Deus está presente em todas as coisas criadas
(Davide Cantelli/ Unsplash)
Deus não criou a desigualdade
social, a devastação ambiental, a misoginia, a homofobia, o preconceito étnico
etc.
Abusam do meu nome no
Brasil. Estranho que em um país tão cristão, outrora conhecido como Terra de
Santa Cruz, muitos parecem ignorar o Decálogo que entreguei às mãos de Moisés e
cujo segundo mandamento é “Não tomar em vão” meu Santo Nome.
Há políticos que não
fazem outra coisa. Evocam-me sem o menor escrúpulo e a qualquer pretexto. Até
na ONU, instituição laica e plural, meu Nome foi citado na finalização de um
discurso presidencial repleto de falácias e eivado de ódios e discriminações.
Confesso que me sinto
incomodado desde que me usaram como jargão na campanha eleitoral: “O Brasil
acima de tudo; Deus acima de todos”. Ora, o Brasil não é um disco voador que
paira acima de tudo. O Brasil é toda essa gente que ocupa esse extenso e rico
território. Essa gente sofrida, desempregada, que é alvo de operações policiais
que disparam a esmo, assassinando crianças como João Pedro que, agora, dança
com os anjos no Céu. E esses ricos que nos últimos sete anos tiveram 8,5% de
aumento na renda, e os pobres que, no mesmo período, perderam 14% da renda.
E Eu, é bom frisar, não
estou acima de todos. Estou entre vocês, povo brasileiro, e dentro de tudo: na
árvore derrubada pela motosserra na Amazônia; na água do rio envenenado pelo
mercúrio dos garimpeiros; no coração dos torcedores que lotam os estádios de
futebol; e também no dos policiais emboscados por bandidos.
Nada, neste Universo,
prescinde de minha amorosa presença. E, pelo amor de D..., ou melhor, por favor
(pois não quero parecer cabotino), não confundam o que digo com panteísmo.
Panteísta crê que tudo é deus. Apoiem, sim, os panenteístas, que acreditam, com
razão, que Eu me faço presente em tudo que criei.
Devo frisar, porém, que
não criei a desigualdade social, a devastação ambiental, a misoginia, a
homofobia, o preconceito étnico etc. Todas essas aberrações não resultam de
minha divina vontade. São frutos amargos da injustiça humana.
Por favor, não atribuam
a mim males e crimes que vocês provocam. Dei-lhes liberdade porque sou,
essencialmente, um Ser amoroso. E só há liberdade onde reina o amor. Se tivesse
criado todas as pessoas como autômatos programados a fazer sempre o bem, eu me
negaria. Isso seria o mundo de um tirano, e não de um Deus cujo único sinônimo
é Amor. Como ser amoroso, só poderia tê-los criado com livre arbítrio. Tão
livres que podem até me dar as costas ou negar a minha existência. E, ainda
assim, jamais deixarei de amá-los. Como bem afirmou o papa João Paulo I, sou
mais Mãe do que Pai.
Rogo aos que me são
fiéis não admitir que tomem o meu Santo Nome em vão. Denunciem e combatam os
que me evocam para extorquir os pobres, aqueles que pregam ser Jesus o caminho,
mas insistem em cobrar o pedágio... Rejeitem os que ostentam o meu Nome para
ampliar seus negócios, impor suas leis injustas e oprimir o povo. Façam o que
fez meu Filho. Não se aliou aos fariseus hipócritas. Não bajulou os abastados,
mas despediu-os com as mãos vazias. E deu a sua vida para que “todos tenham
vida e vida em abundância”, como registrou João no Evangelho.
Dito isso, retorno à
minha comunhão trinitária. E, reitero, estou presente em todas as coisas
criadas. Basta que vocês tenham coração para amar, mãos para partilhar, pernas
para prosseguir no rumo da esperança, e olhos para ver luz mesmo onde parece
reinar trevas.
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