sábado, 25 de abril de 2020

FÉ PARA VER: OS PÉS NO CHÃO DA VIDA PARA PERCEBER OS TRAÇOS DE DEUS

Deus continua atuando salvificamente em nossa história,
 também como caminhos para que pautemos nossa
 própria atuação no mundo (Pablo Heimplatz /Unsplash)

Uma fé verdadeira nos faz ter os pés no chão de nossa história; ela não nos aliena da vida
Há quem acredite que a fé seja uma fuga da realidade; uma incapacidade das pessoas de lidarem com o concreto da vida, que as fazem colocar a inabilidade na conta de um ser invisível. Se a fé fosse um sentimento, muito provavelmente esse juízo poderia ser correto e ancorado na realidade. Mas, ainda que muitas pessoas a interpretem como se fosse algo que se sinta, a fé é uma disposição de confiança, em primeiro lugar, que, sim, tem incidência na maneira como nos sentidos diante das situações.

Reze conosco em Meu dia com Deus
Se nos atentarmos às narrativas bíblicas, com suas histórias e suas disposições legais, perceberemos que a fé é algo que se vê. Também a esperança e o amor bíblicos, essencialmente ligados à fé, são realidades que podem ser vistas. O que significa, pois, dizer que a fé (e a esperança e o amor) é coisa que se vê? Para rememorar as aulas iniciais de língua portuguesa, ensina-se às crianças que sentimentos são abstratos e, por sua vez, as palavras que os nomeiam também são. Dizer, pois, que a fé é algo que se vê, é afirmar seu não caráter sentimental, tampouco abstrato. Reconhece-se uma pessoa de fé, pela maneira como lida com a vida: o justo vive pela fé, ensina-nos a Carta aos Hebreus (10,38).
Ora, se a fé, pois, pode ser vista, dada a disposição para a vida que ela traz, podemos também afirmar que ela nos dá olhos para ver. Ela é como que uma luminária, que joga luz sobre a realidade e a história, possibilitando uma leitura mais profunda e crítica, na contribuição de que vislumbremos perspectivas. Não é à-toa que seja próprio da fé o questionar, o buscar compreender. Uma fé verdadeira nos faz ter os pés no chão de nossa história; ela não nos aliena da vida. Pela fé se torna possível perceber e perscrutar os traços de Deus em nossa história.
A fé cristã é sustentada pela compreensão de que Deus se revela; de que ele se mostra ao mundo e ao ser humano, para que haja a possibilidade de uma relação-comunhão. A fé é justamente a resposta a esse convite divino, que traz verdadeiras consequências para a vida. E é próprio dessa fé ir buscando compreender como Deus continua atuando salvificamente em nossa história, também como caminhos para que pautemos nossa própria atuação no mundo, com vistas à realização do Reino de Deus, que é Deus mesmo atuando em nosso meio, com amor.
No Dom Especial desta semana, dedicamo-nos a refletir sobre a postura da fé, diante da realidade, que busca perceber os traços de revelação divina em nossa história. No primeiro artigo, Eduardo César nos interpela: A Igreja católica sabe ler os sinais dos tempos? No texto, o autor faz uma leitura de nossa contemporaneidade, sinalizando seus limites e suas possibilidades, ao passo que nos ajuda a discernir a importância da perspicácia de ler a realidade. César Thiago do Carmo Alves nos propõe o artigo A interpretação da revelação de Deus na história, no qual parte da premissa dialógica com a qual Deus se revela no mundo. A chave de leitura incontornável, para cristãos e cristãs, passa pelo olhar atento à pessoa de Jesus, tal como nos recorda o artigo. Por fim, temos o artigo A urgência de um novo apocalipse, de Flávia Gomes. No texto, retomando a teologia do livro do Apocalipse, a autora nos ajuda a refletir sobre o impacto da revelação na história, na perspectiva do reafirmar da esperança e do sustentar da fé, como verdadeira resistência para vivermos os tempos difíceis.
*Felipe Magalhães Francisco é é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
Fonte: domtotal.com 

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