terça-feira, 26 de novembro de 2019
PAPA NA MISSA EM TÓQUIO: O OPOSTO DE UM "EU" ISOLADO SÓ PODE SER UM "NÓS" PARTILHADO
No penúltimo dia da sua visitam ao
Japão, o Papa Francisco celebrou nesta segunda-feira a Santa Missa no Estádio
Tóquio Dome na presença de mais de 50 mil pessoas.
Silvonei José –
Cidade do Vaticano
No início da tarde
desta segunda-feira (hora local) o Papa Francisco deixou a Nunciatura
apostólica e dirigiu-se ao Estádio Tóquio Dome onde celebrou a Santa Missa.
Presentes mais de 50 mil pessoas. A Santa Missa, em latim, foi celebrada pelo
Dom da Vida Humana. A primeira leitura foi feita em português.
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Na sua homilia o Santo
Padre, citando o Evangelho do dia recordou que o mesmo faz parte do primeiro
grande discurso de Jesus; conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos
a beleza do caminho que somos convidados a percorrer.
Segundo a Bíblia, a
montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao encontro do
Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a Moisés. Em Jesus, - disse o
Papa – “encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o caminho
que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos;
n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de nos
sentirmos filhos amados”.
Francisco advertiu que
“estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se
sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da
ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as
nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e
consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir
quem somos e quanto valemos”.
“ Como oprime e
enreda a alma - frisou o Santo Padre - a ânsia gerada por pensar que tudo pode
ser produzido, conquistado e controlado! ”
Em seguida o Papa
disse “que os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com
eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida,
não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem,
incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência.
“ A casa, a
escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os
outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca
do lucro e da eficiência. Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam
sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz
e o equilíbrio. ”
Ressoam, como bálsamo
reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos, mas a
termos confiança.
Não se trata – disse
Francisco -, de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de nos
desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias;
antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um
horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma
direção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se
vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).
O Senhor não nos diz
que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes; mas
convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou
fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida.
As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício
neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, subtil mas
realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de
dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e
humana.
“ O oposto de um
«eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado
e comunicado. ”
Este convite do Senhor
lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto
dum dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça. Isto é difícil hoje,
num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria
originalidade e liberdade».
Como comunidade cristã
– frisou o Papa - somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com
sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela
generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida
como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até
com todas as suas contradições e insignificâncias».
Somos convidados a ser
comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não é
perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno
de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é
digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se
encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor?
“ O anúncio do
Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos
um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um
caminho de reconciliação e perdão. ”
Unidos ao Senhor,
cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e
também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos tornar-nos
fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a
vida.
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