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A
causa antirracista é dever de todos os cidadãos
e cidadãs (Rovena Rosa/ Agência Brasil) |
As
instituições, inclusive religiosas, têm papel fundamental na busca por
reparação histórica da escravidão
O Brasil tem muitos
problemas com sua história. A filósofa Hannah Arendt fez um importante alerta a
respeito disso: esquecer (e tão logo, não lidar bem com...) a história, é
correr o risco sempre iminente de repeti-la. Dois dos mais graves casos com a
nossa história não resolvida são com a escravatura e com a ditadura militar. A
respeito desta última, está escancarado o problema, na atualidade dos nossos
dias: elogios e enaltecimentos a torturadores, com direito e encontros públicos
na sede do Governo Federal; pedidos de volta da ditadura, por cidadãos e
cidadãs; pedidos para que um novo AI-5 seja editado, um dos mais cruéis e
graves atos institucionais do poder ditatorial em nosso país; e por aí vai...
Reze conosco
em Meu dia com Deus
Sobre a escravatura, o
problema é ainda mais arraigado, por tratar-se de uma questão secular e que
traz consequências para os dias atuais. Nada justifica a prática da escravidão,
nada! Ela é abjeta, vista sob qualquer ângulo minimamente humanista. Mas não se
pode negar sua existência. É por isso que datas como as de 13 de Maio e 20 de
Novembro se fazem, simbolicamente, importantes. Porém, é preciso mais: urge que
as estruturas racistas, tanto que nos levaram à escravatura quanto às que se
mantém em nossa sociedade, sejam modificadas. Costuma-se negar o óbvio, dizendo
que o racismo já não é mais uma questão. Mas, todos os dias, pessoas sofrem por
causa dele. É necessária uma reparação histórica!
A causa antirracista é
dever de todos os cidadãos e cidadãs, a começar pelo modo como falamos, quando
também a linguagem está marcada por racismo. As instituições, entre as quais as
religiosas, têm o papel fundamental na garantia da busca por reparação
histórica em relação à escravatura, que traz consequências até hoje para
pessoas negras e que nos deixa a todos e todas aquém de uma humanização ideal.
Nesse caminho, é fundamental que os lugares de fala sejam respeitados, a fim de
que o debate possa ser legítimo e frutífero para nossa sociedade, que ainda tem
um longo caminho a percorrer na busca por igualdade.
Nosso Dom Especial
desta semana se compromete com essa fundamental questão, inspirados pelo passado
dia 13 de Maio. No primeiro artigo, O 13 de maio sob algumas perspectivas, Rachel Dornelas lança um olhar crítico sobre a
história que se costuma contar, a respeito da abolição da escravatura,
convidando-nos à reflexão. Já Cassiana Matos de Moura, no segundo artigo, Por um antirracismo religioso, interpela a respeito da importância de um legítimo
reconhecimento a respeito do sagrado afro, a fim de romper com imagens
religiosas cristalizadas que acabaram por se tornar hegemônicas e bastante
ideologizadas por visões de mundo não suficientes para a diversidade cultural e
racial. Por fim, Guaraci Santos nos propõe o artigo N’guzo, n’guzo: religiosidade e espiritualidade dos negros escravizados, no qual remonta às culturas religiosas africanas que ecoaram e
ecoam em nosso país, mostrando como a espiritualidade destes povos foi
importante para que pudessem lidar, entre outras coisas, com o sofrimento
promovido pela escravidão.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é
teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de
poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
Fonte:domtotal.com
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