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Urgente é
encontrar caminhos novos, a partir das indicações do
papa e do comprometido empenho de todos os
cristãos católicos
(Johannes
Plenio/ Unsplash)
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É
preocupante o fenômeno de um cristianismo torto, que se expande e se mistura
com projetos políticos de poder
O papa Francisco, ao
compartilhar seus quatro sonhos – social, cultural, ecológico e eclesial –,
convida todos – Igreja e sociedade – a sonharem juntos, embora haja quem
permaneça entrincheirado nas resistências. Alguns fazem parte da Igreja, sem se
dar conta da viragem civilizatória que está ocorrendo em todo o mundo. Dentro
dessas transformações em curso uma situação é preocupante: o fenômeno de um
cristianismo torto, que se expande e se mistura com projetos políticos de
poder, numa perigosa simbiose de interesses político-partidários, que envolve
discursos e práticas mais ligados às manipulações do que à espiritualidade
capaz de gerar mudanças a partir dos valores do evangelho. Todo esse fenômeno
religioso-cultural, no Brasil, é emoldurado e alimentado pela condição viciada
da política, suas instituições enfraquecidas, suas lideranças incapazes de
sinalizar e encontrar novos rumos. Nesse descompasso se inscreve a pouca
maturidade político-civilizatória da sociedade brasileira que, facilmente,
trata líderes políticos como se fossem ídolos do mundo do esporte.
O convite aos quatro
sonhos do papa Francisco é um remédio – jamais uma alienação e menos ainda uma
iconoclastia, na contramão de princípios irrenunciáveis da rica tradição da
Igreja Católica que tem marcado mundo afora, de modo positivo, há mais de dois
mil anos, diferentes culturas, a partir de um diálogo que merece reverências e
reconhecimentos. São incontestáveis a força e a riqueza da tradição
cristã-católica na confecção do tecido cultural brasileiro. Tecido que sofre,
na contemporaneidade, com a perda de suas raízes e, consequentemente, corre o
risco de um colapso, provocado por efervescências religiosas que parecem portar
a bandeira do cristianismo, mas se misturam com projeto de poder político. Uma
realidade que requer posicionamentos assertivos, incidentes. E o convite a
sonhar, feito pelo papa Francisco, na sua exortação depois do Sínodo da
Amazônia, “Querida Amazônia”, é indicação sábia e luminosa desse caminho que
precisa ser percorrido. Sem trilhá-lo, poderá se chegar a uma situação
irreversível de prejuízos, manipulações e tortuosidade religiosa.
As resistências que
atingem as instâncias da Igreja, particular e injustamente ao papa Francisco, é
“fogo amigo”, uma condição kamikaze dos que se dedicam aos ataques, por não
perceberem que caminham na direção da derrota. Com os balizamentos preciosos
dos quatro sonhos do papa Francisco, a sociedade brasileira precisa de uma
contrarreação profética, qualificada e com força para reverter suas muitas situações
preocupantes. O momento exige o cultivo do sentido de pertença para que,
internamente, se corrija o que precisa ser reparado, livrando-se de
estreitamentos próprios dos que se dedicam a agir como inimigos. Assim a
sociedade brasileira pode ser salva das garras de um cristianismo tomado como
prática religiosa obscurantista, atentado contra o patrimônio cultural,
alinhado a interesses que buscam se disfarçar com a linguagem de milagre e de
aceitação da pessoa de Jesus Cristo. A distância dos mais pobres, a falta de
garra na luta pela transformação social e política, a carência de autenticidade
no exercício de desempenhos comprova que esses interesses se apropriam da fé
apenas para se camuflar.
Não é, absolutamente,
hora de praticar resistências demolidoras internas figadais, injustas e
comprovadamente por interpretações de fatos e atos a partir de critérios
distanciados do evangelho. Da Igreja Católica, requer-se uma contrarreação
cristã, não por se impressionar com porcentagens estatísticas, mas em razão da
fidelidade à vivência autêntica do evangelho de Jesus Cristo, para promover a
vida – dom frequentemente negociado por quem desconsidera o seu real valor - e
pela consciente tarefa de não deixar a nação sucumbir-se na mistura entre
religiosidade e política, interesses de poder em contraposição ao bem comum.
A sociedade brasileira
está enterrada numa intrincada complexidade, agravada pelas colisões, pelo
esvaziamento de uma diplomacia assentada em valores humanísticos. Isso atrasa e
inviabiliza o encontro de respostas para os problemas atuais. Assiste-se a uma
ameaçadora adesão aos interesses que colidem com o sonho social do papa
Francisco, o que retarda mais o surgimento de uma economia capaz de combater
exclusões sociais perversas, eliminar dinâmicas consumistas e imediatistas que
esfacelam as raízes culturais. Vencer resistências à aprendizagem das lições da
ecologia integral é o único caminho para se conquistar a justiça.
O sonho eclesial do papa
Francisco não pode se tornar razão de resistências, pouco inteligentes. Urgente
é encontrar caminhos novos, a partir das indicações do papa e do comprometido
empenho de todos os cristãos católicos, com a força da palavra de Deus, com a
rica tradição da Igreja e suas práticas milenares, convincentes, dedicadas à
caridade, incluindo o investimento na sua rede de comunidades. De maneira
profética, é possível contribuir para livrar a sociedade brasileira de maiores
e deletérios fracassos políticos, para conduzir o país rumo à novidade que
todos almejam, com a luminosidade do que é antigo, mas, ao mesmo tempo, sempre
novo: a fé cristã católica. Em lugar das resistências, desdobradas em ataques,
todos devem sonhar, remédio para curar, transformar e edificar uma sociedade
justa e solidária - buscar um genuíno compromisso com o anúncio do reino de
Deus.
Por Dom Walmor
Oliveira de Azevedo
Fonte:domtotal.com
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