sexta-feira, 22 de novembro de 2019

ASSIM NÃO TEM FUTURO, NEM PRA POBRE NEM PRA RICO!


A sociedade brasileira tem bloqueado sua capacidade
de se sensibilizar (Agência Brasil)
A banalização da desigualdade está em todo lugar, no campo e na cidade.
A desigualdade social é o maior problema do Brasil. Estamos no topo de qualquer ranking de desigualdade que compare países do mundo.
Segundo dados do World Wealth & Income Database (base de dados mundial de riqueza e renda), banco de dados criado pelo francês Thomas Piketty1, “quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país, a maior concentração do tipo no mundo. Segundo os dados coletados pelo grupo de Piketty, os milionários brasileiros ficaram à frente dos milionários do Oriente Médio, que aparecem com 26,3% da renda da região.”
Este fenômeno, contudo, não é exposto ao grande público, o que ofusca a percepção do senso comum. É como se fosse natural pessoas viverem com menos de R$ 140 por mês em um país em que CEOs ou acionistas de grandes grupos econômicos recebem R$ 150 mil mensais.
A banalização da desigualdade está em todo lugar, no campo e na cidade, no pedinte que aborda o dono da BMW no sinaleiro, no sem-terra acampado em barraca de lona na beira da estrada.
A sociedade brasileira tem bloqueado sua capacidade de se sensibilizar. A preferência do senso comum é culpar o miserável pela miséria, o pobre pela pobreza. São os vagabundos, os criminosos, a serem extintos, senão da percepção das pessoas, fisicamente mesmo, como fazem ao queimar mendigos ou assassinar negros nas periferias. O país, hoje, busca políticas de combate aos pobres e não de combate à pobreza.
A desigualdade tem reflexos em diversas áreas. A Oxfam, em estudo recente, demonstra que “mantida a tendência dos últimos 20 anos, mulheres ganharão o mesmo salário que homens em 2047, enquanto negros terão equiparação de renda com brancos somente em 2089”. Para termos uma ideia, nesta Semana da Consciência Negra, como estamos distantes de uma democracia racial.
Por outro lado, o estudo também indica que os 10% mais ricos são responsáveis por mais da metade da emissão de carbono, já os 50% mais pobres emitem menos e são mais vulneráveis às mudanças climáticas. Quando uma metrópole é atingida pelo temporal quem mais sofre é quem pega ônibus, mora longe do trabalho, e não quem mora nos “Jardins” da vida….
Para piorar, o caminho que temos trilhado, em termos de políticas econômicas, parece desconsiderar a realidade. As privatizações, a redução das aposentadorias, o esforço de reduzir a capacidade de intervenção do estado na economia (do projeto ultraliberal do governo Bolsonaro) aposta na regulação econômica pelo mercado.
Contudo, o mercado não combate desigualdade, pelo contrário, o modelo de mercado puro tende à oligopolização e consequente concentração de renda. Sem estado para tributar mais os ricos que os pobres, para subsidiar projetos sociais e investimentos de infra-estrutura, bancando a educação pública voltada para as demandas sociais, desapropriando terras para a reforma agrária, e outras medidas redistributivas, a desigualdade aumentará.
Neste caminho não teremos futuro, nem para trabalhadores nem para o empresários, nem para as mulheres nem para os homens, nem para negras/os nem para brancas/os, nem para o pobre nem para o rico.
Marcelo Farah: Educador popular
 Fonte: domtotal.com

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