DIVERSIDADE RELIGIOSA, DOM DIVINO PARA A HUMANIDADE
vNo Brasil, esta semana é
marcada pelo dia 21, data nacional
do combate à intolerância
religiosa (Reprodução/ Pixabay
Nessa sociedade mergulhada em
desigualdade social cada vez mais violenta, o respeito e diálogo entre as
religiões pode ser instrumento de humanização e testemunho do Amor Divino
A ONU consagra o 21 de
janeiro como Dia Mundial das Religiões. Desde que foi iniciada essa
comemoração, o mundo se foi descobrindo sempre mais diverso e plural. Por isso,
essa data se tornou importante para provocar uma reflexão profunda sobre a
diversidade religiosa e combater as raízes de qualquer intolerância.
No Brasil, a
Constituição Brasileira garante a liberdade de culto e o direito de todas as
pessoas exercerem livremente a religião que quiserem. A Lei nº 7.716, de 5 de
janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera
crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Apesar disso,
em todo o país, diariamente, ocorrem ataques a templos de cultos
afro-brasileiros e agressões a comunidades que os praticam. No dia 21 de
janeiro de 2000, Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum,
Ilyaorixá do Ilê Abassá em Salvador, BA, morreu em decorrência de agressões e
humilhações sofridas por parte de grupos neopentecostais. Em 2007, para que
fatos como esse não aconteçam mais, o presidente da República instituiu o 21 de
janeiro como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Naquela
ocasião, a Secretaria da Presidência da República para os Direitos Humanos
criou uma comissão especial para zelar pela diversidade religiosa. Além disso,
em diversos estados, se criaram fóruns e grupos que velavam pelos direitos à
liberdade de expressão por parte de todos os segmentos espirituais. Apesar
disso, aqui e ali, ainda ocorriam atos de discriminação e de violência,
principalmente contra religiões e cultos de matriz africana. Às vezes, a
intolerância era clara, outras vezes, camuflada sob o pretexto de protesto
contra o barulho dos tambores ou contra o sacrifício de animais.
Mais de dez anos depois,
o Brasil respira um clima social e político baseado na intransigência e na
prática da violência. Pior ainda é o fato de que a elite econômica e política
atrelada ao império usa formas de cristianismo exclusivista para se legitimar.
O atual governo extinguiu as secretarias para direitos humanos e para a
diversidade religiosa. Autoridades parecem ignorar o caráter laical do país.
Gritam o lema nazista Deus acima de todos para disseminar uma
subcultura do ódio, da intolerância ao diferente e da apologia à violência. Por
isso, se torna ainda mais importante e imprescindível que a sociedade civil e
os próprios grupos religiosos assumam a missão do diálogo e do combate à
intolerância. Na omissão criminosa do Estado, a própria sociedade civil pode
colaborar e proporcionar espaços de diálogo, mas esses só funcionarão se cada
grupo religioso aprofundar o caminho do diálogo e da comunhão como vocação espiritual.
De fato, todas as religiões pregam amor, compaixão e misericórdia. Entretanto,
quando se tornam dogmáticas e autoritárias, se transformam em instrumentos de
fanatismo e canais de intolerância. Confundem a verdade com uma forma cultural
de expressar a verdade. Absolutizam dogmas e acabam justificando conflitos e
guerras em nome de Deus.
No decorrer da história,
infelizmente, o cristianismo foi a religião que mais usou de violência e
intolerância contra infiéis e hereges. Isso em absoluta contradição com o
evangelho e o espírito de Jesus de Nazaré. Atualmente, a diversidade cultural e
religiosa não é só um fato que, queiramos ou não, se impõe à humanidade. É
principalmente uma graça divina e bênção para as tradições religiosas. Para que
entre as religiões, o diálogo possa ser profundo, cada grupo tem de reconhecer
o que Deus lhe revela, não só a partir da sua própria tradição, mas do caminho
religioso do outro. No tempo do nazismo, de uma prisão alemã, escrevia o pastor
Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano: “Deus está em mim, mas para me abrir ao
outro. Em mim, é uma presença fraca para mim mesmo e é forte para o outro. No
outro, a sua presença é para mim. Assim, Deus é amor e se encontra quando
encontramos o outro, o diferente”.
Nessa sociedade mergulhada em
desigualdade social cada vez mais violenta, o respeito e diálogo entre as
religiões pode ser instrumento de humanização e testemunho do Amor Divino
No
Brasil, esta semana é marcada pelo dia 21, data nacional do combate à
intolerância religiosa (Reprodução/ Pixabay)
Por Marcelo
Barros
A ONU consagra o 21 de
janeiro como Dia Mundial das Religiões. Desde que foi iniciada essa
comemoração, o mundo se foi descobrindo sempre mais diverso e plural. Por isso,
essa data se tornou importante para provocar uma reflexão profunda sobre a
diversidade religiosa e combater as raízes de qualquer intolerância.
No Brasil, a
Constituição Brasileira garante a liberdade de culto e o direito de todas as
pessoas exercerem livremente a religião que quiserem. A Lei nº 7.716, de 5 de
janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera
crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Apesar disso,
em todo o país, diariamente, ocorrem ataques a templos de cultos
afro-brasileiros e agressões a comunidades que os praticam. No dia 21 de
janeiro de 2000, Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum,
Ilyaorixá do Ilê Abassá em Salvador, BA, morreu em decorrência de agressões e
humilhações sofridas por parte de grupos neopentecostais. Em 2007, para que
fatos como esse não aconteçam mais, o presidente da República instituiu o 21 de
janeiro como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Naquela
ocasião, a Secretaria da Presidência da República para os Direitos Humanos
criou uma comissão especial para zelar pela diversidade religiosa. Além disso,
em diversos estados, se criaram fóruns e grupos que velavam pelos direitos à
liberdade de expressão por parte de todos os segmentos espirituais. Apesar
disso, aqui e ali, ainda ocorriam atos de discriminação e de violência,
principalmente contra religiões e cultos de matriz africana. Às vezes, a
intolerância era clara, outras vezes, camuflada sob o pretexto de protesto
contra o barulho dos tambores ou contra o sacrifício de animais.
Mais de dez anos depois,
o Brasil respira um clima social e político baseado na intransigência e na
prática da violência. Pior ainda é o fato de que a elite econômica e política
atrelada ao império usa formas de cristianismo exclusivista para se legitimar.
O atual governo extinguiu as secretarias para direitos humanos e para a
diversidade religiosa. Autoridades parecem ignorar o caráter laical do país.
Gritam o lema nazista Deus acima de todos para disseminar uma
subcultura do ódio, da intolerância ao diferente e da apologia à violência. Por
isso, se torna ainda mais importante e imprescindível que a sociedade civil e
os próprios grupos religiosos assumam a missão do diálogo e do combate à
intolerância. Na omissão criminosa do Estado, a própria sociedade civil pode
colaborar e proporcionar espaços de diálogo, mas esses só funcionarão se cada
grupo religioso aprofundar o caminho do diálogo e da comunhão como vocação espiritual.
De fato, todas as religiões pregam amor, compaixão e misericórdia. Entretanto,
quando se tornam dogmáticas e autoritárias, se transformam em instrumentos de
fanatismo e canais de intolerância. Confundem a verdade com uma forma cultural
de expressar a verdade. Absolutizam dogmas e acabam justificando conflitos e
guerras em nome de Deus.
No decorrer da história,
infelizmente, o cristianismo foi a religião que mais usou de violência e
intolerância contra infiéis e hereges. Isso em absoluta contradição com o
evangelho e o espírito de Jesus de Nazaré. Atualmente, a diversidade cultural e
religiosa não é só um fato que, queiramos ou não, se impõe à humanidade. É
principalmente uma graça divina e bênção para as tradições religiosas. Para que
entre as religiões, o diálogo possa ser profundo, cada grupo tem de reconhecer
o que Deus lhe revela, não só a partir da sua própria tradição, mas do caminho
religioso do outro. No tempo do nazismo, de uma prisão alemã, escrevia o pastor
Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano: “Deus está em mim, mas para me abrir ao
outro. Em mim, é uma presença fraca para mim mesmo e é forte para o outro. No
outro, a sua presença é para mim. Assim, Deus é amor e se encontra quando
encontramos o outro, o diferente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário