domingo, 12 de abril de 2020
RESSURREIÇÃO: QUANDO OS TÚMULOS SE ESVAZIAM.
“Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde
o colocaram” (Jo 20,2)
Em Jesus ocorre algo totalmente
novo. Ele traz uma nova maneira de viver que não cabe em nossos esquemas, que
não se encaixa em nossos hábitos, sempre limitados e estreitos.
O “mistério pascal” é o
salto para a novidade, para a beleza, para a transcendência. Imersos na
história e na natureza, a Ressurreição nos faz descobrir a verdadeira extensão
da Vida.
Não encontramos o Ressuscitado no
sepulcro, mas na vida. Não encontramos o Ressuscitado enfaixado e paralisado
pela morte, mas livre como a brisa da vida.
A pedra que fora removida do túmulo
de Jesus indicou a Maria Madalena uma novidade que seu coração buscava, uma
novidade que espanta, enche o coração do desejo de procura: “Ele vive”.
O caminho dela em direção ao túmulo
é símbolo da coragem de atravessar o escuro da madrugada para ver resplandecer
uma nova aurora em sua vida, pela força criadora da única Presença que tudo
sustenta, tudo recria e enche de amor. A presença do Cristo Ressuscitado.
Na madrugada da Páscoa, Maria
Madalena vai ao sepulcro; ela é símbolo daquela comunidade que se movia entre a
luz e a obscuridade. Ainda vive focada no sepulcro (morte); por isso, “ainda
estava escuro”. Mas, ao mesmo tempo, começava a clarear (“ao amanhecer”) e
a “pedra estava removida” (a pedra da dúvida, da tristeza e da
resignação fatalista). Tudo parece anunciar algo definitivamente novo: é “o
primeiro dia da semana”; trata-se, nada menos, que de uma nova
Criação.
Segundo os evangelistas, as mulheres
são as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo, pois Ele aparece
primeiramente a elas. Segundo Tomás de Aquino o motivo desta precedência é
porque elas estavam melhor preparadas que os homens para entender e acolher a
maravilha da Vida.
E estavam melhor preparadas porque O
tinham amado mais.
Na ressurreição, a vida emerge
de forma misteriosa; ela se impõe, simplesmente. Tal realidade desperta
fascinação, provoca admiração e veneração..., porque a vida é sempre
sagrada. Diante dela ficamos exta-siados, boquiabertos, escancarados os olhos e
afiados os ouvidos. Ela nos atrai por sua força interna.
Portador de uma vida inesgotável,
revelada na madrugada pascal, o ser humano vive para mergulhar em algo
diferente, novo e melhor. A vida, desde o mais íntimo da pessoa
humana, deseja ser despertada e ilu-minada em plenitude. Amar é romper a casca
para que a vida se expanda na doação. A morte do falso “eu” é a
condição para que a vida se liberte.
Vida plena prometida por
Jesus: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo.
10,10).
“Viver como ressuscitado” implica
esvaziar-se do “ego”, para deixar transparecer o que há de divino.
Quem se experimenta a si mesmo
como “Vida” é já uma pessoa “ressuscitada” e isso faz a
grande diferença, pois tem um impacto no seu modo de ser e de viver.
Marcadas pela ressurreição, as
pessoas captam muitos detalhes que antes não haviam percebido, vivem
intensamente, amam com mais paixão, prestam atenção a muitas coisas que antes
lhes passavam desapercebidas. Tem um comportamento diferente para com os
outros; há, nestas pessoas, mais ternura, são mais sensíveis à dor e à
injustiça. Ao saborear o presente da vida, vivem como se fossem
ressuscitadas. Crêem que, amando mais a vida, se afastarão mais da morte
e resistirão às hostilidades do mundo presente. E, no entanto, continuam
vivendo na mesma casa, no mesmo trabalho, fazendo as mesmas coisas... , mas
seu olhar audacioso desperta as consciências, sacode as velhas
estruturas, derruba os muros da exclusão.
A Ressurreição não
só “dá o que pensar”, mas sobretudo, “dá o que fazer”.
O encontro com o Ressuscitado é
fonte de vida e vida em crescente amplitude. Quando nos
dispomos a caminhar com Ele, sob a ação do Espírito, realiza-se em nós um
processo de abertura e de superação, de crescimento e de reconstrução de nós
mesmos...; tomamos consciência de uma dimensão profunda de nosso interior, que
nos permite experimentar uma outra vida, que supera tudo o que
vivemos até então.
A “vida eterna”, então,
não é um prolongamento ao infinito de nossa vida biológica. É a dimensão
inesgotável e decisiva de nossa existência. Ela torna-se “eterna” desde já.
A experiência da Ressurreição nos
revela que a “vida” é uma totalidade, ou seja, a vida presente, a
vida atual, é uma vida que tem tal plenitude que, com toda razão, podemos
chamá-la de “vida eterna”, uma vida com tal força e tão sem limites, que nem a
morte mesma terá poder sobre ela.
Precisamos adquirir uma consciência
mais profunda da vida do espírito, perceber as pulsações desta vida eterna que
está em nós, do mesmo modo que, prestando atenção, percebemos as batidas de
nosso coração.
A experiência do Ressuscitado nos
faz ter um “caso de amor com a vida”. Pois a vida autêntica
é a vida movida, iluminada, impulsionada pelo amor.
Nem sempre sabemos viver:
conformamo-nos com uma vida estreita, estéril, fechada ao novo, carregada de
“murmurações”. Quando acolhemos a presença do Ressuscitado, nossa vida se
destrava e torna-se potencial de inovação criadora, expressão permanente de
liberdade, consciência, amor, arte, alegria, com-paixão.... É vida em
movimento, gesto de ir além de nós mesmos; vida fecunda, potencial humano. Vida
com fome e sede de significado, que busca o sentido... Vida que é encontro,
interação, comunhão, solidariedade. Vida que é seduzida pelo amor, pela
ternura. Vida que desperta o olhar para o vasto mundo. Vida que é voz, é canto,
é dança, é festa, é convocação...
Com sua presença compassiva, o
Ressuscitado desperta nossa vida, arrancando-a de seus limites
estreitos e constituindo-a como vida expansiva em direção a novos
horizontes. O Ressuscitado nos precede, nos sustenta e, na liberdade de
seu amor, nos impele a ampliar nossa vida a serviço. Toda peregrinação, em
clima de admiração e assombro, se revela rica em descobertas e surpresas, e
desperta o coração para dimensões maiores que a rotina de cada dia. Nesse
sentido, a vida tem a dimensão do milagre e até na morte anuncia o
início de algo novo; ela carrega no seu interior o destino da ressurreição.
Essa nova Vida é capacidade de amar
como Jesus amou; é “passar pela vida fazendo o bem”. Somos seres
ressuscitados se vivemos os mesmos critérios e valores de Jesus, engajados em
seu mesmo projeto. A “vivência pascal” leva a querer algo mais.
É “antecipação criadora”; ela tem “rosto novo”. É o futuro que ainda pode
ser convertido em “história nova”; é vida vivida com
encantamento. A “pedra pesada” da nossa impotência diante da
dor, do fracasso e da morte, foi tirada pelo Mestre, que, nos chama pelo “nome”
e nos desafia a viver como ressuscitados.
Nossa vida é uma
experiência a acolher, uma aventura a amar e um mistério a celebrar. Rompido o
túmulo, removida a pedra, resta caminhar... Deixemo-nos iluminar,
levemos a Luz da Ressurreição nas nossas pobres e frá-geis mãos,
iluminando os recantos do nosso cotidiano. Pois vida é um
contínuo despedir-se e partir; é inútil permanecer junto ao túmu-lo. Porque o
ausente “aqui” está presente na “Galileia”. E a Galileia é
o lugar do compromisso com a vida, a justiça e a paz.
Texto bíblico: Jo.
20,1-9
Na oração: Para viver a partir
do ser mais profundo, é preciso dedicar uma atenção especial ao próprio
coração e aprender a regozijar-se da maravilhosa vida de Deus em cada
um. Basta um repouso e o estar presente para fazer acalmar a agitação interior
e aproximar-se da fonte da vida.
- É tempo de esvaziar sepulcros; é
tempo de remover as pedras da entrada do coração que impedem a entrada da luz,
da vida, do canto...? O que lhe impede afastá-las?
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