O grito de Jesus na cruz repercute no grito de tantos George Floyd, Joao Pedro, Aghata, Marielle, Anderson, Evaldo...
“Não consigo
respirar”. Quantos negros no Brasil já pronunciaram a frase antes de morrer por
Covid-19? A epidemia escancara o racismo. Nota do Núcleo de Operações e
Inteligência em Saúde (Nois) aponta que a chance de um negro morrer por causa
do novo coronavírus é maior que de um branco. O Ministério da Saúde informou
que a porcentagem de pacientes mortos por Covid-19 entre os pretos e pardos
passou de 32,8% para 54,8% entre 10 de abril e 18 de maio.
Reze
conosco em Meu dia com Deus
“Estou dentro
de casa”. A melhor forma de evitar a propagação da Covid-19 é o distanciamento
social. Entre as comunidades vulneráveis é difícil “ficar em casa”. Muitos
necessitam sair para buscar sustento, deixando seus filhos em casa. Mês passado
João Pedro, um garoto negro de 14 anos foi assassinado com um tiro de fuzil,
por um policial enquanto estava dentro de casa.
A Constituição
Federal Brasileira de 1988 determina, no artigo 3º, inciso XLI, que “constituem
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação”; no artigo 5º, inciso XLI, que “a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades”. Racismo é crime, passível
de pena variável de um a cinco anos conforme está na lei 7.716/1989.
A população
brasileira é majoritariamente negra e, embora existam mecanismos legais no
combate ao racismo, há pouco avanço nesse campo. É constante a violência contra
a população negra, principalmente por parte do Estado. O racismo é estrutural,
resultado de um processo histórico, político e cultural mantido pela elite
racista escravocrata por quase quatro séculos.
A população
negra vive em permanente situação de vulnerabilidade, enfrenta inúmeras
dificuldades para obter acesso aos direitos sociais. A abolição não eliminou os
impactos econômicos, culturais e sociais da escravidão. O Brasil nasceu do
tráfico de pessoas de africanos e da escravidão. O Estado foi configurado
pelos interesses dos escravistas.
Dados do IBGE
apontam diferenças entre brancos e negros. Na faixa etária entre 15 e 24 anos
que frequentavam o nível superior, 31,1% dos estudantes eram brancos, enquanto
apenas 12,8% eram negros e 13,4% pardos. A taxa de analfabetismo é de 5,9%
entre brancos, 13% entre pardos e 14,4% entre pretos. Como mudar isso se o
ministério da educação é comandado por um despreparado fascista?
O Relatório das
Desigualdades Raciais no Brasil (IBGE) indica que os negros e pardos também são
minoria no acesso ao SUS. O número de mães de filhos pretos e pardos que
fez o pré-natal foi 28,6% inferior ao de mães brancas. A população negra em
grande maioria tem no Sistema Único de Saúde sua única forma de atendimento, um
setor que o atual governo está desmontando. O país está sem ministro da saúde
em plena pandemia.
É crescente
número de negros assassinados no país: um aumento de 28% em 2019. De acordo com
o Mapa da Violência, sete jovens são assassinados por hora no Brasil, 80% são
negros. O Estado brasileiro é o que mais mata no mundo. A polícia do Rio de
janeiro mata a cada 30 dias o que a polícia de Minnesota matou nos últimos 2
anos.
Contra números
não há argumentos. Me pergunto: o que a morte de Pedro e Floyd têm em comum? Os
dois são negros. A morte de Pedro gerou revolta e protestos, mas a de Floyd,
nos Estados Unidos, provocou uma convulsão social, vista antes apenas na morte
de Martin Luther king. Lá como aqui morrem muito mais negros que brancos. Lá
como aqui as mortes por Covid-19 não para de crescer. Lá como aqui o presidente
é um desumano, não tem sentimentos e responde aos manifestos se escondendo
atrás dos militares. Que as manifestações do povo norte-americano nos encoraje.
“Se você é neutro em situações de injustiça, escolheu o lado do opressor”
(Desmond Tutu).
O racismo e o
fascismo são duas faces da mesma moeda. Os fascistas/racistas são os idiotas
mais perigosos do mundo. Ambos têm a marca do ódio e da violência. “Não consigo
respirar” diante de tamanho racismo contra negros, contra pessoas LGBT+, contra
mulheres, contra migrantes, contra índios, contra os pobres.
Todo racista é
anticristão. Racismo é blasfêmia contra Deus. Todo ser humano é criado à sua
imagem e semelhança. “Não consigo respirar!” O grito de Jesus na cruz
repercute no grito de tantos George Floyd, Joao Pedro, Aghata, Marielle,
Anderson, Evaldo...
Black lives
matter!
*Élio Gasda é doutor em
Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: 'Trabalho e capitalismo
global: atualidade da Doutrina social da Igreja' (Paulinas, 2001);
'Cristianismo e economia' (Paulinas, 2016)
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