segunda-feira, 13 de julho de 2020

"A IGREJA PRECISA APRENDER DE JESUS A FALAR FÁCIL" DEFENDE DOM GUILHERME WERLANG




Em artigo, cujo título é “A Igreja precisa apender de Jesus a falar fácil”, o bispo de Lages (SC) dom Guilherme Antônio Werlang defende a ideia que, na Igreja, é necessário buscar na comunicação a simplicidade com que Jesus se comunicava, traduzindo conceitos complexos para a realidade das pessoas de sua época por meio das parábolas.


“Eu ainda era estudante de teologia na PUC de Porto Alegre, quando um dia na aula de Exegese sobre o evangelho de São João, eu perguntei ao professor, meu amigo até hoje, padre doutor Johan Konings, porque os teólogos e exegetas gostam de complicar tanto e falar tão difícil, se Jesus fez questão de falar em linguagem tão fácil e simples?”, escreveu. Johan Konings é um dos tradutores da Bíblia de Jerusalém e da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) e segundo o próprio dom Guilherme é simples como um “Zé Ninguém”, até hoje seu grande amigo.

Dom Guilherme defende que para um médico, é fácil falar difícil sobre doenças e remédios. Afinal ele estudou e sabe todos os nomes difíceis e seus significados. O difícil é ele explicar de um jeito e numa linguagem fácil, as coisas difíceis e complicadas da medicina. O bispo aponta que assim é com todas as outras ciências. No meio eclesial, dom Guilherme disse existir pessoas que muitas vezes fazem questão de mostrar que “sabem” e por isso também falam “difícil”.

“Todo mundo fica olhando admirado de toda a nossa ‘sabedoria e inteligência’, mas poucos conseguem compreender o que realmente estamos falando e explicando”, defende o religioso. Isto, para dom Guilherme, se estende aos documentos da Igreja. “Nossos documentos, livros, homilias são irretocáveis em sua exatidão, em seu português ou outra língua. Até fazemos questão de usar palavras difíceis do grego, latim, alemão, etc, sem no entanto, traduzi-las para uma linguagem do ‘feijão com arroz’.

Dom Guilherme faz uma pergunta: “Para que servem documentos se eles não são acessíveis e compreensíveis ao povo em geral? A proposta apresentada pelo bispo é retomar, na Igreja no Brasil, uma prática adotada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil nos anos de 1970 a 1980. À época se produzia, segundo o bispo, duas versões dos documentos da CNBB: uma numa linguagem oficial e para guardar para pesquisas e outra, numa versão de linguagem popular. O bispo lembra que houve um ensaio de tradução da Bíblia em linguagem popular e teve uma boa vendagem.

O bispo adverte, contudo, que defende esta ideia não como crítica aos teólogos que são, em sua avaliação, sumamente necessários e sua pesquisa e linguagem também o são, nem para criticar religiosos que são impecáveis em seus ensinamentos e homilias, numa precisão invejável. “Desejo apenas dizer que ao ensinar e pregar, o que é diferente que produzir documentos, temos, na minha opinião, sempre olhar para Jesus”, escreveu.

“Quando está com camponeses usa exemplos da roça e do campo; quando está com pastores ou criadores de ovelhas, fala de pastores, mercenários e ovelhas; quando está com pescadores, fala de rede, de pesca, de escolha de peixes bons e do que não tem valor no mercado e por isso são jogados fora; quando fala com as mulheres fala de farinha, de fermento, de moedas perdidas na casa e de varrer a casa até encontrar; quando fala com comerciantes fala de tesouros escondidos, de compra de campo em que possam estar riquezas”, escreveu.

Jesus, escreveu dom Guilherme, dizia as coisas difíceis de um modo fácil, numa linguagem fácil era entendida pelos discípulos e pelo povo em geral. “Falar para ninguém ou para poucos entender, é a mesma coisa que falar para as paredes ou para estátuas”, escreve dom Guilherme.

Dom Guilherme defende que a grande sabedoria é fazer-se entender. Este é um trabalho a ser buscado pela catequese e de nossa liturgia para cativar, fazer seguidores e motivar, tornado a religião e o evangelho a coisa mais saborosa e gostosa da vida. “As outras linguagens que o povo entende, arrastam nossos fiéis para outros rebanhos”, defende o bispo.

“Os estudos profundíssimos da teologia são absolutamente necessários para quem deve assumir ao missão de ensinar, conduzir e apascentar o Povo de Deus, mas todo este estudo é para traduzir tudo em linguagem do cotidiano do povo e não para mostrar, “eu sei”. Teses de doutorado são indispensáveis, estudos profundos são imprescindíveis, mas homilia é ou deveriam ser, a fala do Pai com sua família, com seus filhos”, conclui.

Fonte: CNBB

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