ministérios não-ordenados
Durante a atual
Congregação Geral - refere o prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa
Sé, Paolo Ruffini -, foi proposto, entre outras coisas, um Sínodo geral sobre o
papel da mulher e dos ministérios não-ordenados na Igreja. Reformular o curso
de estudos dos futuros sacerdotes, nos seminários, é a proposta da irmã Zully
Rosa Rojas Quispe, das Irmãs Missionárias Dominicanas do Santo Rosário, membro
da equipe itinerante "Bajo Madre de Dios", comprometida na pastoral
indígena do Vicariato Apostólico de Puerto Maldonado, Peru. "A formação
dos seminaristas - ressalta a religiosa - se limita à filosofia e não à
sabedoria ancestral e à aprendizagem das muitas línguas dos povos da Amazônia”.
O diácono indígena: a
família me acompanha no meu ministério
Um dos dois diáconos
presentes no Sínodo para a Amazônia, Francisco Andrade de Lima, secretário
executivo da Conferência Episcopal Regional do Norte do Brasil, também falou
sobre o diaconato feminino para dizer que não vê problemas "com a
possibilidade de mulheres exercerem meu mesmo ministério, mas a partir da
vocação e missão da Igreja Amazônica, e não apenas para suprir a falta de
pessoas para liderar a comunidade". "Sou casado, tenho duas filhas -
esclarece o diácono, nascido em uma comunidade indígena no Rio Solimões - e a
minha família me acompanha em todo o meu ministério".
Fonte: Vatican News
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