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Cardeal Sarah que teria se apropriado de escritos do papa
emérito e acrescido seu próprio ponto de vista
O papa Emérito Bento XVI pediu que seu nome fosse retirado de um
controvertido livro sobre o celibato, disse seu secretário particular, dom
Georg Gaenswein, prefeito da Casa Pontifícia, à agência Ansa nesta terça-feira.
"Confirmo que nesta manhã, seguindo o conselho do papa
emérito, pedi ao cardeal Robert Sarah que contatasse os editores do livro para
pedir que removessem o nome de Bento XVI como coautor do livro e também
removessem a assinatura da introdução e as conclusões", disse o clérigo,
que foi seu secretário particular durante seus oito anos de pontificado.
O que ocorreu foi que há alguns meses Bento XVI trabalhava em um
texto sobre o sacerdócio e o cardeal Sarah pediu para vê-lo. O papa emérito
deixou sabendo que o prefeito da Liturgia estava escrevendo um livro sobre o
sacerdócio e, provavelmente, pensando que o utilizaria somente como “background”.
"O papa emérito, de fato, sabia que o cardeal estava
preparando um livro - acrescentou Gänswein -, e tinha enviado um pequeno texto
seu sobre o sacerdócio, autorizando-o a usá-lo como o desejasse. Mas ele não
tinha aprovado nenhum projeto para um livro assinado conjuntamente nem tinha
visto e autorizado a capa. Foi um mal-entendido, sem questionar a boa fé do
cardeal Sarah".
Confusão
A partir daí, tudo é obra do cardeal guineense e de seu
publicitário, Nicolas Diat, junto com as editoras Fayard, da França, Ignatius
Press, dos Estados Unidos, e Cantagalli, da Itália. Apesar que seja correto
defender o celibato, o modo de fazê-lo era uma falta de respeito às igrejas
orientais e ao papa Francisco, a quem corresponde a decisão final em
consciência, livre de pressões midiáticas que os próprios autores do livro
denunciavam, porém, também praticavam com esse lançamento.
A publicação no domingo de alguns trechos do livro intitulado Das profundezas de nossos
corações, desencadeou uma disputa sobre a interferência do papa
que renunciou em 2013. "Não podemos calar", argumenta-se no livro
sobre a possibilidade do papa Francisco aprovar a ordenação de homens casados
em regiões remotas, uma decisão que poderia gerar um cisma na Igreja católica.
A edição norte-americana leva como subtítulo alarmante: Sacerdócio, celibato e a crise
da Igreja Católica. O adiantamento do conteúdo em tom
catastrófico pelo jornal Le Figaro recorda o lançamento mundial do manifesto do
ex-núncio nos Estados Unidos Carlo Maria Viganò, que pedia a renúncia do papa
Francisco sobre bases absolutamente falsas.
Embates
Um bom número de religiosos da América do Sul questionou durante
o sínodo dos bispos realizado em outubro passado sobre a ordenação de homens
casados para tratar da escassez de padres na Amazônia.
Um texto atribuído a Bento XVI afirma que “da celebração diária
da Eucaristia, que implica um estado permanente de serviço a Deus, nasce
espontaneamente a impossibilidade de um laço matrimonial”. O cardeal Sarah fala
inclusive de “padres de segunda classe”.
A realidade histórica é que sempre existiram padres casados, do
mesmo modo que continuam existindo nas Igrejas ortodoxas e também nas 23 Igrejas
católicas do rito oriental. De fato, a introdução dos padres casados na Igreja
latina foi feita por Bento XVI, em 2009, com a constituição apostólica que
criou os ordinariatos para padres e fieis anglicanos que vinham à Igreja
Católica mantendo seu rito e tradição.
Sobre a delicada questão, que divide conservadores e
reformistas, Francisco deve se pronunciar em um documento, ou exortação
pós-sinodal, que será publicada em fevereiro.
Sarah se
pronuncia
Mais cedo, Sarah refutou as acusações da mídia de que usou o
nome de Bento XVI sem autorização e que se aproveitou do ex-líder religioso,
que está com 92 anos e a saúde frágil.
"Afirmo solenemente que Bento XVI sabia que nosso projeto
tomaria a forma de um livro. Posso dizer que trocamos vários textos para estabelecer
as correções", escreveu Sarah, de 74 anos, no Twitter.
Mais tarde, ele disse que Bento XVI será citado como
colaborador, e não coautor, em edições futuras do livro. "Entretanto, o
texto completo permanece absolutamente inalterado".
Fonte: AFP/ABC/ Vatican News/ Reuters / Dom total
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