A sociedade brasileira tem bloqueado sua
capacidade
de se sensibilizar (Agência Brasil)
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A banalização da desigualdade está em todo lugar, no campo e na cidade.
A desigualdade social é
o maior problema do Brasil. Estamos no topo de qualquer ranking de desigualdade
que compare países do mundo.
Segundo dados do World
Wealth & Income Database (base de dados mundial de riqueza e renda), banco de dados criado pelo francês Thomas Piketty1,
“quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do
país, a maior concentração do tipo no mundo. Segundo os dados coletados pelo
grupo de Piketty, os milionários brasileiros ficaram à frente dos milionários
do Oriente Médio, que aparecem com 26,3% da renda da região.”
Este fenômeno, contudo,
não é exposto ao grande público, o que ofusca a percepção do senso comum. É
como se fosse natural pessoas viverem com menos de R$ 140 por mês em um país em
que CEOs ou acionistas de grandes grupos econômicos recebem R$ 150 mil mensais.
A banalização da
desigualdade está em todo lugar, no campo e na cidade, no pedinte que aborda o
dono da BMW no sinaleiro, no sem-terra acampado em barraca de lona na beira da
estrada.
A sociedade brasileira
tem bloqueado sua capacidade de se sensibilizar. A preferência do senso comum é
culpar o miserável pela miséria, o pobre pela pobreza. São os vagabundos, os
criminosos, a serem extintos, senão da percepção das pessoas, fisicamente
mesmo, como fazem ao queimar mendigos ou assassinar negros nas periferias. O
país, hoje, busca políticas de combate aos pobres e não de combate à pobreza.
A desigualdade tem
reflexos em diversas áreas. A Oxfam, em estudo recente, demonstra que “mantida
a tendência dos últimos 20 anos, mulheres ganharão o mesmo salário que homens
em 2047, enquanto negros terão equiparação de renda com brancos somente em
2089”. Para termos uma ideia, nesta Semana da Consciência Negra, como estamos
distantes de uma democracia racial.
Por outro lado, o estudo
também indica que os 10% mais ricos são responsáveis por mais da metade da
emissão de carbono, já os 50% mais pobres emitem menos e são mais vulneráveis
às mudanças climáticas. Quando uma metrópole é atingida pelo temporal quem mais
sofre é quem pega ônibus, mora longe do trabalho, e não quem mora nos “Jardins”
da vida….
Para piorar, o caminho
que temos trilhado, em termos de políticas econômicas, parece desconsiderar a
realidade. As privatizações, a redução das aposentadorias, o esforço de reduzir
a capacidade de intervenção do estado na economia (do projeto ultraliberal do
governo Bolsonaro) aposta na regulação econômica pelo mercado.
Contudo, o mercado não
combate desigualdade, pelo contrário, o modelo de mercado puro tende à
oligopolização e consequente concentração de renda. Sem estado para tributar
mais os ricos que os pobres, para subsidiar projetos sociais e investimentos de
infra-estrutura, bancando a educação pública voltada para as demandas sociais,
desapropriando terras para a reforma agrária, e outras medidas redistributivas,
a desigualdade aumentará.
Neste caminho não
teremos futuro, nem para trabalhadores nem para o empresários, nem para as
mulheres nem para os homens, nem para negras/os nem para brancas/os, nem para o
pobre nem para o rico.
Marcelo Farah: Educador popular
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