![]() |
O diálogo entre religiões
e poder público não é problemático, desde que
seja republicano e eminentemente ético (UMario
Caruso) |
Nenhum
sistema econômico ou político se equipara ao Reino de Deus
Muitos de nós fomos
surpreendidos com uma notícia, amplamente veiculada, de uma reunião do
presidente da República com alguns parlamentares, da chamada ?Bancada
Católica?, e alguns representantes de emissoras de ?inspiração católica?, entre
os quais, padres bastante famosos. A reunião, em si, não é motivo de escândalo.
Chocou-nos foi a manchete, que anunciava que ?TVs católicas?, por verbas
governamentais, ofereciam apoio ao governo. Mais chocante ainda, foram algumas
das falas, públicas porque disponíveis em vídeo.
Tão estarrecedora a
explícita barganha por parte de alguns ali naquela reunião, que o repúdio veio
de várias frentes, inclusive de emissoras que não haviam autorizado alguns que
se diziam seus representantes de falar em nome delas. A Comissão da CNBB
responsável pela área lançou contundente nota de repúdio a essa barganha
vergonhosa e absolutamente antievangélica, bem como outras instituições que trabalham
com comunicação de inspiração católica e, mais que isso, evangélica. Uma
análise criteriosa da reunião, bem como do ambiente eclesial-político que
tornou possível tal situação, pode ser encontrada no artigo A Igreja se vendeu para o governo?
A Doutrina Social da
Igreja é bastante clara quando aponta que nenhum sistema econômico ou político
se equipara ao Reino de Deus: logo, a Igreja não deve se aliar a nenhum destes
poderes, sobretudo aqueles que são de necropoder. As democracias modernas têm
um pilar fundamental para que existam: a laicidade do Estado, que inclusive é
fundamental para o livre exercício da fé. O diálogo entre religiões e poder
público não é problemático, desde que seja republicano e eminentemente ético.
Em se tratando de cristianismo, a baliza do posicionamento deve ser claro: o
Evangelho de Jesus Cristo,
Não há quem duvide da
importância dos meios de comunicação para a evangelização. É greve, porém,
quando esses meios, ditos de inspiração cristã e católica, estão em posse de
vozes dissonantes do Evangelho e não seguem um critério teológico sério e
comprometido como base. E essa é uma crítica que deve ser feita para além do que
ocorreu na fatídica reunião. À qual propósito, verdadeiramente, essas emissoras
estão destinadas? Se for, realmente, à evangelização, elas precisam servir ao
Evangelho e não ao interesse mercadológico, tampouco reacionário.
No Dom Especial desta
semana, fazemos ecoar a evangélica indignação à proposta explícita de barganha,
tal como já assinalado, a partir daquilo que o Evangelho de Jesus nos inspira.
No primeiro artigo, Dialogar ou barganhar?,
Gustavo Ribeiro tece uma crítica à postura adotada pelos que compunham ?a mesa?
daquela reunião, conclamando à profecia, tão urgentes nestes nossos tempos.
Rosana Bones, com o artigo Mídia bolsonarista, pseudo cristã, elabora uma reflexão a respeito dos meios de comunicação
social, na perspectiva do Evangelho e da ética cristã. Encerra nossa reflexão,
César Thiago do Carmo, com o artigo Estúdios de sangue como o chão do palácio de Pilatos, no qual conclama a uma tomada de postura legitimamente
evangélica, a fim de que todo o aparato da comunicação, disponível aos cristãos
e cristãs seja, verdadeiramente, de anúncio do Evangelho de Jesus Cristo.
Boa leitura!
Felipe Magalhães Francisco é
teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de
poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
Fonte:domtotal.com
Após esta pandemia muita coisa foi revekada. Não é possível servir a Deus e aos poderosos
ResponderExcluir