domingo, 19 de julho de 2020

O QUE É PEQUENO É CAMINHO PARA O ENCONTRO DE DEUS





Para Jesus, a verdadeira metáfora de Deus não é o "cedro", que faz pensar em algo grandioso e poderoso, mas a "mostarda", que sugere o pequeno e insignificante (Unsplash/ Joshua Lanzarini)
Reflexão sobre o Evangelho do 16º domingo do Tempo Comum - Mt 13,24-43
Em geral, tendemos a procurar Deus no espetacular e no prodigioso, não no pequeno e insignificante. Por isso, resultava difícil aos galileus acreditarem em Jesus quando lhes dizia que Deus já estava trabalhando no mundo. Onde se poderia sentir seu poder? Onde estavam os "sinais extraordinários" de que falavam os escritores apocalípticos?

Jesus teve que ensiná-los a captar a presença salvadora de Deus de outra forma. Mostrou-lhes sua grande convicção: a vida é mais que o que se vê. Enquanto vamos vivendo de uma forma distraída, sem captar nada de especial, algo misterioso está acontecendo no interior da vida.

Jesus vivia com essa fé: não podemos experimentar nada de extraordinário, mas Deus está trabalhando no mundo. Sua força é irresistível. É necessário tempo para ver o resultado final. É necessário, sobretudo, fé e paciência para olhar profundamente a vida e intuir a ação secreta de Deus.

Talvez a parábola que mais os surpreendeu foi a da semente de mostarda. É a menor de todas, como a cabeça de um alfinete, mas com o tempo converte-se num belo arbusto. Em abril, todos podem ver bandos de pintassilgos abrigando-se nos seus ramos. Assim é o "reino de Deus".

A perplexidade teve que ser geral. Os profetas não falavam assim. Ezequiel comparava-o com um "cedro magnífico", plantado numa "montanha elevada e excelsa", que lançaria uma ramagem frondosa e serviria de abrigo a todos os pássaros e aves do céu. Para Jesus, a verdadeira metáfora de Deus não é o "cedro", que faz pensar em algo grandioso e poderoso, mas a "mostarda", que sugere o pequeno e insignificante.

Para seguir Jesus, não é necessário sonhar com coisas grandes. É um erro que seus seguidores procurem uma Igreja poderosa e forte que se imponha sobre os outros. O ideal não é o cedro no cimo de uma montanha alta, mas o arbusto de mostarda que cresce junto aos caminhos e acolhe os pintassilgos em abril.

Deus não está no sucesso, no poder ou na superioridade. Para descobrir sua presença salvadora, temos de estar atentos ao pequeno, ao comum e ao cotidiano. A vida não é apenas o que se vê. É muito mais. Assim pensava Jesus.

Publicado originalmente pelo Religión Digital e traduzido pelo IHU

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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