O Sínodo especial para a região Pan-Amazônica convocado pelo Papa Francisco, inspirado principalmente na encíclica Laudato Si, quer convidar toda a Igreja a um novo olhar para esta parte do nosso continente, já que esta região não abrange somente o Brasil, mas também a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Suriname e Guina francesa.
O nosso primeiro olhar deve ser de gratidão a Deus por sua infinita bondade ter nos oferecido a Amazônia como dom para nós e para todo o planeta. Contemplamos extasiados a beleza e a exuberância da natureza: a diversidade de povos e culturas; seus grandes rios; recursos minerais; a riqueza da fauna e da flora.
Neste ambiente não é difícil perceber a presença divina revelada em cada criatura, nas maiores árvores e rios do mundo até o menor dos animais.
Contudo, um olhar mais atento nos faz descobrir que para além de toda essa beleza descrita, esconde-se uma dura realidade. A Amazônia vem sendo brutalmente ferida e agredida pela ganância do agronegócio e de outros projetos econômicos que visam explorar de forma predatória a terra, os recursos minerais, a floresta e rios, gerando grande impacto nas populações originárias (indígenas, ribeirinhos quilombolas e camponeses), mas também com prejuízo para o próprio equilíbrio do meio ambiente como o aquecimento global, o envenenamento das fontes hídricas e extinção de espécies e culturas gerando uma crise socioambiental.
Este olhar mais intenso e profundo desperta em nós misericórdia e compaixão. Em sua homilia na missa de abertura do Sínodo o Papa Francisco declarou: “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja”.
A constatação dessa realidade deve provocar em cada cristão uma atitude de conversão ecológica, que vai desde o cuidado para não desperdiçar a água ou poluir o meio ambiente até ao nosso apoio às causas indígenas como a demarcação e a proteção dos seus territórios.
Na encíclica Laudato Sí o Papa Francisco afirma que “tudo está interligado”, para dizer que se destruirmos a natureza, todos nós pereceremos porque trata-se da nossa casa comum.
Neste Sínodo a Igreja é chamada a ouvir o grito dos pobres e da terra na Amazônia, assim como no Egito quando o povo de Israel sofria a escravidão, Deus disse: “Eu vi muito a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos” (Ex 3,7).
Além das questões socioambientais apresentam-se também os desafios para a ação evangelizadora da Igreja na Amazônia. O Papa Francisco nos pede que busquemos novos caminhos para a Igreja.
O número reduzido de presbíteros na região, mesmo com o esforço heróico dos missionário que aí se encontram, provoca a ausência da Eucaristia na maioria das comunidades. Há a necessidade de se promover uma pastoral vocacional que desperte vocações autóctones. Por outro lado observa-se o avanço do neopentecostalismo que se deve também a escassa presença da Igreja.
Dentro de um processo de conversão pastoral reflete-se também a urgência de passar de uma “pastoral de visita” para uma “pastoral de presença”. Neste ponto em particular é que se propõe a promoção de novos ministérios dentre os quais a ordenação de homens casados maduros na fé, com testemunho de vida e seguimento de Jesus Cristo a serviço da Igreja.
Considerando também a participação efetiva das mulheres na evangelização da Amazônia, como coordenadoras de comunidades, religiosas e leigas, é preciso que elas sejam reconhecidas com a instituição de um ministério específico.
Por fim, é preciso que se diga que a finalidade do Sínodo Pan-Amazônico não é oferecer respostas prontas para todos os desafios eclesiais e socioambientais, mas discernirmos o que “o Espírito diz à Igreja” (Ap 2,7). Ele que é o protagonista desse processo sinodal saberá indicar os melhores caminhos para a Igreja na Amazônia. Por isso, enquanto aguardamos a exortação pós-sinodal do Papa Francisco prossigamos na fé e na confiança com os pés firmes no chão de nossa realidade, mas com os olhos fixos n’Aquele que é o autor e consumador da nossa fé.
Dom Evaldo Carvalho dos Santos, CM
Bispo da Diocese de Viana – MA
Seja dada toda glória a deus pelo seu move do espírito santo dentro da igreja amém. Glória a Deus. Amém
ResponderExcluirO Seja dentro dois corações.
ResponderExcluirA igreja deve atualizar sua missão. Já é tempo
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