sexta-feira, 31 de julho de 2020
MAIS DE MIL PADRES E DIÁCONOS SE SOMAM AOS BISPOS CONTRA POLÍTICA DE BOLSONARO
Parte
do clero manifesta seu apoio à carta dos bispos contra política genocida
Mais de mil padres e diáconos lançaram, nesta quinta feira (30),
seu apoio à Carta ao Povo de Deus, documento inicialmente assinado por 152
bispos contrários à política do governo Bolsonaro. A nova manifestação define a
carta dos bispos como profética, profético, "oferecendo ao Povo de Deus
luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da história do
nosso país".
A carta de apoio aos bispos foi lançada com 1057 assinaturas.
Nela, os signatários se unem ao episcopado no grito por mudanças na política
nacional dizendo "que os que nos governam têm o dever de agir em favor de
toda a população, de maneira especial, os mais pobres". Em seu apoio, essa
parcela do clero define a iniciativa episcopal como "uma leitura lúcida e
corajosa da realidade atual à luz da fé".
Na nova carta, os padres e diáconos se dizem "profundamente
indignados com ações do presidente da República em desfavor e com desdém para
com a vida”. Diante disso, eles manifestam seu aceite ao convite dos bispos
para cuidar da vida humana e deste "país enfermo". Além disso,
solidarizam-se "com todas as famílias que perderam alguém por essa doença
que ceifa vidas e aterroriza a todos", consequência da falta de políticas
de combate do governo.
Ao fim do novo documentos, os signatários reafirmam "com
alegria, ânimo e esperança a fidelidade à missão a nós confiada e apoiamos os
bispos signatários da Carta ao Povo de Deus e em sintonia com a CNBB em sua missão de
testemunhar e fortalecer a colegialidade".
Baixe o arquivo da carta o leia aqui a íntegra:
"CAMINHAMOS NA ESTRADA DE JESUS"
CARTA DE PADRES EM APOIO E ADESÃO AOS BISPOS SIGNATÁRIOS DA
CARTA AO POVO DE DEUS
"Enquanto os
lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez
mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de
ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação
financeira. Às vezes, sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma
prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria
humana, que toquemos a carne sofredora dos outros" (EG 56 e 270).
Nós, "Padres da Caminhada", "Padres contra o
Fascismo", diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, empenhados
em diversas partes do Brasil a serviço do Evangelho e do Reino de Deus,
manifestamos nosso agradecimento e apoio aos bispos pela Carta ao Povo de Deus.
Afirmamos que ela representa nossos pensamentos e sentimentos. Consideramos um
documento profético de uma parcela significativa dos Bispos da Igreja Católica
no Brasil, "em profunda comunhão com o papa Francisco e seu magistério e
em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil",
oferecendo ao povo de Deus luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos
tão difíceis da história do nosso país.
O documento é uma leitura lúcida e corajosa da realidade atual à
luz da fé. É a confirmação da missão e do desafio permanente para a Igreja:
tornar o Reino de Deus presente no mundo, anunciando esperança e denunciando
tudo o que está destruindo a esperança de uma vida melhor para o povo. É como
uma grande tempestade que se abate sobre o nosso país. Os bispos alertam para o
perigo de que "a causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de
saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão
que se abate sobre os fundamentos da República", principalmente
impulsionado pelo presidente.
Sentimo-nos também interpelados por essa realidade a darmos
nossa palavra de presbíteros comprometidos no seguimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo. O Evangelho ilumina nossa caminhada e vamos aprofundando nosso
compromisso na Igreja, sinal e instrumento do Reino, a serviço da vida e da
esperança. Cada vez mais vemos a vida do povo sendo ameaçada e seus
sofrimentos, principalmente dos pobres, vulneráveis e minorias. Tal realidade
faz com que nossos corações ardam, nossos braços lutem e nossa voz grite pelas
mudanças necessárias. Como recordam os bispos, nós não somos motivados por
"interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer
outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus".
Os bispos muito bem expressaram em sua carta, recordando o santo
padre, o papa Francisco, que "a proposta do Evangelho não consiste só numa
relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida
como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos
necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria
consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33) (EG.
180)".
Sabemos que os que nos governam têm o dever de agir em favor de
toda a população, de maneira especial, os mais pobres. Não tem sido esse o
projeto do atual governo, que "não coloca no centro a pessoa humana e o
bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma "economia
que mata" (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a
qualquer preço". Por isso, também estamos profundamente indignados com
ações do presidente da República em desfavor e com desdém para com a vida de
seres humanos e também com a da "nossa irmã, a Mãe Terra", e tantas
ações que vão contra a vida do povo e a soberania do Brasil.
É urgente a reconstrução das relações sociais, pois "este
cenário de perigosos impasses, que colocam nosso país à prova, exige de suas
instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos
ideológicos fechados. […] Essa realidade não comporta indiferença.". A
CNBB tem se pronunciado de forma contundente em momentos recentes; em
posicionamento do dia 30 de abril, manifestou perplexidade e indignação com
descaso no combate ao novo coronavírus e por eventos atentatórios à ordem
constitucional. Em outro momento, os 67 bispos da Amazônia publicaram outro
documento, expressando imensa preocupação e exigindo maior atenção e cuidado do
poder público em relação à Amazônia e aos povos originários. Na carta aberta ao
Congresso Nacional do dia 13 de julho de 2020 a CNBB denunciou os 16 vetos do
presidente da República ao Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos
Territórios Indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades
tradicionais (PL nº PL 1142/2020, agora Lei nº 14.021) dizendo: "Esses
vetos são eticamente injustificáveis e desumanos pois negam direitos e
garantias fundamentais à vida dos povos tradicionais". Outras comissões da
CNBB assumiram decididamente o lado dos povos tradicionais do Brasil
"duplamente vulneráveis: ao contágio do coronavírus e à constante ameaça
de expulsão de seus territórios".
Nesse tempo de "tempestade perfeita", a voz do
Espírito ressoa em posicionamentos corajosos da Igreja, que renova a cada dia
seu compromisso "na construção de uma sociedade estruturalmente justa,
fraterna e solidária", como indicam os bispos em sua carta.
Reafirmamos nosso compromisso na defesa e no cuidado com a vida.
Ao convite dos bispos queremos dar nosso sim! "Somos convocados a
apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes
desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e
excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta."
Queremos nos empenhar para cuidar deste país enfermo!
Nós nos solidarizamos com todas as famílias que perderam alguém
por essa doença que ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos de atingir 100
mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste governo um
Ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo
coronavírus.
Conclamamos todos os cristãos e cristãs, as igrejas e
comunidades, e todas as pessoas de boa vontade para que renovem, junto com os
bispos, a opção pelo Evangelho e pela promoção da vida, espalhando as sementes
do Reino de Deus.
Nós, "Padres da Caminhada", "Padres contra o
Fascismo", diáconos permanentes e tantos outros padres irmãos, reafirmamos
com alegria, ânimo e esperança a fidelidade à missão a nós confiada e apoiamos
os bispos signatários da Carta ao Povo de Deus e em sintonia com a CNBB em sua
missão de testemunhar e fortalecer a colegialidade.
29 de julho de 2020
Dom Total/ Portal das Ceb's
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Parabéns a estes profetas corajosos. Boa tenham medo e não sejam cúmplices de injustiças
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