segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O ESPÍRITO DA PROFECIA É O TESTEMUNHO DE JESUS

Desconfiguração do cristianismo tem sua origem na perda do núcleo original da mensagem cristã (Unsplash/Aaron Burden)

Um cristianismo que redescubra Jesus superará desconfiança que paira sobre cristãos

Qualquer zapeada na TV ou mudança aleatória de estação de rádio nos faz perceber que a pregação com pretensão cristã segue viva. Cristãos e cristãs estão em toda parte, falando a respeito de sua fé. No início da pandemia no Brasil, vimos o estardalhaço de lideranças religiosas por causa do fechamento das igrejas; a reclamação também se deu por parte dos fiéis. Muitas igrejas continuaram a funcionar, clandestinamente, nesse período. Talvez a primeira impressão que tenhamos, com isso, seja de uma efervescência da fé cristã, em nossa atualidade. Mas, será que o que acontece que a mensagem cristã seja vista, por um número cada vez mais crescente de pessoa, com desconfiança ou desdém?

Essa não é uma questão que se responda de maneira rápida. Há um longo processo que nos trouxe até esse contexto em que nos inserimos. De nossa parte, vamos nos deter num aspecto que contribui para a elaboração da resposta: a perda do núcleo original da mensagem cristã, como base sólida para a formação de cristãos e cristãs comprometidos com o Evangelho. Nas muitas pregações que se pode ouvir, bem como na linguagem cotidiana dos fiéis, Jesus está presente. A questão que se coloca, no entanto, é qual a imagem de Jesus que sustenta esses discursos.

Uma pauta irrenunciável para o cristianismo contemporâneo é o de resgatar aquele Jesus dos Evangelhos. Esse é um ponto de insistência ao qual não devemos nos furtar, se queremos bem viver nossa missão cristã. Os muitos avanços teológicos, na área da cristologia, precisam alcançar com efetividade o terreno da pastoral e da pregação. Redescobrir o Jesus dos evangelhos, bem como a pedagogia com a qual ele viveu sua missão, para situá-los em nossa contemporaneidade é um exercício evangelizador que precisa tocar, por primeiro, aqueles cristãos e cristãs que não foram bem inseridos no processo de educação da e para a fé.

Não conseguiremos resgatar o espírito da profecia, que nos coloca na denúncia dos poderes da morte e no anúncio vivencial do Reinado de Deus, se não nos engajarmos na formação de qualidade de verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus. Para isso, só um retorno à inspiração evangélica de quem é Jesus trará efetividade a essa empresa. Esse processo precisa ser feito olho-no-olho, de modo personalizado, de modo que abandonemos as pretensões de uma religião de massa, que nos descaracteriza em nossa singularidade, porque tudo se torna fragmentário em demasia.

O espírito da profecia é o testemunho de Jesus, é o que nos diz o Apocalipse (cf. 19,10). Uma vida testemunhal só será possível se nascer de um encontro transformador com o Jesus dos evangelhos. Esse Jesus, sim, é digno de fé. Esse Jesus propõe sentido à vida e um novo olhar sobre o mundo e a realidade. Um cristianismo que redescubra esse Jesus, Morto-Ressuscitado, conseguirá superar a desconfiança que paira sobre os cristãos e cristãs, quando vistos pelas pessoas que estão fora desse círculo. Testemunho: palavra forte que transforma. Assumamos o nosso, como verdadeira profecia do Reinado de Deus!

Domtotal

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas 'Imprevisto' (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com

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