sábado, 24 de outubro de 2020

CÂNTICOS DE FÉ E ESPERANÇA: UMA RIQUEZA DO EVANGELHO DE LUCAS

Quando lemos o texto, à luz da análise narrativa, percebemos como discursos são recursos literários muito usados pelo narrador, para dizer, pela boca de importantes personagens, sua mensagem (Nathan Dumlao / Unsplash)
A riqueza da mensagem lucana revela como Lucas bem assimilou a experiência de fé e, com criatividade, tornou-se um eminente educador da fé


O Evangelho de Lucas é uma preciosidade. Bastante parecido, no esquema e no conteúdo, com os outros dois primeiros evangelhos, o de Mateus e o de Marcos, Lucas consegue manter uma originalidade bastante interessante: tem uma catequese própria e conservou tradições primitivas que os outros evangelistas provavelmente optaram por não conservar. 

O evangelista Lucas não foi discípulo ocular de Jesus: foi educado na fé por Paulo, de quem era companheiro de viagem. A riqueza da mensagem lucana revela como Lucas bem assimilou a experiência de fé e, com criatividade, tornou-se um eminente educador da fé.

Antes de se converter ao discipulado de Jesus, como membro do Caminho - maneira como, nos Atos dos Apóstolos Lucas chama a comunidade cristã -, o evangelista era pagão. Esse detalhe não é uma informação qualquer. Quem lê com atenção os escritos lucanos percebe como ele é inteirado da tradição judaica, como conhece a fé e os costumes de Israel e como é profundo conhecedor da Escritura Sagrada. Sem dúvidas, facilmente seria confundido com um bom judeu. 

Tudo isso só revela o quanto a convivência com Paulo foi frutuosa em seu itinerário de iniciação à fé, de modo que pôde interpretar a tradição judaica, para nela discernir o evento cristão, de uma maneira bastante aberta. Além disso, Lucas soube, muito bem, como dialogar com o mundo de sua época, a fim de ser coerente com a mensagem nuclear de seu evangelho: a salvação é para todos e todas!

No Dom Especial desta semana, nós lançamos o olhar para um ponto bastante específico no Evangelho de Lucas: os três cânticos que compõem a narrativa. Quando lemos o texto, à luz da análise narrativa, percebemos como discursos são recursos literários muito usados pelo narrador, para dizer, pela boca de importantes personagens, sua mensagem. 

Dessa forma, atentarmo-nos para os três cânticos, que são como que discursos, faz-se importante para apreender a mensagem catequética - no caso, a teologia - que o texto propõe. Os três artigos que compõem nosso Especial buscam, de maneira criativa e atual, ler essa teologia, de modo a nos ajudar a refletir sobre pontos importantes para a vida e missão cristã.

No Evangelho, os três cânticos são colocados na boca de personagens que representam a primeira Aliança, e que aguardavam, ansiosos, o cumprimento da salvação, prometida por Deus: Maria, Zacarias e Simeão. No primeiro artigo, Magnificat: o cântico profético e libertador de Maria, Rodrigo Ferreira da Costa reflete sobre o canto-grito de libertação dos empobrecidos e empobrecidas, pela mão bondosa e compassiva do Senhor, que não frustra a esperança de seu povo. Fabrício Veliq reflete, no artigo Benedictus: salvação e paz como promessa de Deus, sobre a personalidade companheira de Deus, que caminha junto a seu povo, trazendo luz para o caminho e cumprindo a promessa de paz. Por fim, refletindo sobre o terceiro cântico, Francisco Thallys Rodrigues, no artigo Louvar a Deus em nossa vida, chama a atenção para a sensibilidade de se perceber, com gratidão, a ação salvífica de Deus em nosso meio.

Boa leitura!

Domtotal
 
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário