quinta-feira, 22 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI: SOMOS TODOS IRMÃOS

A pandemia evidenciou a incapacidade de uma ação conjunta por parte dos países na solução para a um problema que é de todos
É preciso libertar o mundo do desejo do domínio de uns sobre os outros (Pixabay)

Élio Gasda*

São Francisco de Assis é considerado pela Igreja o santo da pobreza, aquele que reconhece na criação a presença de Deus. Foi junto ao seu túmulo, na cidade de Assis que outro Francisco, o papa, assinou a encíclica Fratelli Tutti. O documento sobre a fraternidade e a amizade social tem oito capítulos, 287 parágrafos e duas orações: ao Criador, e Cristã Ecumênica.

Um convite a ?fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita? (n.1).

Francisco, que iniciou os escritos antes da pandemia, confessa ter sido inspirado pelo santo que amava a tudo e a todos, semeava a paz e se vazia presente junto aos ?pobres, abandonados, doentes, descartados?. O pontífice propõe um mundo sem fronteiras, onde o amor e ajustiça superem as origens, a cor, a língua, a cultura e as religiões.

Ao relembrar os tempos vividos por São Francisco, um mundo cheio de muralhas, guerras sangrentas entre poderosos, e ao mesmo tempo a miséria crescente das periferias, o papa nos faz refletir sobre o século XXI. Quais são as muralhas contemporâneas? Quem são os poderosos que elas protegem? E as periferias e suas misérias, onde estão?

É preciso libertar o mundo do desejo do domínio de uns sobre os outros, dos conflitos que causam a fome, a desigualdade, que levam a migração de milhões, e os colocam em situação de escravidão moderna. Dar um basta à cultura do descarte e ao individualismo. É preciso dar dignidade humana ao outro, ao meu próximo, independente da sua posição geográfica. 

O papa reafirma que ?a fraternidade e a amizade social? sempre estiveram entre suas preocupações. Realmente, ganharam visibilidade quando abraçou os imigrantes em Lampedusa, no aperto de mãos entre Shimon Peres e Abu Mazen e no encontro com Imã Ahmad Al Tayyeb. Atos que nos fazem lembrar que somos todos irmãos em Deus e que a paz mundial deve ser nossa meta. Francisco assume que a encíclica ?reúne e desenvolve grandes temas expostos? na Declaração de Abu Dhabi, uma janela para o diálogo, aberta em 2019. Um diálogo religioso que torna Deus presente em todas as sociedades. As religiões a serviço da fraternidade.

De acordo com Francisco, o documento não é um resumo da doutrina do amor fraterno, mas sobre sua dimensão universal. É sua contribuição para que todos se animem a uma reflexão e sejam capazes de reagir, superar as várias formas de eliminar ou ignorar os outros. Passaremos ao largo dos feridos ou, como o Bom Samaritano, os acolheremos? O momento de escolher é agora.

A pandemia evidenciou a incapacidade de uma ação conjunta por parte dos países na solução para a um problema que é de todos. É preciso humanizar nossas conexões, muito além de ?melhorar os sistemas e regras já existentes?. O ser humano não tem fronteiras, podemos acolher, proteger, promover e integrar. Precisamos cuidar uns dos outros.

A fraternidade e a paz universal precisam do diálogo, de boas políticas e da vontade de todos. Só se chega ao bem comum com uma política que tenha como eixos a dignidade humana e a fraternidade, garantidora dos diretos universais básicos a todos. 

?Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (?); precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie, dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! (?). Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem os sonhos. Sonhemos ... cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos? (n.8). Fraternidade ou barbárie!

Todos são rostos diferentes da mesma humanidade amada por Deus.

Domtotal 

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