O AMOR NOS TORNA VULNERÁVEIS
- Pe. Júlio Lancelotti é um exemplo de amor ao
- próximo (Adonis Guerra/ Fotos Públicas)
Se
seguro na mão dos bons sentimentos já não sinto assim tantos golpes duros
O amor não nos torna
infalíveis. Antes o amor nos torna vulneráveis. Ainda mais nesses tempos de
culpas não expiadas, sentimentos colocados sob os tapetes, como se
escondêssemos sujeiras. Estamos tão expostos, tão com os nervos à flor da pele,
como balbucia a canção, que qualquer possibilidade de abraço se torna uma
conquista.
Queremos abraçar e
queremos ser abraçados nesse Titanic enquanto nem sequer uma orquestra tosca
executa um réquiem fajuto para nos tornar a travessia mais leve. Precisamos
ouvir coisas boas, ver coisas boas, tecer loas ao que deve ser louvado, mas
parece que não sobra ânimo nem tempo mesmo que pareça que o tempo esteja
preguiçoso e pandêmico ao nosso dispor.
Hoje , sinceramente,
não estou preocupado com exercício de estilo e nem tão pouco ficarei incomodado
se alguém disser que essas mal traçadas são um show de pieguice. Sentimental
demais, sim. Eu atravesso o coro dos descontentes para dizer que amar o outro,
infelizmente, nos torna vulneráveis na medida em que o que conta é você amar a
si próprio nessa eterna disputa a que somos submetidos todos os dias na
maldita sociedade de consumo.
Muitas vezes tenho
ouvido conceitos risíveis sobre o sucesso. Sucesso é ter alto salário, ser
fluente em inglês, viajar para o exterior todo ano, ter casa própria, carro
bacana, dinheiro para desperdiçar no fim de semana. Sucesso é o acumulo de
seguidores nas redes sociais, é a afinação e arte de exibir opulentas
conquistas amorosas, de exercer a mais profunda ignorância humanística contanto
que os resultados sejam compensadores.
Diante disso a maioria
de nós somos fracassados. Mas fracassado não é sinônimo para perdedor não.
Diante desses ganhos estúpidos prefiro ficar aqui com minha sina de
pseudo-perdedor a contemplar paisagens já vistas e outras que ambiciono ver.
Curtir à distância meia dúzia de crianças sorrindo e correndo num domingo
no parque . Ver um pica-pau amarelo debulhar um tronco exaurido. Sentir no
olhar do seu cão toda a ternura do mundo enquanto toma chá de camomila.
Estou transbordado de
emoções baratas porque estou ciente, a essa altura, do quanto o amor nos torna
vulneráveis. Ao mesmo tempo, se seguro na mão dos bons sentimentos já não
sinto assim tantos golpes duros mesmo com a guarda baixa. Me miro nos bons
exemplos e a maioria deles não usa farda. No momento em que redijo, o bom
exemplo vem de um sacerdote que sempre está do lado dos excluídos e que
inspirou essas linhas com seu raciocínio de que o amor não nos torna
infalíveis. É o padre Júlio Lancelotti, mais franciscano do que o mais
franciscano possa ser na medida em que não está dando para receber. Nem
perdoando para ser perdoado. Está derramando amor ao lumpesinato enquanto eu
que escrevo e você que lê só contempla. Ter amor a quem transborda amor não nos
transforma em infalíveis. E, sim, nos torna vulneráveis. A olhar as coisas boas
da existência e a dizer simplesmente um "sim" bendito. Sim ao dia
novo que começa, mesmo que você não queira, porque na verdade não queremos e
nem podemos nada diante do inevitável. Resta apenas saber se diante dele você é
um mero espectador ou alguém que participa. Ao menos com um olhar generoso
sobre os seus semelhantes diante de tanta iniquidade.
*Ricardo Soares é escritor, diretor
de tv, roteirista e joralista. Publicou 9 livros. O mais recente, 'Devo a eles
um romance' em pré-venda no site da editora Penalux em
www.editorapenalux.com.br
Fonte:domtotal.com
Parabéns ao padre Júlio. Um cristão de verdade. Hoje há muitos de fachada . Se escondem atrás das orações sem ação
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