aliança
ganhou contornos mais afetivos (Roman Kraft)
Oseias
lê a relação entre Deus e povo desde a ótica do amor, o que influencia o Novo
Testamento
Felipe Magalhães Francisco*
Oseias é um dos mais antigos
profetas escritores. Sua atuação remonta ao século oitavo antes do nascimento
de Jesus. Podemos considerar que sua profecia foi um divisor de águas no
pensamento bíblico, de modo que influenciou sobremaneira outros profetas e até
mesmo o Novo Testamento. Seu olhar teológico é original e bastante existencial:
a partir de uma experiência tão própria, soube ler a relação entre o povo e
Deus, pintando-a de modo surpreendente, tal como poderá ser lido num dos
artigos deste nosso Dom Especial.
A aliança, termo chave
para compreender a relação entre o povo de Israel e Deus, é uma palavra buscada
no contexto dos pactos de vassalagem, muito comuns nos tempos antigos, entre os
povos do Oriente Próximo e Médio. O risco do uso da palavra era que se
considerasse o pacto entre o povo e Deus, num tom meramente jurídico e formal.
Para a fé, porém, a eleição de Israel para ser o povo da aliança diz respeito à
própria promessa que Deus havia feito aos patriarcas, e revela uma situação bem
mais profunda que um simples acordo.
Foi com a profecia de Oseias que a
compreensão da aliança ganhou contornos mais afetivos, na linguagem, quando ele
usa a metáfora do casamento para expressar o significado da relação entre o
povo e Deus. Essa aliança é, pois, uma aliança de amor; o que ajudou a realçar
o olhar profético de Oseias. O amor, porém, não está imune ao fracasso, o que
implica a necessidade – tão própria do amor verdadeiro – da misericórdia e do
perdão. Não é à-toa, como se pode perceber, que a profecia de Oseias tenha
ecoado tão fortemente no Novo Testamento e, em consequência, na leitura cristã
sobre a comunhão com Deus, à qual somos chamados por pura graça de amor.
A mensagem cristã, para ser
legítima, eficaz e possível para nossos tempos, deve ser transmitida bebendo na
fonte daquilo que nos inspira Oseias. Afinal, foi isso que Jesus, de uma
maneira radicalmente nova, mostrou-nos ser possível: relacionarmo-nos com Deus
por amor, de forma gratuita. O mundo está cediço de sentido e apenas um Deus
verdadeiramente Amor pode ser uma possibilidade efetiva para nossos tempos. Os
cristãos e cristãs, nesse sentido, se quiserem bem cumprir sua missão, devem
anunciar esse Deus ao mundo, se necessário, usando palavras, tal como nos
exortou Francisco de Assis.
O cristianismo precisa ser
profético, em nossa história. Beber da fonte de Oseias, para dele aprender uma
pedagogia, é um caminho bastante legítimo e iluminador para nossa missão. É
nesta perspectiva que nos dedicamos a lançar um olhar sobre a profecia de
Oseias, neste Dom Especial. No primeiro artigo, Infidelidade e Amor, Márcia do
Nascimento nos situa no contexto histórico e existencial do Profeta Oseias. Em
seguida, Claudio da Silva nos propõe o artigo Rompimento pela infidelidade; perdão por amor,
no qual lança um olhar sobre a teologia de nosso Profeta. Por fim, Anderson
Gonçalves atualiza a compreensão teológica para nossos tempos, com o
artigo Amor e misericórdia: faculdades indispensáveis à construção de uma vida
de sentido.
Excelente.
ResponderExcluirA misericórdia é o rosto de Deus hoje é sempre.
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