sábado, 16 de maio de 2020
ENTENDA POR QUE NÃO É POSSÍVEL SACRAMENTOS ONLINE
É
possível se confessar por telefone? Como não posso viajar, é possível ser
padrinho acompanhando o batismo pelo skype? Qual a possibilidade do matrimônio
online? Estes foram alguns dos questionamentos surgidos neste período de
igrejas fechadas devido à pandemia. Mas, a internet pode servir para muitas
coisas, mas não para administrar Sacramentos, que precisam de matéria, forma e
ministro.
Vatican
News
A
pandemia de Covid-19 provocou, entre outras coisas, o fechamento de locais de
culto e a proibição de aglomerações, com o consequente impedimento aos fiéis de
se aproximarem dos Sacramentos, e em muitos lugares, de participar dos funerais
de seus entes queridos. Muitas chaves de leitura, iniciativas e encorajamentos
foram oferecidas para ajudar a superar esse momento.
Não
faltaram questionamentos, por exemplo, sobre o porquê não fazer confissões por
telefone, ou mesmo casamentos e batizados online. Padre Alexandre Boratti
Favretto, doutorando em Teologia Dogmática na Pontifícia Gregoriana, em Roma,
nos ajuda a entender quais são as condições necessárias para um Sacramento se
realizar:
"Se
a gente pega os Sacramentos, em geral, os sete Sacramentos como são
estabelecidos pela Igreja, eles têm três coisas essenciais: a primeira delas, a
matéria, a segunda a forma e a terceira é o ministro e a intenção do ministro.
E o que isso significa? Primeiro: matéria. A matéria é o símbolo palpável,
concreto, utilizado no Sacramento. Então, um exemplo: no batismo. Qual que é a
matéria? A água, a luz, o óleo. Na Eucaristia, o pão e o vinho; na Confissão há
a benção; no matrimônio, a benção nupcial, o consentimento, a aliança mais
propriamente dizendo. Então a matéria é essa perspectiva sensível, a gente
chama, do Sacramento. Sensível por quê? Porque você pode tocar, você pode ver,
você tem contato material, um contato sensível, que você pode sentir, essa é a
matéria. Então todo Sacramento tem isso. E com isso você já vai imaginando um
pouco assim: a virtualidade dessa matéria não é possível de acontecer. Então já
aqui a gente vê que já começou dificultando a realização virtual de um
Sacramento, uma vez que ele exige matéria, ele exige o aspecto sensível, coisa
que pelo computador é impossível. Então já aqui, a rigor, está respondida a
pergunta, mas vamos continuar, porque dá para a gente aprofundar isso aqui.
Então assim, pelo virtual não há o aspecto sensível, material que é essencial
para o Sacramento. Então, matéria.
Forma
Segundo
aspecto, a forma. O que é a forma? É a palavra, são os ritos, são as leituras,
são as orações, o que é dito. Então na oração você tem na Missa, no Sacramento
da Eucaristia a Oração Eucarística, as fórmulas sacramentais. No Sacramento do
Matrimônio, você também tem todo o rito, as orações, a liturgia da Palavra.
Batismo, a mesma coisa. Então a forma é a palavra, que é dito, o que é falado,
o que é celebrado, a partir dessa verba, da palavra dita e celebrada.
O ministro e a intenção do ministro
E
o terceiro aspecto que é o ministro, que é a intenção do ministro. O que
envolve isso? A presença do ministro ordenado, do sacerdote, e a intenção dele
de realizar o Sacramento em nome da igreja. Ou seja, o ministro não vai
realizar algo que é da cabeça dele, mas ele vai realizar algo que é próprio da
Igreja, então ele está agindo na pessoa do Cristo, in Persona Christi, para
realizar algo que é próprio da fé da Igreja e como a Igreja determinou. Alguém
pode dizer assim: “Mas às vezes não é só o padre que faz um casamento, pode ser
um diácono, alguém delegado, o mesmo com o batismo”. Isso é verdade. Existem
alguns Sacramentos nos quais isso é possível, inclusive são esses dois: o
batismo e o matrimônio, mas que só são possíveis através de uma delegação do
ordinário, que é o bispo. Quer dizer, a pessoa vai ali realizar aquele
Sacramento, mas ela está agindo delegada pelo bispo, pelo padre, nesses dois
que existe a possibilidade, e a pessoa delegada significa presença daquele
próprio que a delegou. Então, de qualquer forma a presença do ministro continua
sendo necessária, seja ministro ordenado, um padre, seja nesses casos em que é
possível um leigo ou um diácono realizar o Sacramento que é o batismo e até um
matrimônio a partir de uma delegação, mas precisa dele ,de alguém ali, não pode
ser feito sem, ou virtualmente. Não, tem que ser a presença ali e agindo sempre
com a intenção de fazer aquilo que a Igreja faz e acredita. Então essas três
essencialidades no Sacramento, já testemunham contra a possibilidade virtual da
celebração sacramental, porque exige matéria, forma, ministro e intenção do
ministro, como eu acabei de explicar.
O
Papa recorda como receber o perdão sem o sacerdote
Confissão
E
aí nós vamos, para continuar aqui a reflexão no seguinte - com relação
sobretudo à confissão, podemos dar um foco nisso, porque a demanda deve estar
sendo grande - a questão da confissão. Até aqui entendido que para um
Sacramento não é possível devido a essas exigências sacramentais a realização
virtual, porque precisa de matéria, forma e ministro. Como proceder?
Contrição perfeita
Aí
o Papa, o Santo Padre o Papa, já nos deu a oportunidade de retomarmos algo que
é próprio do Catecismo da Igreja Católica, que está previsto pela doutrina
católica. E o que é isso? A chamada contrição perfeita, que pode ser realizada
nas denominadas situações de exceção. Ou seja, a pessoa precisa se confessar,
ela tem um pecado em que ela precisa se confessar, não tem a possibilidade de
realizar o Sacramento. Qual é a solução prevista pelo Catecismo da Igreja
Católica? A contrição perfeita, que perdoa o pecado e devolve para a pessoa
denominada graça santificante, vou destrinchar isso, mas é importante saber
desse contexto Então existe essa possibilidade prevista pela doutrina da
Igreja: contrição perfeita em situação de exceção, ou seja, quando não é
possível recorrer ao Sacramento. Em geral, ou antes dessa pandemia, se pensava
nessa situação de exceção e situações absolutamente graves, quer dizer, está
afundando um navio, está caindo um avião, e a gente ultimamente começou a ver
que, a pandemia também é uma situação de exceção, nós não estamos tendo acesso
aos Sacramentos, por uma questão de preservação de vida e de saúde.
Então
o Papa nos recorda dessa possibilidade. É possível, pelo Catecismo, pela
doutrina, e o Papa já disse que é para fazer. Aonde a gente encontra isso? A
contrição perfeita está no Catecismo da Igreja Católica, números 1451 até 1454. E esses números estão
em um conjunto maior de números, sobre os Sacramentos da Igreja, onde você pode
encontrar de uma forma destrinchada - e isso também que eu falei sobre as três
essencialidades do Sacramento - e que estão no Catecismo da Igreja Católica nos
números 1420 a 1532. Então esse esse conjunto maior, de todos os Sacramentos, e
afunilando aqui na contrição perfeita, referente a essa situação de exceção, e
repito aqui a numeração da contrição perfeita: 1451 a 1454. Tudo bem, então não
podemos recorrer à confissão, existe a possibilidade da contrição perfeita.
O
que é isso? Como ela acontece? O que que é preciso, o que ela gera? contrição
perfeita: se existe uma contrição Perfeita é porque também existe uma contrição
imperfeita, é possível. O que é isso? A contrição perfeita, quando ela ocorre?
Quando existe no pecador um desejo autêntico de arrependimento, mas que vem
porque a pessoa se deu conta de que ofendeu a Deus, e como a gente reza lá no
Ato de Contrição: “Senhor eu me arrependo de todo coração por vos ter ofendido,
porque sois tão bom e amável”. Então o motivo da contrição perfeita, é esse. É
você arrepender-se porque você ofendeu a Deus, infinitamente bom, justo e digno
de ser amado sobre todas as coisas, ou seja, tem qualquer coisa aqui de
gratuito, você ofendeu o amor de Deus, e você sente culpa, se arrependeu e
precisa do perdão. Então essa é a contrição perfeita, porque é um motivo
autêntico, um motivo livre, um motivo bonito. Contrição perfeita é isso:
machuquei o coração de Deus que é tão bom, preciso pedir perdão.
A
tecnologia não é um instrumento para administrar Sacramentos, adverte Dom
Kaigama
Contrição imperfeita
O
que é uma contrição imperfeita? É o risco que a gente cai muitas vezes, de
achar que deve correr para se confessar por medo. “Ah, se eu morro antes de me
confessar? Aí sim não sei o quê... aí vai cair um castigo sobre mim”! Essa não
é uma contrição perfeita. Essa é a contrição imperfeita, porque o que faz você
buscar o perdão, não é porque você se arrependeu, ou porque você tomou
consciência de que foi contra o amor divino, é porque você tem medo, por você
mesmo, é um sentimento egoísta. Aí sim, isso também precisa de conversão.
Portanto,
se existe essa gana de busca do Sacramento, porque eu tenho medo, ou então –
até é uma coisa grave que eu estou pensando aqui, para quem insiste na questão
de abrir igreja, de confissão com tudo isso aí que tá acontecendo - de repente
é até uma desconfiança da extensão da misericórdia de Deus que não conhece
limites. De repente a pessoa desconfia de que Deus possa perdoar através da
contrição perfeita e entende o Sacramento como magia, então portanto aqui já
tem um pecado também que não é assim que se resolve. Aqui nós já temos algo
também a ser trabalhado dentro da pessoa: se ela ver o Sacramento como magia e
se tem medo e desconfia da misericórdia divina. Aqui encaixa na contrição
imperfeita. Então nesse caso, não é a Igreja que tem que abrir a confissão
virtual. É a pessoa que tem que conhecer a sua Igreja e tem que mudar o seu
pensamento. Não é a Igreja se adaptar a ela, mas é a pessoa se adaptar ao
ensinamento da Igreja que ela faz parte. Então, portanto, resumindo aqui:
contrição imperfeita nasce do medo, de um desejo egoísta: “Eu preciso me
confessar, de qualquer forma, de qualquer jeito, porque tenho medo de morrer em
pecado” e desconfia da Misericórdia. Contrição perfeita: “Desagradei a Deus,
estou em pecado, mas vou diante d’Ele dizer o que eu fiz, e Ele vai me dar o
perdão nessa situação em que eu estou. Como eu disse, situação de exceção. Se
fosse uma situação normal, a gente pode fazer a contrição perfeita e depois
buscar a confissão, quando possível, no dia a dia. Agora, nessa situação de
pandemia, faça a contrição perfeita e quando possível, lá na frente, busque a
confissão, mas já garanta o perdão e a misericórdia de Deus .o que é possível.
Arrependimento e sentimento de culpa
Outra
coisa interessante o que é preciso para uma contrição perfeita. Primeira coisa:
arrependimento e culpa de todos os pecados veniais e mortais. Então a contrição
perfeita no caso de excessão ela também perdoa os pecados mortais? Sim, e é
preciso um arrependimento perfeito e um sentimento de culpa. E aqui eu quero
abrir um parênteses com um grande, talvez o maior teólogo do século XX, Karl
Rahner, que viveu até 1984, tem inúmeras obras escritas, tem obras escritas em
conjunto com Ratzinger, participou do Concílio, é um teólogo que dispensa
apresentações. Karl Rahner, alemão, e Rahner tem um uma reflexão, em um
dos livros, sobre o sentimento de culpabilidade, que ele diz que é um
sentimento essencial, porque a pessoa quando sente culpa, é quando ela toma
consciência de que o que ela fez foi errado e pecaminoso diante de Deus. A
partir da consciência do erro e do pecado, essa consciência gera um sentimento:
culpa! E o sentimento de culpabilidade, faz com que ela busque o perdão e com
que ela não venha mais a cometer o mesmo erro. Portanto, para Runner, o
sentimento de culpa e a consciência do pecado faz buscar o perdão e crescer na
fé, porque você não repete mais aquele pecado mortal ou venial que seja. Então
primeiro ponto: arrependimento e sentimento de culpa.
A fé por base, crer na Misericórdia
Infinita de Deus
Segundo
ponto: que que é preciso para você fazer a sua a contrição perfeita? É preciso
ter por base a fé, ter por base a fé e alguma verdade de fé, como a Misericórdia
Infinita de Deus. Como eu já disse, se você desconfia da Misericórdia, vai ser
difícil realizar a contrição perfeita. Mas aí o problema não é institucional, é
pessoal, porque a Igreja ensina que a Misericórdia de Deus não conhece limites.
Nada
de matrimônios religiosos online, reitera Arquidiocese de Singapura
A intenção
E
o terceiro ponto do que é preciso, a intenção, a intenção perfeita do que?
Afastar-se do mal, não voltar a repetir o pecado, e voltar-se para Deus.
Então
o que que é preciso para a contrição ser perfeita? - repetindo e sintetizando -
arrependimento e culpa, ter base na fé - no caso, de que a Misericórdia de Deus
é infinita -, e o terceiro ponto, intenção: afastar-se do mal, voltar-se para
Deus.
Efeitos da contrição perfeita
Quais
são os efeitos da contrição perfeita? Perdão imediato dos pecados, perdão
imediato dos pecados. E com isso, consequentemente, como está aí no Catecismo,
a retomada da denominada graça santificante. Isso aqui é bom ser entendido,
quer dizer, não é que a pessoa fica sempre privada da graça quando peca. A
graça ela é infinita, e graça é graça. No entanto, São Tomás de Aquino
distinguiu, para estudo, compreensão, vários tipos de graça. E aqui tem uma
lógica, quer dizer, se você peca e permanece no pecado, insistindo em pecar,
você se distancia do caminho de santificação. Então diz: olha você perdeu a
graça santificante. Agora, quando você se arrepende, faz o caminho de
conversão, retorna para Deus, e diz e “não quero mais pecar”, sentiu culpa,
conversão, perdão, você então retoma a denominada graça, ou seja, volta para o
caminho de santificação, que é o objetivo máximo de nós cristãos.
Inclusive
aqui um parênteses: nós no Ocidente teológico chamamos de santificação. No
Oriente eles chamam de divinização. Ó que que bonito! E não porque vai ser
Deus, mas por que você vai ser, além de imagem, semelhança Divina. Retomando, a
pessoa que passou por tudo isso então, retoma a graça santificante e está livre
de qualquer medo de perdição eterna, seja o que for.
Então
esse é um pouco o caminho que nós estamos fazendo hoje, nesse tempo de
pandemia, o que é possível fazer, a segurança que a Igreja nos dá. E pensando
no bem comum, não é preciso mais nada além disso. Inclusive isso já é bastante
difícil de fazer. E se o povo se apegar a isso, fizer e depois com a retomada
da rotina sacramental, não vai ter problema nenhum, inclusive acho que vai ter
amadurecimento de fé."
Fonte: Vatican News
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