'Nos
comprometemos a viver os melhores anos das nossas energias e inteligência para
que a economia do Francisco seja cada vez mais 'sal e fermento da economia de
todos'' (Naassom Azevedo / Unsplash)
A
economia é importante demais para a vida dos povos e dos pobres para que todos
não nos ocupemos disso
Iniciar processos,
traçar percursos, alargar horizontes, criar pertenças é o desafio lançado por
papa Francisco aos participantes do evento Economia de Francisco encerrado no
último dia 21. Em vídeo-mensagem afirmou:
"É tempo de ousar
o risco de favorecer e estimular modelos de desenvolvimento, de progresso e de
sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos, entre os
quais a Irmã Terra, deixem de ser uma presença meramente funcional, para se
tornar protagonistas de sua vida, assim como de todo o tecido social. Não
pensemos por eles, mas com eles. As injustiças, as desigualdades e a exclusão
são intoleráveis. A cultura do descarte deve ter os seus dias contados. Ninguém
tem o direito de se sentir mais humano do que outro".
Por tão poucos terem
tanto, é que tantos tem tão pouco. Os 20% mais ricos da população mundial
concentram 96% da riqueza. Imprescindível construir alternativas que superem o
modelo de produção, de consumo e de concentração de riqueza capitalista.
Do local ao global é
necessário repensar a economia, para além do dinheiro, da exploração do outro e
da degradação ambiental. Uma economia do suficiente em termos materiais,
rejeitando a ideologia do crescimento econômico ilimitado. Renunciar à tentação
do consumo em consideração as futuras gerações e os limites dos
ecossistemas.
Na Declaração Final e Compromisso comum, os participantes do
evento expressaram sua convicção de que não se constrói um mundo melhor sem uma
economia melhor. E que a economia é importante demais para a vida dos povos e
dos pobres para que todos não nos ocupemos disso.
Em nome dos jovens e
dos pobres da Terra, eles apresentaram uma lista de exigências:
"Que as grandes
potências mundiais e as grandes instituições econômico-financeiras desacelerem
a sua corrida para deixar a Terra respirar. A corrida desenfreada está
asfixiando a Terra e os mais fracos;
Ativação de uma
comunhão mundial das tecnologias mais avançadas para que, também nos países de
baixa renda, as produções sejam sustentáveis;
Superação da pobreza
energética - fonte de disparidade econômica, social e cultural - para realizar
a justiça climática;
Que a custódia dos
bens comuns (como a atmosfera, as florestas, os oceanos, a terra, os recursos
naturais, os ecossistemas, a biodiversidade, as sementes) seja colocada no
centro das agendas dos governos e do ensino nas escolas, universidades, business
schools do mundo inteiro;
Proibição do uso de
ideologias econômicas para ofender e descartar os pobres, os doentes, as
minorias e os desfavorecidos de todos os tipos;
Respeito e garantia ao
trabalho digno para todos, os direitos da família e todos os direitos humanos
sejam respeitados em cada empresa, para cada trabalhadora e cada trabalhador;
Abolição imediata dos
paraísos fiscais no mundo inteiro;
Criação de novas
instituições financeiras mundiais e reforma democrática das existentes (Banco
Mundial, Fundo Monetário Internacional) para que ajudem o mundo a se reerguer
das pobrezas;
Adoção nas empresas e
nos bancos de um comitê ético independente em sua governança com direito a veto
em matéria de meio ambiente, justiça e impacto sobre os mais pobres;
Oferecer uma educação
de qualidade para cada menina e menino por parte de Estados, empresas e
instituições internacionais;
Dever das organizações
econômicas e instituições de assegurar as mesmas oportunidades e direitos às
trabalhadoras".
"Nós, jovens, não
toleramos mais que sejam retirados recursos da escola, da saúde, do nosso
presente e futuro para fabricar armas e alimentar as guerras para vendê-las.
Queremos dizer aos nossos filhos que a guerra acabou para sempre.
Nos comprometemos a
viver os melhores anos das nossas energias e inteligência para que a economia
do Francisco seja cada vez mais 'sal e fermento da economia de todos'".
Uma economia que
proteja as pessoas e a Casa Comum! Esse é o novo horizonte econômico para um
mundo devastado pelo capitalismo. Que a Economia de Francisco seja o primeiro
passo de uma grande travessia.
*Élio Gasda é doutor em Teologia,
professor e pesquisador na Faje. Autor de: 'Trabalho e capitalismo global:
atualidade da Doutrina social da Igreja' (Paulinas, 2001); 'Cristianismo e
economia' (Paulinas, 2016)
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