Ao enterrar os talentos, servo da parábola demonstra não saber o que é fidelidade ativa e criativa (Free Bible Images/Lumo Project)
Reflexão
sobre o Evangelho do 33º Domingo do Tempo Comum - Mateus 25,14-30
A parábola dos
talentos é um relato aberto que se presta a leituras diversas. De fato,
comentadores e pregadores interpretaram-na com frequência num sentido
alegórico, orientado em diferentes direções. É importante que nos centremos na
atuação do terceiro servo, pois ocupa a maior atenção e espaço na parábola.
A sua conduta é
estranha. Enquanto os outros servos se dedicam a fazer frutificar os bens que
lhes confiou o seu senhor, o terceiro não lhe ocorre nada melhor do que
"esconder debaixo da terra" o talento recebido para o conservar
seguro. Quando o senhor chega, condena-o como servo "negligente e
preguiçoso" que não entendeu nada. Como se explica o seu comportamento?
Este servo não se
sente identificado com o seu senhor nem com os seus interesses. Em nenhum
momento atua movido pelo amor. Não ama o seu senhor, tem-lhe medo. E é
precisamente esse medo que o leva a agir procurando a sua própria segurança.
Ele mesmo explica tudo: "Tive medo e fui esconder o meu talento debaixo da
terra".
Este servo não entende
em que consiste a sua verdadeira responsabilidade. Pensa que está respondendo
às expectativas de seu senhor, conservando o seu talento seguro, mas
improdutivo. Não sabe o que é uma fidelidade ativa e criativa. Não se envolve
nos projetos do seu senhor. Quando este chega, diz-lhe claramente: "Aqui
tens o teu".
Nestes momentos em
que, ao que parece, o cristianismo de não poucos chegou a um ponto em que o
primordial é "conservar" e não tanto procurar com coragem caminhos
novos para acolher, viver e anunciar o seu projeto de reino de Deus, temos de
escutar atentamente a parábola de Jesus. Hoje diz-nos a nós.
Se nunca nos sentimos
chamados a seguir as exigências de Cristo além do que sempre é ensinado e
ordenado; se não arriscamos nada para fazer uma Igreja mais fiel a Jesus; se
nos mantemos alheios a qualquer conversão que nos possa complicar a vida; se
não assumimos a responsabilidade do Reino, como o fez Jesus, procurando
"vinho novo em odres novos", é que necessitamos de aprender a
fidelidade ativa, criativa e arriscada à qual nos convida a sua parábola.
Publicado
originalmente por Religión Digital e traduzido pelo IHU
*José Antonio Pagola é padre e tem
dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o
Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade
Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto
Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de
Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na
Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor
do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San
Sebastián.
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