“João é o seu nome” (Lc.
1,63). A natividade de João Batista assemelha-se às festas da
infância de Jesus. O espírito da festa é tipicamente de Lucas,
ou seja, ela é inspirada e sustentada pela manifestação da graça e da bondade
de Deus.
A reflexão bíblica é elaborada
por Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta, comentando as leituras
da Natividade de São João Batista - Ciclo B (24/06/2018) que
corresponde ao texto bíblico de Lucas 1,57-66.
O nascimento de João se dá num clima
de intensa alegria. Isabel se alegra e com ela os vizinhos. É a
alegria de haver nascido um menino de uma mãe que era estéril e de idade
avançada. Esta alegria do coração se manifesta no louvor: o Senhor tem
favorecido com grande misericórdia. O reconhecimento agradecido dos
grandes feitos do Senhor proporciona alegria.
A alegria é um
sentimento central na experiência cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria:
sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e
plenifica nossa existência pessoal e comunitária.
Alegria que brota do interior e é um
dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom
nos faz sentir como filhos(as) de Deus, capazes de viver e saborear sua bondade
e misericórdia.
O nascimento
de João Batista é cheio de mistério, porque ali
todos descobrem o agir misterioso de Deus.
É o mistério da vida. É o mistério
de Deus que dá a vida como presente; é o mistério de um ventre seco que se
torna fértil; o mistério do novo em um ventre que carrega a “novidade”.
Dois anciãos, Isabel e Zacarias:
uma grávida, o outro mudo. No entanto, uma vida que cresce.
“Os vizinhos e parentes ouviram dizer...”
Não tinham percebido até o nascimento? Alguém afirmou que, de vergonha, Isabel
se retirou a um sítio vizinho para esconder o mistério de Deus em seu ventre.
Pode-se ocultar a gravidez; não se pode ocultar o filho. Para eles, é o filho
esperado no silêncio que faz amadurecer a fé. Para os vizinhos e parentes, o
filho da surpresa. E todos o veem 'como o Senhor tinha sido misericordioso para
com Isabel, e alegraram-se com ela'. E todos se perguntavam: “O que virá a ser
este menino?”
A natividade de João é
uma visibilização do mistério da misericórdia de Deus; é o
mistério da missão que Deus tinha para ele. Não seria sacerdote como seu pai;
seria um mensageiro que prepara caminhos.
João Batista é a primeira ruptura com
o passado. Já não se chamará Zacarias, porque não será como seu
pai. Chamar-se-á João porque anunciará o novo que está ali
mesmo, a seu lado, no ventre virginal de Maria.
Não será o “homem do templo e do
culto”, mas o “homem do deserto e do anúncio”.
Não será o “homem que recorda o
passado”; será o “homem que anuncia a proximidade do novo”.
Não será o “homem que anuncia a
esperança”; será o “homem que anuncia que a esperança já é realidade”.
Não será o “homem da lei”; será o
“homem que abre caminhos onde tudo parece estar bloqueado.
Por isso, o tema central do Evangelho
deste domingo é este: “João é seu nome”. Esta frase é uma mensagem
da gratuidade e bondade de Deus. João é um nome muito
especial. Nele são guardadas muitas e importantes lembranças. De fato, o
nome “Yohanan” significa “Deus se mostrou misericordioso”.
João é um dom gratuito de Deus, pois
está além dos cálculos humanos; pertence plenamente a Deus. Nem sempre Deus
elege o tradicional, o velho costume, o caminho trilhado. Agora nasce um tempo
novo: o Espírito vai por caminhos novos, que nem sempre são fáceis de conhecer.
É Deus quem toma a iniciativa e
chama pelo nome. O “nome” encerra toda a verdade da pessoa
e, ao mesmo tempo, todo o mistério da sua relação direta com Deus.
Na Bíblia, o nome é algo dinâmico, é um programa
de vida. A troca de nome implica uma missão que deve ser realizada pela pessoa
(Gen, 17,5; Jo. 1,42).
Um nome novo: uma
aventura que começa; uma história a ser construída.
O nome é ponto de
partida e de chegada na relação com Deus.
Todo nascimento é um mistério. Por
isso, cada um de nós é fruto do mistério da misericórdia de Deus. E todos somos
o mistério do anúncio do novo.
Não somos repetição de ninguém.
Somos únicos. E somos preparadores dos caminhos de Deus. Nosso nome,
escrito na palma da mão de Deus, é uma missão a realizar.
É preciso crescer na consciência de
que o próprio nome tem uma história e manifesta uma identidade única,
irrepetível, original. O nome próprio está relacionado com
nossa realidade pessoal, responsável, criativa e livre. Essa identidade vai
sendo elaborada ao longo de nossa história pessoal, com os avanços e recuos,
vitórias e fracassos, as alegrias e os sofrimentos... que vão pontilhando nossa
existência e formando esse ser único que somos nós.
Na linguagem bíblica, “nome”
significa aquilo que torna a pessoa única. O nome é um símbolo
que exprime a individualidade de cada um. No nome está toda a pessoa. O nome é
a pessoa.
Interessar-se por conhecer o nome é
interessar-se pela pessoa; é o primeiro passo para o encontro
pessoal; é pelo nome que nos identificamos.
Os orientais, por exemplo, não dizem
o seu nome a qualquer um. Só aos amigos, aos seus mais
íntimos.
Conhecer o nome de
alguém, para eles, é conhecer a pessoa toda. Fazer saber o seu nome é prova de
amizade. Interessar-se por conhecer o nome é interessar-se
pela pessoa.
O nome é referência
reveladora da verdade da pessoa. É a porta de entrada de cada história
particular.
Deus sabe o nosso nome:
“Eu te gravei na palma de minha mão” (Is. 49,16).
Deus nunca pode olhar Sua mão sem
ver o nosso nome. E o nosso nome quer dizer: “EU
mesmo”.
Deus garante a nossa identidade:
podemos ser nós mesmos.
Ter recebido um nome de
Deus significa tomar um lugar na história, uma missão a cumprir.
Nosso nome secreto Deus
o conhece.
Cada um de nós tem um nome,
que é próprio, não comum. É de uma pessoa. Ele expressa o nosso ser, indica uma
missão a realizar, uma vocação a viver, um apelo a
responder... Somos seres chamados. É isso que significa ter
um nome.
Nós realizaremos nossa vocação,
sendo nós mesmos, com nosso modo de ser, nossas possibilidades, nossa
originalidade. Ninguém realiza-la-á por nós. Ser fiel ao nome é ser fiel à
própria vocação.
A dinâmica da relação com Deus passa
através da nossa história, das nossas alegrias, dos nossos sofrimentos, e das
nossas perguntas: “Quem sou eu?”, “O que quereis de mim?”.
Não posso permanecer indiferente. É
preciso ter coragem de perguntar: “Quem me chama?” e “a quê me chama?”; pedir
ajuda para conseguir entender, reconhecer, descobrir o próprio nome.
Deus, no momento em que me chama
pelo nome, me revela a mim mesmo.
Assim, meu nome se torna a minha
própria vida, o meu patrimônio existencial, a minha realidade.
Para
meditar na oração
- Tome consciência de que também
você tem um no-me, é pessoa única e com características muito particulares.
Você tem uma dignidade imensa: é imagem e semelhança de Deus.
- Para realizar o seu nome, você
deve ser você mesmo. Você tem a sua própria vida, o seu modo próprio e original
de ser.
- Ser “João” é ser graça amorosa de
Deus na vida e na história de tantas pessoas.
Fonte: centroloyola.org.br
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